Em declaração conjunta após cúpula de emergência, membros da Organização para a Cooperação Islâmica pedem que outros países apoiem esse reconhecimento em reação à decisão de Trump.
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Os 57 países da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) reconheceram nesta quarta-feira (13/12) Jerusalém Oriental como "capital da Palestina" e pediram que outros países façam o mesmo em reação ao reconhecimento unilateral do presidente americano, Donald Trump, de Jerusalém como capital de Israel.
"Declaramos Jerusalém Oriental como capital do Estado da Palestina e convidamos todos os países a reconhecer o Estado da Palestina com Jerusalém Oriental como sua capital ocupada", afirmou a declaração apresentada no final da cúpula de emergência entre líderes da Organização para a Cooperação Islâmica, em Istambul.
O documento esclarece a postura do mundo muçulmano perante a decisão dos EUA. A OCI rejeitou e condenou o que chama de "decisão unilateral" - o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel.
Os países muçulmanos consideraram ainda o anúncio de Washington um ataque aos direitos do povo palestino e uma "deliberada deterioração de todos os esforços de paz".
Os líderes ressaltaram que a decisão de Trump alimenta "o extremismo e o terrorismo que ameaça a paz e segurança mundiais". Os dirigentes da OCI salientam que, ao optar por esta medida, em contradição com as resoluções internacionais, Washington "assina a sua retirada do seu papel de mediador em busca de um acordo de paz".
O status de Jerusalém é uma das questões centrais no conflito entre israelenses e palestinos. Israel capturou a parte oriental, predominantemente árabe, da cidade sagrada durante a Guerra dos Seis Dias (1967). Sua reivindicação para toda a cidade, a qual Israel vê como a antiga capital do povo judeu, nunca foi reconhecida internacionalmente – até semana passada, quando Washington anunciou a transferência de sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.
Após o anúncio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse não estar impressionado com as declarações dos líderes muçulmanos e insistiu que os palestinos reconheçam Jerusalém como a capital de Israel.
Reunião de emergência
Na abertura da cúpula, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a decisão de Trump era um golpe contra a civilização muçulmana. "O incêndio iniciado com a decisão de Jerusalém queimará a região e o mundo. Não pode haver uma paz regional e global se uma solução para a questão da Palestina não for encontrada", destacou.
Com a cúpula, a Turquia tenta ganhar espaço como um líder regional e clama para si a tarefa de unir a comunidade política muçulmana, que inclui os rivais regionais Arábia Saudita e Irã. E muito aliados dos EUA, como Egito, a própria Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos provavelmente não arriscarão seu relacionamento com Washington para condenar Israel.
A OCI, formada por 57 países de maioria muçulmana, inclui desde sua fundação em 1969 os palestinos como membros plenos. Na cúpula de Istambul, estiveram representados por seus chefes de governo ou Estado potências regionais como Irã, Catar, Jordânia e Líbano. Outras, como Egito e Emirados Árabes, enviaram seus chanceleres. E a Arábia Saudita teve com emissário apenas o ministro para Assuntos Religiosos – um sinal claro aos vizinhos de que, no momento, tem pouco interesse na questão palestina.
CN/efe/lusa/rtr
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Jerusalém, a história de um pomo da discórdia
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.