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Países europeus culpam Alemanha pelo aumento da conta de luz

Timothy Rooks
23 de dezembro de 2024

Inverno está causando impacto na produção de energia renovável e nos preços da eletricidade na União Europeia; alta recorde na Alemanha em dezembro impactou todo o bloco, levantando críticas sobre sistema.

Torres de transmissão de energia na Alemanha
O mercado europeu de eletricidade é enorme e amplamente interligado, e conta cada vez mais com fontes de energia renováveisFoto: Karl-Josef Hildenbrand/dpa/picture alliance

Existe um termo em alemão para o período do ano em que a produção de energia eólica e solar sofre o seu maior baque, porque não há luz solar e vento o suficiente: Dunkelflaute, algo como "calmaria escura".

Na Europa, o preço da energia elétrica tem atingido recordes, e o impacto do inverno na produção de renováveis – cada vez mais presentes na matriz energética europeia – tem sido apontada como uma das culpadas pela alta. Alguns países europeus, porém, passaram também a responsabilizar a Alemanha pelos aumentos na conta de luz. 

Como as empresas ainda não podem armazenar grandes quantidades de eletricidade, a energia deve ser usada no momento em que é gerada. No passado, o mercado de energia europeu era estabilizado pela energia produzida por usinas de combustíveis fósseis ou nucleares.

A introdução de mais matrizes renováveis no sistema traz mais volatilidade. À medida que a porcentagem de renováveis aumenta, cresce também a dependência do sol inconstante e do vento intermitente.

Sem o sol, os painéis solares ficam no escuro. A falta de vento impede que as turbinas eólicas girem. Na Europa, esse é um fenômeno que geralmente acontece no inverno, época em que é necessária mais energia para se manter aquecido.

No inverno, com uma produção renovável menor, outras fontes de eletricidade precisam ser exploradas, o que pode levar a picos de preços em curto prazo. Às vezes, isso significa importá-la de outros países.

No momento, o efeito Dunkelflaute é altamente relevante para os preços, "mas para as médias anuais não tem muita importância", disse Mathias Mier, economista do Centro para Energia, Clima e Recursos (ifo), em Munique. "No futuro, isso poderá ter um impacto maior, mas é papel dos governos e dos mercados conduzir o sistema em direções que minimizem os impactos da 'Dunkelflaute'", acrescentou.

Contratos de longo prazo protegem maioria dos consumidores

Embora a maioria dos consumidores de eletricidade na Alemanha tenha contratos de longo prazo com garantias de preço, outros são mais sensíveis a variações, especialmente fabricantes industriais que pagam taxas diárias flutuantes por eletricidade.

Em termos gerais, esses preços são determinados pelo tipo de fornecimento, pelos custos de manutenção e investimento na rede, pelos impostos e pelos custos de tecnologias limpas e de reserva, explica Conall Heussaff, analista de pesquisa do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas.

Heussaff, que investigou os preços de energia e o desenho do mercado de eletricidade, disse à DW que a oferta e a demanda também são fatores, mas mais a curto prazo. Um sistema de energia limpa como o da União Europeia levará a preços médios mais baixos na maioria dos períodos, com breves períodos de preços muito altos no mercado livre.

Como os painéis solares funcionam?

01:55

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Noruega e Suécia se queixam

Neste ano, a Alemanha passou por alguns períodos de Dunkelflaute. Um deles foi especialmente impactante, pois o país precisou de mais eletricidade de outros lugares do que o normal para atender à demanda. Isso puxou os preços internos e no exterior, já que a eletricidade vai para onde há demanda e o preço são mais altos.

Na madrugada de 12 de dezembro, um megawatt-hora de eletricidade custava 107 euros (US$ 112), mas rapidamente subiu para 936 euros, de acordo com dados coletados pelo Agora Energiewende, um think tank sobre energia. No dia seguinte, o preço voltou a cair, atingindo uma baixa de pouco menos de 115 euros.

Embora os preços tenham se normalizado rapidamente, as reações da Escandinávia foram imediatas. O ministro de energia da Noruega, Terje Aasland, disse que estava considerando cortar as conexões de energia compartilhada com a Dinamarca, enquanto outros na Noruega querem renegociar as conexões existentes com a Alemanha e o Reino Unido, informou o jornal britânico Financial Times (FT).

A ministra de energia da Suécia, Ebba Busch, disse que só estaria aberta a uma nova conexão por cabo submarino com a Alemanha se a Alemanha reformulasse seu mercado de eletricidade para proteger os consumidores suecos e seu acesso à energia barata.

O apelo por mais nacionalismo no setor de eletricidade está em conflito direto com a meta da União Europeia de um mercado integrado de eletricidade. Se os países garantirem preços baixos a seus consumidores antes de enviar eletricidade para o exterior, isso prejudicará o sistema e dificultará o alcance das metas climáticas.

Quão conectado está o mercado de eletricidade europeu?

"De modo geral, o mercado de eletricidade da Europa é profundamente interconectado fisicamente e harmonizado institucionalmente, especialmente considerando que é uma coleção de muitos Estados-nação diferentes", disse Heussaff. É a segunda maior rede elétrica sincronizada do planeta, depois da China.

Mathias Mier concorda que o mercado europeu é bem conectado, ressaltando que "quase uma em cada sete unidades de eletricidade é comercializada entre fronteiras".

Para a Comissão Europeia, a construção dessa infraestrutura energética transfronteiriça é uma prioridade. Isso reduzirá a dependência das importações. Também garantirá um melhor acesso à energia e ajudará a atingir as metas do Acordo Verde Europeu de emitir 55% menos gases de efeito estufa até 2030 em comparação com os níveis de 1990 – o que tornaria a Europa o primeiro continente neutro em emissões de carbono até 2050.

Em 2023, energias renováveis foram a principal fonte de eletricidade da UE. Elas representaram 44,7% da matriz energética do bloco, um aumento de 12% em comparação com 2022, de acordo com o Eurostat, a agência oficial de estatísticas da UE.

A energia nuclear foi responsável por quase 23% da produção de eletricidade, enquanto os combustíveis fósseis representaram outros 32%.

Ao mesmo tempo, a Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, adverte que o consumo de eletricidade deverá aumentar em cerca de 60% até 2030. Mais preocupante ainda é o fato de que 40% das redes de distribuição têm mais de 40 anos de idade, o que torna mais difícil lidar com o aumento da demanda e com a adição de mais energias renováveis, como painéis solares nos telhados.

Para ajudar a coordenar os investimentos necessários, a UE criou as Redes Transeuropeias de Energia. Essas políticas têm o objetivo de facilitar o planejamento e o licenciamento da infraestrutura de energia transfronteiriça, incluindo eletricidade. 

Tecnologia para diminuir o uso de combustíveis fósseis

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Como o mercado europeu de eletricidade pode melhorar?

Há muito o que melhorar em um sistema tão complexo como o mercado europeu de eletricidade. No entanto, fazer com que os países concordem, invistam e sigam adiante é um grande obstáculo. Para Mathias Mier, o maior desafio são "os preços locais que refletem a real escassez de demanda e oferta, combinados com a possibilidade de resposta à demanda".

Conall Heussaff compartilha da opinião. Até o momento, os preços da eletricidade evoluíram de forma desigual na Europa, diz ele. Algumas regiões têm a sorte de contar com recursos renováveis, como energia eólica, solar ou hidrelétrica, o que lhes dá uma vantagem de preço. Mas a energia acessível em toda a Europa é essencial para a competitividade.

Para reduzir os preços na Europa de forma mais geral, Heussaff tem três sugestões: incentivar a flexibilidade do lado da demanda para responder às mudanças nas condições, uma melhor coordenação europeia para investimentos transfronteiriços e mais conexões físicas entre os países para compartilhar recursos energéticos.