O programa Lixo Zero faz um alemão se sentir em casa. Ele pode não resolver o problema, mas passa a sensação de que as autoridades no Rio de Janeiro não têm preocupações piores.
Foto: Dario de Dominicis
Anúncio
Uma das coisas mais alemãs no Rio de Janeiro, minha cidade anfitriã, é o programa Lixo Zero. Sou um grande fã. Desde a Copa do Mundo, as duplas do Lixo Zero rodam por Copacabana, Ipanema e outras partes nobres da cidade. São formadas por um empregado da companhia Comlurb – na maioria das vezes de olhar inseguro e ombros encolhidos – e por um policial da guarda municipal, armado de revólver e cassetete.
As duplas do Lixo Zero levam consigo uma mini-impressora para multas, que são emitidas toda vez que alguém joga uma lata de cerveja no chão (170 Reais), uma "tupperware" para farofa (425 Reais) e assim por diante. Lembram-me um pouco de Don Quixote e Sancho Pança, dois heróis improváveis, à procura de aventuras impossíveis sem desistir jamais. Entretanto, na maioria das vezes, vejo que ficam de preferência nos cantinhos com sombra e descansam de suas aventuras. Não sei se o Lixo Zero resolve o problema do lixo, mas com certeza passa a sensação de que as autoridades no Rio de Janeiro não têm outros problemas piores.
Jogar lixo no lixo é uma coisa que não causa o menor desconforto para um alemão. Nisso somos campeões. Famílias alemãs fazem separação de lixo em quatro recipientes diferentes, nossos jardins cheiram a composto orgânico, dirigimos de uma ponta a outra da cidade só para entregar as baterias usadas. Fazemos passeios de fim de semana no depósito de lixo. Não é piada. Quando queremos jogar alguma coisa grande fora, levamos lá. Os empregados nos dão instruções: "O lustre tem que ser jogado no compartimento número 10.2, mas, por favor, tirem a lâmpada primeiro, que a lâmpada tem que ser jogada no compartimento 11.8!" Acredito que alguns alemães nunca apreciem a natureza por estarem ocupados com seu lixo.
O programa Lixo Zero faz um alemão se sentir bem no Rio de Janeiro. Encontrei-me recentemente com um deputado de Berlim em Copacabana. Ele olhou tudo com interesse, muitas coisas daqui lhe pareceram estranhas e incomuns, mas aprovou o Lixo Zero com entusiasmo. Fomos a uma lanchonete com uma dupla do programa, pedimos sucos e discutimos longamente: sobre o lixo, o meio ambiente e as pessoas estúpidas que jogam papel e latas no chão. Por que fazem isso? Será que não pensam no planeta? Reinava a harmonia entre o deputado alemão e os empregados da Comlurb. Mas não obtiveram respostas satisfatórias para suas perguntas.
Alguns dias depois passei por uma festa de aniversário infantil no Rio. Estavam comemorando ao ar livre, na área de brinquedos de um parque público. Babás sacolejavam os pequenos convidados, as crianças comiam gelatina e cachorro quente, era uma festa para crianças de classe média. Uma mulher, que não tinha nada a ver com o aniversário, estava passeando no parque. Tinha a pele escura e não usava roupas chiques. Um menino de cerca de nove anos gritou para ela da festa: "Abre o lixo para mim!" A mulher olhou o menino, sorriu, abriu a tampa da lixeira. O menino mirou e jogou.
O saco de plástico com o cachorro quente meio mordido dentro caiu bem ao lado da lixeira. "Droga", disse o menino e desapareceu na sua festa. A mulher pegou o saco de plástico no chão e o jogou no lixo.
Thomas Fischermann é correspondente para o jornal alemão Die Zeit na América do Sul. Em sua coluna Pé na Praia, faz relatos sobre encontros, acontecimentos e mal-entendidos – no Rio de Janeiro e durante suas viagens. Pode-se segui-lo no Twitter e Instagram: @strandreporter.
Dez hábitos curiosos dos alemães
A Alemanha é associada a uma série de estereótipos. Mas o povo alemão não se resume a salsicha e cerveja. Conheça alguns costumes, do jantar frio à pressa no supermercado.
Foto: sabelfoto13 - Fotolia.com
Silêncio, hoje é domingo!
Você pode até pensar que domingo é o dia da semana perfeito para finalmente riscar algumas tarefas da sua lista, como passar aspirador ou pregar uma nova prateleira na parede. Mas na Alemanha, domingo é "Ruhetag", ou seja, dia de descanso. Isso significa que, além de as lojas ficarem fechadas, o martelo tem que ser posto de lado, pois os vizinhos podem reclamar do barulho.
Foto: DDRockstar - Fotolia.com
Feche a janela
Os alemães odeiam correntes de ar, que chamam de "Luftzug". Diz a sabedoria popular que o ar fresco que entra por uma janela pode te deixar doente. Médicos até dão atestados a seus pacientes por um torcicolo ou uma gripe ligados à corrente de ar. Então, lembre-se, mesmo no verão, todas as portas e janelas devem ficar fechadas.
Foto: iTake Images - Fotolia.com
Não sopre a velinha antes da hora
Dizer "feliz aniversário" a um alemão antes do dia pode provocar olhares de recriminação ou até ofender. Para a maioria dos alemães, dar os parabéns antes da hora dá azar. Eles simplesmente não conseguem entender por que alguém comemoraria antes da data. Tudo bem celebrar a partir da meia-noite do aniversário, mas nunca antes disso.
Foto: pressmaster - Fotolia.com
Cozinha na mudança
Para muitos estrangeiros em busca de um apartamento na Alemanha, pode surpreender o fato de a cozinha nem sempre vir junto com o imóvel. Quando os alemães se mudam, eles levam tudo consigo, deixando apenas os canos na parede para os próximos inquilinos. Fogão, geladeira, balcão, armários e às vezes até mesmo a pia são levados para a casa nova.
Foto: 1506965 - Fotolia.com
Pressa no supermercado
Ir às compras na Alemanha exige agilidade. Ao passar pelo caixa, o funcionário do supermercado registra os produtos em alta velocidade. Como consumidor, então, é preciso correr contra o tempo para empacotar as coisas que vão se acumulando após o caixa, antes que caiam no chão. E não olhe para trás, pois aqueles que aguardam na fila vão olhar feio se você não for rápido o suficiente.
Foto: picture-alliance/dpa
Água precisa ter gás
Se você pedir água num restaurante, o garçom provavelmente irá trazer água com gás. Os alemães adoram o líquido com bolhinhas e o misturam com tudo – de suco de maçã a vinho. Toda bebida misturada com água com gás se torna um "Schorle". Um alemão nunca serviria água da torneira para um convidado, apesar de potável, pois isso seria deselegante. A água precisa ter gás ou pelo menos ser engarrafada.
Foto: mdxphoto - Fotolia.com
Sim e obrigado
Confuso, não? Eis um exemplo: quando lhe perguntarem em alemão se você gostaria de mais um pouco daquela deliciosa cerveja, se você disser "obrigado" ("danke"), isso será interpretado como "não, obrigado". Se você quiser mais, diga "por favor" ("bitte"), que nesse contexto significa "sim, por favor". Caso contrário você poderá ficar com sede.
Foto: fotodesign-jegg.de - Fotolia.com
Almoço quente, jantar frio
Os alemães chamam o jantar de "Abendbrot", ou seja, "pão da noite". Isso porque eles preferem uma refeição quente e caseira no almoço e algo rápido e frio no jantar – como pão com queijo, presunto e vegetais. Quase todos os locais de trabalho, pequenos ou grandes, têm uma cantina para servir o apreciado almoço. Assim, ninguém fica sem a comida quente.
Foto: Marén Wischnewski - Fotolia.com
Traduzir do inglês para o inglês
Uma coisa é dublar filmes do inglês para o alemão. Na Alemanha, todos os atores americanos têm até um dublador específico. Mas às vezes os nomes dos filmes em inglês também são traduzidos – não para alemão, mas para um inglês mais simples. Por exemplo, o filme "Bring it On" foi chamado de "Girls United" na Alemanha. "Maid em Manhattan" (foto) é "Manhattan Love Story". Por quê? Boa pergunta.
Foto: picture-alliance/dpa
Tire a roupa!
Acredita-se que a chamada "Freikörperkultur" (FKK), ou seja, a cultura do corpo livre ou naturismo, tenha surgido na Alemanha. Muitos alemães adoram tirar a roupa numa praia FKK e curtir o sol à la Adão e Eva. Não importa a idade, a aparência ou a companhia, em locais FKK e na sauna – mista ou não – é melhor ficar pelado. Ou você será visto como o estranho estrangeiro pudico.