Em estudo realizado na Alemanha, homem com esclerose lateral amiotrófica (ELA) recebe interface cérebro-computador e consegue transformar pensamentos em sinais sonoros.
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Um estudo realizado na Alemanha alcançou um avanço surpreendente: um homem que perdeu todos os movimentos do corpo voltou a se comunicar graças a um implante cerebral. O paciente sofre de uma forma severa da chamada síndrome do encarceramento, que provoca a paralisia total de movimentos, mantendo, porém, as faculdades mentais normais – como se o doente estivesse em um coma acordado, podendo ouvir e ver tudo.
Rara, a síndrome do encarceramento é provocada por danos graves no tronco cerebral, que podem ser resultado de lesões cerebrais, acidente vascular cerebral (AVC) ou de doença neurológica. Como o cérebro não é afetado, os pacientes continuam pensando claramente e podem se comunicar através do movimento dos olhos. Mas há casos nos quais esses movimentos também são afetados.
O paciente do estudo realizado na Alemanha sofre deste tipo de caso mais severo. Nascido em 1985, ele perdeu os movimentos devido a uma esclerose lateral amiotrófica (ELA) – uma doença incurável que gradualmente danifica as células nervosas responsáveis pelo controle dos movimentos e dos músculos.
Para que ele pudesse voltar a se comunicar, uma equipe internacional liderada pelo neurologista Niels Birbaumer, da Universidade de Tübingen, implantou no paciente em março de 2019 uma interface cérebro-computador (ICC), que permite ao cérebro enviar comandos a circuitos e, assim, controlar equipamentos.
Segundo o estudo, cujos resultados foram publicados em março numa revista especializada, devido às pouquíssimas experiências com ICC, isso exigiu um treinamento longo e muita perseverança de todos os envolvidos.
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Processo de aprendizagem
Primeiro, o ICC teve que aprender a entender o pensamento do paciente. Como o paciente não movimentava mais os olhos, ele precisou imaginar diferentes movimentos oculares. Apenas esse imaginar, ativava determinadas correntes cerebrais, que eram transformadas em sinais sonoros pela interface. Por meio da inteligência artificial, um chamado soletrador sugeria as letras para o paciente.
Assim, o paciente não foi só capaz de responder apenas sim ou não, mas, no decorrer do treinamento, conseguiu comunicar desejos complexos.
O progresso foi monitorado a partir do dia do implante. No dia 247, o paciente falou por meio da voz do computador: "está funcionando facilmente neste momento". Vídeos comoventes do estudo mostram uma tela de computador ao lado da cama do paciente, que, por meio do ICC, comunica seus desejos. Os vídeos mostram como essa comunicação é demorada e trabalhosa, mesmo assim, dão coragem e esperança.
"Leni deve mostrar todas as posições da perna", "mãe, massagem na cabeça, por favor", "mixer para sopa e carne" são alguns dos desejos do paciente formulados com ajuda do computador. Ele pediu também para levantar sua cabeça quando houvesse visitantes no quarto.
Leva um tempo, mas o paciente sempre consegue formular frases completas. "Antes de tudo, gostaria de agradecer ao Niels", disse no 107º dia após o implante. "Eu amo meu filho legal", disse no dia 251.
Avanço dá coragem
Esse é um grande desafio para o paciente, que lida melhor ou pior com a situação dependendo do dia. Em média, para formular uma única letra, ele precisa de um ou dois minutos, e nem sempre o que é dito faz sentido.
"Em alguns dias, ele soletra menos de 100 caracteres, enquanto em outros são mais de 400. Apesar da enorme variação de caracteres escritos, a média por minuto fica em torno de um caractere por minuto", afirma o estudo.
Para pacientes e para a neurociência, essa é uma ótima notícia. O implante cerebral não permite uma conversa direta, mas as pesquisas sobre interface cérebro-computador ainda estão nos seus primórdios. O fato de um paciente conseguir ativar certas ondas cerebrais apenas imaginando um movimento e se comunicar desta maneira, superando o confinamento dentro do seu próprio corpo, no entanto, é um avanço sensacional que gera grandes esperanças.
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