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ConflitosOriente Médio

Otan é criticada no Oriente Médio por escritório na Jordânia

Cathrin Schaer
17 de julho de 2024

Será primeiro escritório da aliança militar no Oriente Médio. Mas decisão da Jordânia, país próximo do Ocidente e que mantém relações estáveis com Israel, de aceitar sediar representação foi criticada na região.

Rei Abdullah aperta a mão do secretário-geral da Otan do lado de fora da sede da organização
Rei Abdullah, da Jordânia, se reúne com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em novembro, em BruxelasFoto: NATO

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) informou, em cúpula realizada em Washington na semana passada, que a Jordânia deve se tornar a sede de seu primeiro escritório no Oriente Médio.

"A abertura de um escritório de ligação da Otan em Amã é uma evolução natural do relacionamento de longa data entre a Otan e a Jordânia", disse um comunicado à imprensa. A organização também reconheceu a Jordânia "como um farol de estabilidade nos contextos regional e global".

Nem todos viram as coisas de forma tão positiva no Oriente Médio.

"A traição corre em suas veias", comentou uma pessoa baseada na Argélia em uma publicação no Facebook sobre a notícia do novo escritório. "Como você explica apertar a mão daqueles que matam seus irmãos em todos os lugares?"

"A Jordânia foi vendida sem que um tiro fosse disparado", acrescentou outro usuário, também da Argélia.

"Onde estão as pessoas livres da Jordânia? Eles concordam com isso?", comentou uma pessoa da Tunísia.

A ideia do escritório da Otan também motivou uma série de teorias da conspiração. Alguns especulam que a aliança militar, que congrega 32 países, deve agora querer se envolver ativamente em conflitos em Gaza ou no Líbano em nome de Israel.

Essa não é a primeira vez nos últimos meses que a Jordânia é alvo desse tipo de crítica. Em abril, depois que o Irã lançou drones e mísseis contra Israel, o país desempenhou um papel significativo na defesa contra o ataque.

A Jordânia disse que estava apenas protegendo seu próprio espaço aéreo, mas isso foi visto como problemático por muitos jordanianos. Uma em cada cinco pessoas no país, incluindo a rainha, é descendente de palestinos, e o desejo palestino de se formar um Estado é uma causa cara a muitos.

Na realidade, entretanto, a Jordânia – onde a dissidência política é frequentemente reprimida pela família real no poder – tem um relacionamento próximo e focado no tema da segurança com o vizinho Israel, o que raramente é comentado dentro da própria Jordânia.

Há décadas, o país também colabora com a Otan e com os Estados Unidos, um importante aliado em várias atividades militares e de defesa.

A aliança militar não respondeu a um questionamento da DW sobre quando o escritório deve começar a funcionar. No entanto, não deve estar muito longe: um recente anúncio de emprego da Otan, que buscava um chefe para o escritório de ligação, estabeleceu o dia 25 de agosto como prazo final para as inscrições.

Protesto contra a guerra em Gaza em Amã, capital da JordâniaFoto: Alaa Al Sukhni/REUTERS

Otan impopular

Apesar da proximidade com Gaza, o novo escritório de ligação da Otan na Jordânia não tem nada a ver com o conflito no país, disseram especialistas à DW.

"Apesar do tremendo aumento das hostilidades na região – Israel-Hamas, é claro, mas também o Hezbollah no Líbano, os houthis, o Irã e assim por diante – a decisão da Otan foi certamente planejada há muito tempo e não é uma reação aos conflitos atuais", disse à DW Jonathan Panikoff, diretor da Iniciativa de Segurança do Oriente Médio Scowcroft, parte do Programa do Oriente Médio do Conselho do Atlântico.

Um escritório da Otan em Amã estava sendo discutido desde julho de 2023, muito antes do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e da subsequente campanha militar israelense em Gaza.

O conflito em Gaza possivelmente acelerou o planejamento do escritório, de acordo com Isabelle Werenfels, pesquisadora sênior da divisão de África e Oriente Médio do Instituto para Assuntos Internacionais e de Segurança, com sede em Berlim. "Mas não acho que a Otan tenha qualquer apetite para se aproximar do conflito no Oriente Médio", disse à DW.

Além disso, o novo escritório de ligação não é a primeira incursão da Otan no Oriente Médio. A organização já tem uma ampla gama de parcerias na região.

Treino militar coordenado pela Otan na Jordânia para desarmar explosivosFoto: NATO

Escritório em Amã é significativo e simbólico

Apesar de toda a indignação online, qual é a importância real desse escritório de ligação da Otan em Amã?

Do ponto de vista da Otan, ele pode ser visto como um marco significativo, disse H.A. Hellyer, membro sênior da Fundação para a Paz Internacional Carnegie.

"Isso mostra que a Otan está interessada em enfatizar que o mundo mudou e que está comprometida em mostrar engajamento com parceiros no Oriente Médio", disse. "Considerando o alcance da Rússia na região também, isso faz sentido para a Otan."

"Um escritório de ligação coloca em ação uma estrutura diferente e significa que a Jordânia terá uma cooperação mais direta em várias áreas de interesse compartilhado, como gestão de crises, segurança cibernética, mudanças climáticas e outras", acrescentou Hellyer.

Do ponto de vista da região, isso deve ser visto mais como um "grande negócio simbólico" no momento, concordaram Werenfels e Panikoff. Mas tem o potencial de crescer no futuro.

"O centro regional da Otan [Iniciativa de Cooperação de Istambul (ICI)] no Kuwait já uniu os países da região", disse Werenfels, que fez parte do grupo de especialistas independentes que assessora a organização na região.

"A Jordânia é um território bastante neutro no mundo árabe. Portanto, acho que a questão agora é: qual será o tamanho desse escritório [em Amã] ao longo do tempo? E até que ponto ele trabalhará com outros atores regionais, especialmente do norte da África?"

Mesmo as nações que não querem ser vistas como próximas da Otan estão interessadas em algumas das ofertas da aliança, observou Werenfels.

"Durante anos, a Jordânia enfrentou uma infinidade de pressões políticas, econômicas e de segurança", disse à DW. "Qualquer aumento em qualquer uma delas é provavelmente uma ameaça maior do que uma cooperação ligeiramente aprimorada com a Otan."