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Otto Warmbier, uma tragédia americana na Coreia do Norte

Esther Felden av
20 de junho de 2017

Morte do estudante de 22 anos, após 17 meses de detenção por motivos obscuros no país asiático, lança questão sobre possíveis consequências, desde setor de turismo até Casa Branca.

Otto Warmbier se apresenta a tribunal em Pyongyang, em 16/3/2016
Otto Warmbier se apresenta a tribunal em Pyongyang, em 16/3/2016Foto: picture alliance/AP/J. Chol Jin

Nos Estados Unidos, o clima entre os amigos e familiares de Otto Warmbier, nesta segunda-feira (19/06), é de luto pela morte do estudante de 22 anos, de horror pelo que aconteceu com ele na Coreia do Norte e de solidariedade com a família.

Todos os meios de comunicação noticiaram detalhadamente sobre o caso e as numerosas questões que ainda estão em aberto.

"Os pensamentos da comunidade universitária estão com a família e os amigos de Otto Warmbier. Notícia simplesmente devastadora. Que ele agora descanse em paz" foi a mensagem no Twitter de Allen Groves, decano estudantil da Universidade da Virgínia, que o jovem frequentava.

Apenas algumas semanas atrás, sua classe festejava a formatura na McIntire School of Commerce. A essa altura, Warmbier estava preso na Coreia do Norte. No dia dos exames finais, seus colegas o haviam recordado, distribuindo adesivos com o apelo "Free Otto".

No site da universidade, o decano da faculdade, Carl Zeithaml, comentou que essa morte foi "uma perda monstruosa" para os colegas de Warmbier, o qual "permanecerá para sempre uma parte importante do ano universitário de 2017".

Prisão e morte misteriosas

Ainda estão por esclarecer tanto as circunstâncias da detenção de Warmbier quanto o que levou a sua morte, após 17 meses de cárcere. Certo está apenas que, ao ser repatriado para os EUA, ele tinha graves lesões cerebrais e estava inconsciente.

Pai Fred Warmbier manifestou alegria contida após a repatriação de OttoFoto: REUTERS/B. Woolston

Em março de 2016, o estudante, que viajara para a Coreia do Norte com um grupo de turistas, foi condenado a 15 anos de detenção num campo de trabalhos forçados por furtar um cartaz de propaganda de seu hotel e por "crimes contra o Estado". Segundo seus pais, que sustentam acusações graves a Pyongyang, mais ou menos desde essa época Warmbier estaria em coma.

Segundo as autoridades norte-coreanas, o detento americano teria contraído botulismo e, depois de ingerir tranquilizantes, não acordou mais. Em 12 de junho último, o governo o libertou "por motivos humanitários", enviando-o de volta para os EUA. Os exames médicos não corroboraram as alegações de Pyongyang.

Numerosos políticos já se pronunciaram sobre o caso, em especial o presidente Donald Trump, segundo o qual "muitas coisas ruins" aconteceram, mas pelo menos foi possível trazer Otto de volta para seus pais. O regime norte-coreano é brutal, prosseguiu o chefe de Estado, mas seu país saberá dar a resposta adequada. Qual, exatamente, será essa resposta, Trump não disse.

Três presos ainda restam

Em comunicado, o senador do Arizona e ex-candidato presidencial republicano John McCain afirmou que a Coreia do Norte é uma ameaça para seus vizinhos, desestabilizando toda a região e desenvolvendo em ritmo acelerado a tecnologia que lhe permitirá atingir o solo dos EUA com armas nucleares.

"Otto Warmbier foi morto pelo regime de Kim Jong-un. Em seu último ano de vida, ele sofreu o mesmo pesadelo no qual o povo norte-coreano está preso há já 70 anos: trabalhos forçados, fome, violência sistemática, tortura e assassinato." Os EUA não podem e não devem tolerar o assassinato de cidadãos americanos, completou McCain.

No site do Departamento de Estado, após transmitir seus pêsames à família Warmbier, o secretário Rex Tillerson declara: "Responsabilizamos a Coreia do Norte pela pena de prisão ilícita de Otto Warmbier e exigimos a libertação de três outros americanos lá detidos atualmente de forma ilegal."

Dois deles foram presos em maio de 2017, acusados de "atos hostis", ambos funcionários da Pyongyang University of Science and Technology, instituição de elite mantida no país por cristãos protestantes. O terceiro é um negociante e missionário cristão nascido na Coreia do Sul. Ele foi preso em 2015 por espionagem, entre outras acusações, e condenado a dez anos de trabalhos forçados.

Retorno de Warmbier foi saudado pelos moradores locais no aeroporto de CincinnatiFoto: Reuters/B. Woolston

Turismo perigoso

Como os EUA reagirão ao caso Warmbier? Uma vez que uma operação militar colocaria em perigo as vidas dos três reféns remanescentes, é mais provável que, de início, o governo endureça ainda mais as sanções existentes.

O Washington Post considera também cogitável a proibição de viagens turísticas para o país asiático. Segundo o jornal, na semana anterior o secretário de Estado propôs na Câmara dos Representantes um decreto nesse sentido, e estaria em consideração introduzir restrições de vistos aos cidadãos americanos.

Tal decisão naturalmente afetaria as agências internacionais de turismo que oferecem viagens para a Coreia do Norte – um nicho bastante lucrativo para o setor. Em dezembro de 2015, Warmbier viajava pela agência chinesa Young Pioneer Tours, que se manifestou chocada pela morte do estudante, tendo torcido até o fim por uma recuperação.

"A terrível perda nos levou a rever nossas diretrizes", afirmou a empresa de turismo, que durante todo o encarceramento do americano teria tentado contatá-lo ou visitá-lo, sem sucesso. Como o risco para os americanos se tornou grande demais, a empresa deixará de organizar roteiros para a Coreia do Norte.

Mudança de política no ramo turístico

Em fevereiro de 2016 – portanto pouco após a prisão de Warmbier – a DW publicou um artigo sobre o turismo na Coreia do Norte. Nesse contexto, entrevistou Andrea Lee, fundadora da Uri Tours. Há mais de 15 anos, a empresa sediada em Nova York e Xangai oferece pacotes de viagem para aquele país asiático. A segurança é prioridade máxima, e nunca houve problemas, enfatizou Lee na ocasião.

Sua central está em contato constante com seus intermediários no país, ninguém pode deixar o hotel sozinho e todos devem permanecer junto aos respectivos guias. Assim, segundo a empresária, a Coreia do Norte seria um destino turístico seguro, onde os viajantes não têm que temer apuros enquanto se ativerem às regras sobre as quais foram anteriormente informados.

O governo americano, porém, não vê a questão assim, e há um bom tempo desaconselha de viajar à nação comunista. Desde novembro de 2015 consta no site do Departamento de Estado: "Visitantes estrangeiros podem ser presos na Coreia do Norte ou deportados por coisas que em outros países não seriam consideradas atos criminosos."

Nenhum turista americano está seguro no país, prossegue o órgão governamental. "Não pensem que o fato de integrar um grupo de viagem ou um guia os protegerá ou impedirá as autoridades norte-coreanas de detê-los. As tentativas de operadores particulares de evitar prisões ou de mediar não tiveram sucesso e não levaram a uma libertação."

Também para a Uri Tours, o caso Otto Warmbier parece ter acarretado uma mudança de política. Interpelada pela DW, ninguém estava disponível para uma entrevista, e a agência simplesmente se reportou à própria declaração oficial: "Foi uma tragédia dilacerante que deveria ter sido evitada. Diante das ocorrências mais recentes, a Uri Tours está reestudando seu posicionamento quanto a viagens à Coreia do Norte para cidadãos americanos. Em relação a esse tema, não daremos nenhuma entrevista."

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