Ouça o momento em que as armas da 1ª Guerra silenciaram
Richard Connor
9 de novembro de 2018
No centenário do fim do conflito, o Imperial War Museum exibe o som do campo de batalha minutos antes da entrada em vigor do armistício. Registros visuais dos ruídos foram reconstruídos para compor áudio.
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Os termos de paz haviam sido acordados seis horas antes, mas o barulho estrondoso do fogo pesado de artilharia – e seu potencial de dar fim a mais uma vida humana – continuou até o último momento.
Esses estrondos nunca foram gravados, mas existe um registro visual do som. No momento mesmo em que o armistício entrava em vigor, às 11h, os soldados aliados usavam técnicas avançadas de "rastreio sonoro" para detectar a localização do inimigo. Em vez de gravar, o sistema registrava a intensidade do ruído num rolo de filme fotográfico, semelhante ao modo como um sismógrafo registra tremores de terra.
O Imperial War Museum do Reino Unido, que tinha em seu acervo uma coleção de discos gráficos denominada The end of the war, pediu que especialistas da empresa londrina de acústica Coda to Coda utilizassem o registro fotográfico – do front americano no rio Mosela – para reproduzir uma paisagem sonora do momento do armistício. Agora, é possível ouvi-lo.
Will Worsley, diretor da Coda to Coda, explica: "Este documento da Primeira Guerra nos dá uma grande visão de quão intensa e caótica a barreira de tiros deve ter sido para aqueles que lutavam no front ocidental."
Conjuntos de microfones colocados distantes uns dos outros, eram usados para detectar o som de uma determinada peça de artilharia. O som de qualquer arma grande sendo disparada era captado por todos os microfones, mesmo que a quilômetros de distância, porém em momentos diferentes. Sabendo-se a posição dos microfones e as diferenças de tempo, era possível detectar onde a arma estava.
"Esperamos que nossa interpretação de áudio dessa técnica de rastreamento sonoro permita aos visitantes se projetarem naquele momento da história e obterem uma compreensão de como o fim da Primeira Guerra Mundial pode ter soado", diz o especialista.
A peça completa, de três minutos, documenta os sons entre 10h58 e 11h01 de 11 de novembro de 1918. Os visitantes do Imperial War Museum, em Londres, podem ouvi-lo na íntegra. A instalação, parte da temporada de exibições Making a New World, destaca uma barra sonora na qual os visitantes podem colocar os cotovelos para experimentar tanto as vibrações como o som daquele momento.
A Grande Guerra na Bélgica
"Expo 14-18. Essa é a nossa história: Exposição na Bélgica". Mostra no Museu belga das Forças Armadas o destino do país de pequena extensão, que foi palco de uma das mais sangrentas batalhas de todos os tempos.
Foto: DW/B. Riegert
Canhões falam...
Após o fracasso da política e da diplomacia, as grandes potências europeias se enfrentaram em território belga. O país, ocupado pelos alemães, se transformou num campo de batalha. A mostra "Expo 14-18. Esta é a nossa história", em Bruxelas, relembra o conflito que aconteceu há 100 anos.
Foto: DW/B. Riegert
Luta entre dois líderes
O imperador alemão Guilherme 2° (ao centro, em pé) enfrenta o próprio parente, o rei da Bélgica, Alberto 1° (à direita). Ligações familiares não ajudaram. Alberto 1° se transforma em herói de guerra e Guilherme 2° acaba perdendo o poder. A Primeira Guerra Mundial significou, para a Bélgica, o duelo entre estes dois homens (Foto de 1910).
Foto: DW/B. Riegert
Ultimato
O imperador alemão ameaçou, no dia 2 de agosto de 1914, invadir a Bélgica. Na imagem, o despacho escrito a mão, que hoje se encontra no Ministério do Exterior em Berlim. O rei Alberto 1° ignorou o ultimato. Os alemães atacaram e ocuparam a Bélgica quase toda até 1918. O próprio rei Alberto lutou na frente de guerra. Por fim, ele recebeu a ajuda de britânicos e norte-americanos.
Foto: DW/B. Riegert
Mapa do horror
Na exposição em Bruxelas, o chão está pintado com os mapas das cidades e frentes de guerra. Num contêiner multimídia, há informações sobre a invasão alemã e a batalha às margens do rio Yser. Os visitantes se movem na penumbra, enquanto dos alto-falantes se ouvem tiros.
Foto: DW/B. Riegert
"Ninguém queria esta guerra"
Elie Barnavi, professor emérito de história de Tel Aviv, assessorou os organizadores da exposição. Segundo ele, ninguém queria essa guerra que destruiu a Bélgica e a tornou um país ocupado. Mas nenhum líder impediu o conflito, completa Barnavi. Muitos inocentes sofreram – isso fica claro na mostra "Expo14-18".
Foto: DW/B. Riegert
Guerra de trincheira
Em trincheiras, como nesta réplica, soldados dos dois lados se enfrentavam. Eles sacrificaram suas vidas em ataques vãos. A frente de guerra se manteve praticamente sem mudanças durante quatro anos.
Foto: DW/B. Riegert
Tédio entre uma batalha e outra
A principal atividade dos soldados era esperar pelo próximo ataque, às vezes durante semanas. Alguns usavam o tempo para construir figuras ou modelos de tanques a partir de explosivos e restos de metal. Assim surgiu uma espécie de "arte das trincheiras".
Foto: DW/B. Riegert
Guerra de gases tóxicos
As tropas alemãs usaram, em 1915, nas proximidades de Ypern, gases tóxicos pela primeira vez. Os soldados belgas tentaram se proteger com óculos, lenços ou máscaras de gás. A substância tóxica e fatal foi usada depois disso em todas as batalhas, deixando um saldo de 1,2 milhão de feridos e 90 mil mortos.
Foto: DW/B. Riegert
Entre ruínas
A exposição mostra também que muitas cidades belgas ficaram completamente destruídas. Aqui, os visitantes da exposição se locomovem literalmente entre as ruínas de Ypern. Nas projeções na parede, os números de mortos, feridos e desterrados.
Foto: DW/B. Riegert
Ocupadores
O general alemão que administrava o país exigia obediência ao extremo. A população era intimidada com detenções e abastecimento precário. Mesmo assim, havia resistência em parte de Flandres. Mas houve também colaboradores.
Foto: DW/B. Riegert
Suvenires macabros
Em dezembro de 1915, os ocupadores alemães decoraram as árvores de Natal com bolas coloridas em forma de bombas e explosivos. E colocaram nelas os nomes das cidades belgas atacadas e destruídas.
Foto: DW/B. Riegert
Explosivos transformados em vasos
Depois do fim da guerra, artistas belgas transformaram os restos de munições, encontradas por todos os lados, em vasos. Uma arte singular do momento pós-guerra. Depois da libertação, os belgas partiram do princípio de que aquela "Grande Guerra" teria sido a última. Eles nem imaginavam que em 1940 a Alemanha viria a invadir e ocupar o país de novo.
Foto: DW/B. Riegert
Aprendizado
Um século depois da eclosão da Primeira Guerra Mundial, a exposição pergunta ao visitante: "E você? O que teria feito?". As respostas podem ser dadas de maneira interativa. "Há guerra justa? Por que causa você morreria hoje?" – estas são algumas das perguntas voltadas sobretudo para o público jovem da mostra.
Foto: DW/B. Riegert
Papoulas de lembrança
Papoulas estilizadas estão à disposição do visitante que quiser levar uma para casa. Com uma delas na lapela, os belgas relembram o horror da Primeira Guerra Mundial. A cor remete ao sangue nos campos de batalha. Papoulas vermelhas floresciam sobre as sepulturas dos soldados mortos.