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Às custas dos pobres

8 de junho de 2010

Medidas de austeridade anunciadas por Merkel e Westerwelle prejudicam desempregados e trabalhadores e poupam "os causadores da crise", afirmam oposição, sindicatos e até setores dos partidos do governo.

'Atingidos são os que não têm lobby', critica correligionário de MerkelFoto: AP

Oposição, sindicatos e até mesmo setores dos partidos do governo alemão fizeram duras críticas ao pacote de redução de despesas públicas anunciado nesta segunda-feira (07/06) pela chanceler federal Angela Merkel e pelo vice-chanceler Guido Westerwelle.

Na opinião dos críticos, os planos do governo poupam os setores mais ricos da sociedade alemã e prejudicam os mais pobres. A coalizão da CDU (União Democrata Cristã), CSU (União Social Cristã) e do FDP (Partido Liberal Democrático) quer economizar 80 bilhões de euros até 2014, com cortes principalmente em benefícios sociais.

As medidas "são covardes, porque os causadores desta crise são poupados e os necessitados, podados", afirmou a secretária-geral do SPD (Partido Social Democrata), Andrea Nahles, à emissora SWR. Ela disse que o partido – o maior da oposição – não vai tolerar os cortes que afetam gravemente o mercado de trabalho. "Acho que o FDP se impôs. Isso está claro. A assinatura é de Guido Westerwelle, mas a chanceler se chama Angela Merkel, e ela é que tem a competência para traçar diretrizes", criticou ela.

Gabriel: Merkel favoreceu a 'clientela do FDP'Foto: AP

O presidente do SPD, Sigmar Gabriel qualificou o projeto de miserável e imaturo. "Falando francamente: para os afortunados e para a clientela do FDP, mamãe escolheu o programa 'suave' da máquina de lavar roupa", afirmou, numa referência ao apelido de Merkel no meio político.

O copresidente do Partido Verde Cem Özdemir disse que sua bancada tentará impedir a aprovação de alguns dos cortes planejados. "Onde for necessária a aprovação do Bundesrat [câmara alta do Parlamento], faremos de tudo para impedir que o governo obtenha maioria", declarou à emissora n-tv. Alguns pontos do pacote necessitam da aprovação das duas câmaras do Parlamento.

Críticas do próprio partido

Até mesmo a ala social da CDU, partido de Merkel, criticou o pacote. O vice-presidente da comissão de assuntos sociais do partido, Christian Bäumler, disse à agência de notícias DPA que é inaceitável que o governo pare de pagar a contribuição para a aposentadoria dos beneficiários do programa Harz 4, destinado a desempregados.

"Atingidos são aqueles que não têm lobby e que menos podem se defender." Ele lamentou que o governo não cobre mais dos ricos. "Acho que isso se deve ao FDP", afirmou.

Sindicatos anunciam manifestações

Sociedade dará resposta à altura, diz SommerFoto: AP

Críticas veementes também partiram dos sindicatos. O presidente da central sindical DGB, Michael Sommer, anunciou protestos nas fábricas e grandes manifestações nas cidades. "A luta social começou ontem [segunda-feira]", afirmou à emissora rbb. "Onerados não foram os ombros fortes, mas os fracos", criticou Sommer em entrevista ao jornal Rhein-Neckar-Zeitung.

Para ele, o FDP se impôs, evitando que os causadores da crise financeira fossem chamados a pagar a conta. "Esse pacote falho não ficará sem uma resposta à altura da sociedade."

O sindicatos dos metalúrgicos IG Metall e o dos prestadores de serviço Verdi anunciaram manifestações para os próximos dias. Ambos convocaram seus filiados para protestos públicos neste sábado, em Stuttgart e Berlim.

O presidente do Verdi, Frank Bsirske, disse à emissora de televisão ARD que o governo deu "presentes bilionários aos ricos hoteleiros" e tenta agora "recuperar o dinheiro às custas dos empregados do setor público e dos desempregados".

A crítica foi uma referência à decisão de reduzir a alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) para os hotéis, tomada no início do governo da coalizão entre conservadores e liberais.

Protestos na Espanha

Servidores públicos saíram às ruas na EspanhaFoto: picture alliance/dpa

Medidas semelhantes às anunciadas na Alemanha levaram, nesta terça-feira, a paralisações no setor público da Espanha. Isso volta a ocorrer pela primeira vez em 14 anos. Os sindicatos espanhóis protestaram contra os cortes de despesas públicas e de salários do governo do premiê José Luis Zapatero.

A paralisação de 24 horas contou com apenas uma parte dos 2,7 milhões de servidores públicos espanhóis. Os sindicatos disseram que 75% dos servidores cruzaram os braços; já o governo afirma que apenas 11% aderiram ao movimento.

A situação foi de normalidade nas grandes cidades do país, com o transporte público funcionando regularmente. Também não houve atrasos nos aeroportos. Os sindicatos disseram que o movimento foi um sucesso e uma clara mensagem para que o governo mude seus planos.

Entre outras medidas, o governo anunciou uma redução média de 5% nos salários do funcionalismo público a partir de junho e o congelamento dos vencimentos em 2011.

AS/dpa/reuters
Revisão: Simone Lopes

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