Publicado 10 de março de 2018Última atualização 12 de junho de 2020
Nem só de riesling vivem as vinícolas da Alemanha. Conheça as principais variedades de uvas brancas cultivadas no país, incluindo uma joia que ainda não foi descoberta e uma especialmente aromática.
Anúncio
Quando o assunto é etílico, a Alemanha é conhecida internacionalmente não apenas pela cerveja e pelo destilado de ervas Jägermeister, mas também pelo vinho – sobretudo o branco. Em 2013, os vinhos brancos corresponderam a 64,5% da área dedicada à vinicultura na Alemanha.
O riesling é o mais famoso e o favorito deles – merecidamente –, mas há uma série de outras variedades de uvas brancas que são cultivadas no país. Confira as principais:
Riesling
Produzido há séculos no país, é hoje o principal vinho exportado pela Alemanha, considerada a terra natal da variedade. Cerca de metade das uvas riesling produzidas no mundo estão em solo alemão. Há plantações de riesling de norte a sul da Alemanha, e o vinho da região vinícola de Mosel, às margens do rio Mosela, é considerado um dos melhores.
O riesling pode ter graduações alcoólicas variadas: desde delicadamente frutado, com cerca de 10% de álcool, passando por vinhos secos complexos, com até 14% de graduação alcoólica.
No passado, o riesling doce predominava no mercado, mas aos poucos as vinícolas passaram a investir também em vinhos mais secos. Os rieslings secos (trocken) e meio-secos (halbtrocken) combinam sobretudo com pratos leves, como peixe e aves. As variações mais doces harmonizam com queijo fresco. O halbtrocken é meu favorito.
O riesling típico tem uma coloração amarela desbotada, tendendo para um amarelo esverdeado. Essa variedade de uva é uma das mais aromáticas, remetendo principalmente a pêssegos e maçãs. À medida que o vinho amadurece, desaparecem os aromas de frutas e vêm à tona as notas minerais.
A origem do riesling é um mistério. Alguns dizem que foi trazido à Alemanha pelos romanos. Os primeiros registros sobre a variedade datam do século 15, das regiões alemãs do Rheingau e do Mosel.
Rivaner
Também denominada müller-thurgau, esta variedade está presente em sete das 13 regiões vinícolas da Alemanha, ocupando cerca de 13% da área de cultivo total. As principais regiões produtoras são Rheinhessen, Baden e Palatinado (Pfalz).
Quando o vinho traz a denominação rivaner ou müller-thurgau no rótulo, pode-se esperar um vinho seco, relativamente jovem, leve e fresco. De coloração amarelo-palha até amarelo-claro, este vinho é fácil de beber. Daqueles para se beber no dia a dia.
Riesling, vinho alemão por excelência
O Riesling é o favorito entre os vinhos alemães. Produzido há séculos no país, é o principal vinho exportado pela Alemanha.
Foto: Weingut Robert Weil
Graduações variadas
O Riesling pode ter graduações alcoólicas variadas. Desde delicadamente frutado, com cerca de 10% de álcool, passando por vinhos secos complexos, com até 14% de graduação alcoólica. As uvas colhidas mais tarde ou passificadas podem ter uma graduação de álcool de apenas 6%.
Foto: Weingut Robert Weil
Vinho aromático
O sabor de um Riesling começa pelo nariz. Aliás, esta variedade de uva é uma das mais aromáticas. Ela se assemelha principalmente com nectarinas, damascos, maçãs e peras. Crucial para isso é a idade. À medida que o vinho amadurece, desaparecem os aromas de frutas e vêm à tona as notas minerais.
Foto: Viktorija Fotolia
Origem desconhecida
"Ninguém sabe de onde o Riesling vem", diz o jornalista especializado Rudolf Knoll. Ao contrário da origem de muitas outras castas, a procedência do "rei do vinho alemão" não está esclarecida. Enquanto alguns dizem que ele foi trazido pelos romanos, outros garantem que ele surgiu na cidade de Worms, onde a uva foi citada em um documento de 1490.
Foto: Weingut Robert Weil
Exportação para 130 países
Em 2016, a Alemanha exportou cerca de um milhão de hectolitros de vinho no valor de 288 milhões de euros para 130 países. Considerando que a casta Riesling é a mais importante, perfazendo 35% da área dedicada a uvas de vinho branco no país, este vinho também é o mais exportado, principalmente para os Estados Unidos e a Holanda.
Foto: Deutsches Weininstitut (DWI)
"O Nome da Rosa"
O mosteiro Eberbach é uma propriedade que faz parte do grupo de vinícolas do estado de Hessen. Com uma área de 200 hectares, o grupo detém a maior área vinícola da Alemanha. Em 75% do espaço, é cultivado o Riesling. O mosteiro fundado em 1136 tem uma rica história. Ele serviu até de cenário para o filme "O Nome da Rosa", de 1986, com Sean Connery.
Foto: picture-alliance/dpa
Colinas de videiras
A menor área vinícola – e ao mesmo tempo a mais ao norte da Alemanha – fica na Saxônia. Há 800 anos, crescem aqui, numa área de apenas 450 hectares, castas de vinhos brancos, especialmente Riesling. Aos vinhos desta região os conhecedores atestam caráter e acidez frutada.
Qualidade imperial
Desde o final do século 19, o Riesling vem ganhando cada vez mais importância nas cortes europeias, em detrimento do Bordeaux. Muitos cardápios daquela época mencionam vinhos Riesling da propriedade Dr. Weil, da região de Rheingau, cujos vinhos foram servidos na viagem inaugural do dirigível "Graf Zeppelin LZ 127" em 1928, e que ainda hoje constam do cardápio do hotel de luxo Adlon, em Berlim.
Foto: Weingut Robert Weil
ABC Movement
Há cerca de dez anos, amantes do vinho nos EUA começaram a questionar seu vinho favorito, o Chardonnay, para eles excessivamente comercial. Isso resultou num movimento chamado "ABC" ("Anything But Chardonnay", ou "qualquer coisa, menos Chardonnay"). E quem saiu ganhando foi o Riesling. Um fato positivo para os produtores alemães, que plantam 50% da área mundial de Riesling.
Foto: Deutsches Weininstitut (DWI)
Consumo na Alemanha
Há plantações de Riesling de norte a sul da Alemanha. Além de estar muito bem adaptado a todas as regiões vinícolas da Alemanha, o Riesling resiste a baixas temperaturas, de até -20 ºC. Segundo o Instituto Alemão do Vinho (DWI), o consumo alemão de vinho ao ano é de cerca de 20 litros per capita.
Foto: Weingut Robert Weil
Riesling tinta
Este é um cacho da rara variedade tinta de Riesling, que teriam dado origem às atuais Riesling brancas. A família Allendorf, da região de Oestrich-Winkel, no estado de Hessen, é uma das poucas produtoras de vinho branco a partir desta uva.
Foto: picture-alliance/dpa/F.v. Erichsen
10 fotos1 | 10
Com algumas exceções, trata-se de um vinho que não se deve armazenar por muito tempo. O sabor é melhor nos primeiros anos após a colheita. Costuma ter aroma floral e levemente frutado, com notas de noz-moscada – o que o deixa levemente doce, mesmo quando se trata de um vinho seco.
Segundo o Instituto Alemão do Vinho (Deutsches Weininstitut), a origem desta variedade remete ao professor Hermann Müller, do cantão suíço de Thurgau, que cultivou a variedade de uva numa área dedicada a pesquisa, a partir de um cruzamento de riesling e madeleine. Já o nome rivaner, seria uma junção das palavras riesling e silvaner, variedades que por muito tempo foram consideradas as raízes do müller-thurgau.
Grauburgunder
Também chamado de grauer burgunder ou pinot gris, corresponde a 5,5% da área dedicada à vinicultura no país. A região de Baden é a que mais produz a variedade na Alemanha.
Quando jovem, um grauburgunder de seco a meio-seco é leve e ótimo para o verão. Variações mais secas vão bem com frutos do mar, massa, cordeiro, carne de caça e queijos moles maduros. Quando doce, o vinho combina com sobremesas com mel, amêndoas ou marzipã.
O pinot gris da Alemanha é mais delicado e floral que o cultivado na Itália. A cor varia de amarelo-palha a dourado. Costuma ter aromas de nozes, manteiga e de frutas, como pera, passas, abacaxi e frutas cítricas.
Weissburgunder
Também conhecido como weisser burgunder ou pinot blanc, este vinho é cultivado sobretudo em Baden, seguido por Rheinhessen e Palatinado. Corresponde a 4,7% da área de produção alemã.
Assim como o grauer burgunder, costuma ter aroma de nozes, maçã, pera, damasco, frutas cítricas e abacaxi. Fácil de beber, vai bem com frutos do mar, peixe, vitela, carne de porco e ave. A cor do vinho é geralmente amarelo-claro.
Anúncio
Silvaner
Cultivado há mais de 350 anos na Alemanha, o silvaner ocupa cerca de 5% da área vinícola do país. As regiões de Rheinhessen e Francônia (Franken) correspondem, juntas, a mais de três quartos da variedade produzida em solo alemão.
Um vinho descomplicado, o silvaner pode ser considerado um dos grandes vinhos alemães que ainda não foram descobertos pelo grande público. Costuma ter aroma de ervas ou groselhas e acidez moderada. Harmoniza com aspargos ou peixe. Quando cultivado em solos mais pesados, pode ganhar um aroma de peras maduras e alcachofras.
O nome da variedade é curioso. Cientistas já especularam se silvaner remeteria à Transilvânia ou a Silvan, uma pequena cidade na Ásia. Hoje, análises genéticas revelaram que se trata de um cruzamento entre traminer – umas das variedades de uva mais antigas de que se tem conhecimento – e österreichisch weiß, da Áustria, o que indica que o silvaner tem suas raízes nos Alpes.
Gewürztraminer
Originário da Alsácia, este vinho ocupa menos de 1% da área de produção vinícola da Alemanha. Mas decidi falar sobre ele porque, depois que o conheci, ele passou ao posto de meu vinho favorito, antes ocupado pelo riesling.
De cor amarelo-dourado, o gewürztraminer é famoso por seu aroma excepcional – frutado (com notas de lichia, por exemplo), florado e toques de especiarias, como canela e gengibre. Em alemão, gewürz significa tempero.
A uva chama a atenção pela cor rosada da casca. O gewürztraminer costuma ser indicado como aperitivo ou na harmonização com pratos apimentados, sobremesas ou queijos fortes.
Além da Alsácia e da Alemanha – Palatinado, Baden, Rheinhessen e Saxônia –, o vinho também é cultivado no Tirol, na Austrália e na Califórnia.
Toda semana, a coluna Pitadas traz receitas, curiosidades e segredos da culinária europeia, contados por Luisa Frey, jornalista aspirante a mestre-cuca.
As regiões vinícolas da Alemanha
O outono é tempo de vinho. Nas 13 regiões vitivinícolas alemãs, chegou a hora da colheita, extração do mosto, vinificação, engarrafamento. Um passeio pelo mundo do riesling, spätburgunder, silvaner e companhia.
Foto: picture-alliance/dpa/F.v. Erichsen
Rheinhessen
Maior região vinícola alemã, Rheinhessen fica no oeste do país e se estende por 26 mil hectares, no triângulo entre as cidades de Mainz, Bingen e Worms. A tradição se iniciou no século 8º, e atualmente apenas cinco dos 136 municípios da região não produzem vinho. Rheinhessen é, por exemplo, a terra dos brancos riesling e rivaner, e do tinto dornfelder.
Foto: picture-alliance/dpa/F.v. Fredrik von Erichsen
Rheingau
Há seis diferentes regiões vitivinícolas ao longo do Rio Reno, entre elas Rheingau, conhecida pelo riesling, que ocupa quase 80% de suas terras, e o spätburgunder (ou pinot noir). Tudo começou no mosteiro de Eberbach, fundado por monges cistercienses da Borgonha, que trouxeram a arte da vitivinicultura para a região compreendida entre Hochheim e Lorch.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Mittelrhein
A partir da cidade de Bingen, onde o Reno desenha uma curva mais pronunciada, começa o Vale do Médio Reno (Mittelrhein). Aí o leito do rio fica mais estreito e penetra no espetacular Maciço Renano. A viticultura define a paisagem, com vinhedos em terraço que se estendem até as portas de Bonn. Em 2002, a região foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kleefeldt
Pfalz
Uma região vinícola dos superlativos. O maior festival de vinho e o maior barril do mundo se encontram em Bad Dürkheim. E a primeira rota vinícola da Alemanha, a Deutsche Weinstrasse, atravessa o Palatinado (Pfalz). Seus 85 quilômetros interligam 130 vinícolas entre Bockenheim e Schweigen, na fronteira com a França. Todos os anos, a Rainha do Vinho alemã é eleita aqui, em Neustadt.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach
Franken
A garrafa abaulada, conhecida como "bocksbeutel" (saco de bode), é marca registrada do vinho da Francônia (Franken). Mas jovens vinicultores locais também tomam a direção contrária, deixando de lado todos os floreios românticos e apresentando seu produto em modernas vinotecas. Nessa região no centro-sul da Alemanha produz-se vinho há mais de 1.200 anos. Um dos preferidos é o branco rivaner.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Karmann
Mosel
Uma questão de ângulo: com 380 metros de altura e uma inclinação de até 68 graus, o Calmont é o vinhedo mais íngreme da Europa. A região vinícola de Mosel, às margens dos rios Mosela, Saar e Ruwer, é a mais antiga da Alemanha. Graças aos romanos, que levaram a vitinicultura para lá 2 mil anos atrás. O riesling feito na região é considerado um dos melhores da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Rumpenhorst
Baden
Banhada pelo sol, a terceira maior vinícola do país segue pelo Reno desde o Lago de Constança, no sul, até a cidade de Mannheim. Baden é a região mais quente do país. Por isso, suas uvas alcançam a pontuação mais alta na escala Oechsle, que mede a concentração alcoólica natural. A área é a principal fornecedora no país da casta spätburgunder (pinot noir).
Foto: picture-alliance/dpa/R. Haid
Württemberg
Nessa região vinícola com centros em Stuttgart e Heilbronn, o vinho é uma espécie de bebida nacional: Württemberg ostenta o dobro do consumo per capita frente ao restante da Alemanha. No festival anual de enologia Stuttgarter Weindorf, uma das especialidades é o tinto trollinger. Não por acaso, a cidade é maior produtora da bebida em todo o país.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kraufmann
Ahr
Com apenas 560 hectares, a escarpada região vinícola do Vale do Ahr é uma das menores do país. Sua rota do vinho tinto se estende por 35 quilômetros ao longo do rio Ahr, de Bad Bodendorf a Altenahr. Para quem decide percorrê-la na época da vindima, não faltam incentivos ao longo do caminho, como as provas de vinhos e os "winzervesper" – jantares oferecidos após cada jornada da colheita.
A área vinícola mais setentrional da Alemanha acompanha os rios Saale e Unstrut, e vai até os 51 graus de latitude, o limite natural para a vinicultura. Graduações Oechsle como na ensolarada Baden são impensáveis: os vinhos regionais apresentam-se bem secos, as safras são modestas. Ainda assim, os vinicultores aprenderam a extrair o máximo da natureza, com resultados excelentes e grande demanda.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Sachsen
Como Saale-Unstrut, a região vinícola da Saxônia (Sachsen) fica no antigo território da Alemanha comunista, e ganhou novo impulso com a Reunificação, em 1990. Uma de suas especialidades são espumantes como o da adega Schloss Wackerbarth, a segunda mais antiga do gênero no país. Em meados de agosto, dezenas de produtores da região abrem suas adegas e vinhedos para provas e visitas.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Gammert
Nahe
A região do rio Nahe fica entre o Mosela e o Reno. De porte modesto, seus cerca de 4 mil hectares produzem castas como a riesling, silvaner e rivaner (também denominada Müller-Thurgau). Para conhecer a área, duas boas opções são a idílica Rota Vinícola do Nahe ou a ciclovia regional. Já os amigos das caminhadas longas têm como opção a belíssima Rota do Reno-Nahe, com 100 quilômetros de extensão.
Foto: picture-alliance/dpa/F.v. Erichsen
Hessische Bergstrasse
Ao norte de Heidelberg passa a Rota das Montanhas de Hesse (Hessische Bergstrasse). Uma particularidade dessa região vinícola é comportar, em seus meros 452 hectares, 233 tipos de solo diferentes. Consequentemente, os vinhos se distinguem de um local para outro. Nenhuma dessas raridades chega ao comércio, sendo todas vendidas – e consumidas – in loco.