Oxfam denuncia abusos da polícia francesa contra migrantes
15 de junho de 2018
ONG alerta contra tratamento desumano dado a crianças refugiadas na fronteira com a Itália, onde centenas permanecem sem assistência nem recursos básicos.
Anúncio
A organização de direitos humanos Oxfam denunciou nesta sexta-feira (15/06) uma série de abusos cometidos por policiais franceses contra migrantes na fronteira do país com a Itália.
Os migrantes fazem parte do grande número de refugiados que chegaram a solo italiano após passarem por campos de migrantes na Líbia e realizarem a perigosa travessia do Mar Mediterrâneo. Ao tentar atravessar a fronteira, rumo a outros países da Europa, eles acabam sendo vítimas de abusos. Crianças de até 12 anos de idade sofreram maus tratos físico, foram presas e devolvidas à força à Itália, segundo as denúncias da Oxfam.
O relatório da entidade surgiu em meios ao agravamento das tensões entre Itália e França, que tiveram como foco o episódio envolvendo o navio de migrantes Aquarius, proibido pelo governo italiano de atracar nos portos do país ao transportar 629 migrantes resgatados de embarcações vulneráveis no Mediterrâneo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a acusar o governo italiano de agir com cinismo e irresponsabilidade, levando Roma a exigir desculpas formais de Paris.
Segundo a Oxfam, no período de nove meses até abril, 16.500 migrantes, um quarto dos quais, menores desacompanhados, passaram pela pequena cidade de Ventimiglia, a sete quilômetros da fronteira entre Itália e França.
As crianças se queixaram de "abusos verbais e físicos, e passavam a noite detidas em celas sem comida, água nem cobertores, e sem a assistência de guardiões", o que violaria as leis da França e da União Europeia.
Os funcionários e parceiros da Oxfam contam que, em alguns casos, os guardas de fronteira cortaram a sola dos sapatos das crianças e as obrigaram a voltar a pé para a Itália, ou retiraram os cartões SIM de seus telefones celulares.
"Num dos casos, uma migrante muito jovem da Eritreia foi forçada a caminhar de volta da fronteira por uma estrada sem acostamento, carregando seu bebê de 40 dias", prossegue o relatório.
A maioria dos migrantes que chegam á Itália através do Mediterrâneo fogem da pobreza ou de conflitos em países como a Eritreia, Síria e Afeganistão. Muitos tentam se dirigir a outros países europeus, para se reunir com parentes ou amigos.
"Desde que a França reforçou o controle de suas fronteiras em 2015, milhares se viram presos em Ventimilglia, sem assistência suficiente nem acesso aos serviços básicos", alerta a Oxfam. "Centenas de refugiados dormem em más condições sob um viaduto, sem acesso a água potável, abrigo ou aquecimento."
"Os policiais franceses não fazem valer as normas internacionais. Eles insultam e maltratam crianças", acusou Chiara Romagno, diretora do projeto OpenEurope da Oxfam em Ventimiglia. "A determinação das pessoas de chegarem até seus entes queridos em outros países e a falta de segurança e de caminhos regulares não lhes deixa alternativa que não seja tentar até conseguir."
A Oxfam pediu que Paris adote medidas contra as "práticas ilegais da polícia francesa na fronteira franco-italiana" e conceda o direito de buscar asilo a todas as crianças estrangeiras em território francês, fornecendo os cuidados adequados, em obediência às regulamentações nacionais e europeias, e às leis internacionais.
RC/afp/ap
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac