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"Países que alimentam guerra síria têm sangue nas mãos"

20 de setembro de 2016

Secretário-geral da ONU exige fim do conflito na Síria e acusa governos internacionais de ignorarem, financiarem e até executarem atrocidades no país. Aqueles que bombardearam comboio humanitário são "covardes", diz.

Ban Ki-moon na Assembleia Geral da ONU
Foto: Getty Images/AFP/J. Samad

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exigiu nesta terça-feira (20/09) o fim dos combates na Síria, acusando o regime de Bashar al-Assad de praticar atrocidades contra civis e governos internacionais pelo envolvimento ou por ignorar a violência na região.

"Governos que estão presentes aqui ignoraram, facilitaram, financiaram, planejaram ou até mesmo executaram atrocidades cometidas por todos os lados do conflito na Síria contra civis", destacou Ban, durante discurso na Assembleia Geral da ONU. Ele afirmou que países que "continuam alimentando a máquina da guerra também têm sangue nas mãos".

Ban acusou todas as partes envolvidas na guerra civil síria de matarem inocentes, sobretudo o regime de Assad. "Muitos grupos mataram civis inocentes, mas nenhum matou tanto quanto o governo sírio, que continua a utilizar barris de explosivos contra zonas residenciais e a torturar sistematicamente milhares de prisioneiros", afirmou, ressaltando que o futuro da Síria não pode depender do destino do atual líder.

"Apelo para que todos com influência acabem com os combates e deem início a negociações", pediu o secretário-geral, destacando que a guerra na Síria já deixou mais de 300 mil mortos e milhões de refugiados desde 2011.

Ban condenou também o ataque contra um comboio humanitário nas proximidades da cidade de Urum al-Kubra, a oeste de Aleppo. Cerca de 20 civis morreram no bombardeio. O incidente levou as Nações Unidas a suspenderem operações humanitárias na Síria.

"Os trabalhadores humanitários que entregavam ajuda eram heróis. Aqueles que os bombardearam são covardes", disse Ban. "Justo quando pensamos que não poderia ser pior, o nível de imoralidade se aprofunda ainda mais", acrescentou.

Comboio de ajuda humanitária foi atingido a oeste de AleppoFoto: Reuters/A. Abdullah

Abusos e cólera

Durante o discurso, Ban pediu desculpas em nome da ONU pelos abusos sexuais cometidos por capacetes azuis em diversos países e pelo papel da organização no surto de cólera no Haiti. O secretário-geral afirmou que esses dois assuntos mancharam a reputação das Nações Unidas e traumatizaram muitas pessoas.

"Os atos desprezíveis de exploração e abuso sexual cometidos por um grupo de capacetes azuis da ONU e outros profissionais agravaram o sofrimento de pessoas já afetadas por conflitos armados e minaram o trabalho feito por tantos outros ao redor do mundo. Protetores jamais deve se tornar predadores", disse Ban.

Diversas denúncias de capacetes azuis que cometeram abusos sexuais chegaram à ONU nos últimos anos. Grande parte dos casos ocorreu na República Centro-Africana. Entre as vítimas, há menores de idade. Após as denúncias, a organização prometeu reprimir essa violência e punir os responsáveis. Atualmente, as Nações Unidas possuem 106 mil soldados e policiais servindo em 16 missões de paz.

Ban também se desculpou pelo surto de cólera no Haiti que matou milhares de pessoas desde 2010. "Sinto um tremendo pesar e tristeza pelo profundo sofrimento dos haitianos afetados pela cólera. Chegou o momento de um novo enfoque para aliviar essa situação e melhorar suas vidas. Essa é nossa firme e perdurável responsabilidade moral. Vamos trabalhar juntos para atender nossas obrigações para com o povo haitiano", destacou.

As Nações Unidas admitiram neste ano ter responsabilidade no início da epidemia de cólera, em 2010, que ainda afeta o país. Estudos revelaram que o surto começou após um vazamento em um rio de resíduos fecais de soldados da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah). Durante muito tempo, a ONU negava sua participação no incidente.

Os pedidos de desculpas foram feitos tendo em vista que Ban deixará o cargo nas Nações Unidas no fim do ano, depois de ter cumprido dois mandatos de cinco anos cada à frente da organização.

CN/rtr/efe/afp/lusa

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