Líder palestino Abbas diz que comunicou Tel Aviv e Washington do rompimento e recusa mediação americana. Liga Árabe também rejeita plano de paz proposto por Washington e diz que não vai cooperar para sua implementação.
Anúncio
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, anunciou neste sábado (01/02) o rompimento de todos os laços com Israel e os Estados Unidos, em resposta ao plano de paz proposto pelo presidente americano, Donald Trump, que muitos avaliam como sendo favorável aos israelenses.
Em uma reunião de emergência da Liga Árabe no Cairo, Abbas disse ter enviado mensagem para o presidente israelense, Benjamin Netanyahu, e para o diretor da CIA, a agência de inteligência americana, comunicando a intenção de cortar relações com os dois países.
"Estamos afirmando que não haverá relações com Israel e os Estados Unidos, incluindo relações de segurança, pelo fato de acordos e resoluções internacionais de legitimidade anteriores não terem sido cumpridos", disse o líder palestino.
Após a reunião, a Liga Árabe, da qual participam 22 países, divulgou um comunicado confirmando sua rejeição ao acordo proposto por Trump, que, segundo a entidade, "não alcança os direitos mínimos e aspirações do povo palestino". Os países árabes se comprometeram a "não cooperar com o governo americano na implementação desse plano".
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul-Gheit, também criticou a estratégia americana. "O plano levará a um cenário de Estado único que se resume a duas classes de cidadãos, e isso é um apartheid, no qual os palestinos serão cidadãos de segunda classe, privados dos direitos básicos de cidadania", avaliou.
"Isso não ajudará a chegarmos à paz e a uma solução justa", observou Aboul-Gheit. Ele pediu que palestinos e israelenses negociem uma "solução satisfatória para ambas as partes".
O plano de paz proposto por Washington prevê a solução de dois Estados, com a Palestina sendo reconhecida pelos EUA como um país soberano. Em contrapartida, os israelenses sairiam favorecidos com o reconhecimento de Jerusalém como sua "capital indivisível" de Israel e a validação de todos os assentamentos na Cisjordânia.
Na reunião, Abbas disse que ignorou telefonemas e mensagens de Trump. "Sei que ele usaria isso para dizer que nos consultou", avaliou. "Jamais aceitarei essa solução [...] Não deixarei marcado na minha história que vendi Jerusalém", afirmou.
Ele reiterou que os palestinos continuam comprometidos com o objetivo de encerrar as ocupações israelenses em seu território e de estabelecer sua capital na parte leste de Jerusalém. Abbas também rejeitou que os EUA sejam os únicos mediadores em quaisquer negociações com Israel e disse que irá ao Conselho de Segurança da ONU para deixar clara sua posição.
O plano proposto pelos EUA prevê ainda recusa do direito de retorno de palestinos refugiados a regiões perdidas para Israel, entre outros pontos. Caso aceitassem as condições do acordo, os palestinos receberiam 50 bilhões de dólares em investimentos nos próximos dez anos, além da conexão de seus territórios por túneis com trens de alta velocidade. A soberania do Estado palestino, porém, seria limitada a territórios desmilitarizados sob controle israelense.
Embaixadores dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Omã estavam presentes na Casa Branca durante anúncio do plano no início da semana, numa demonstração de apoio à iniciativa. A Arábia Saudita e o Egito, aliados próximos dos EUA na região, viram com bons olhos o plano americano e pediram a retomada nas negociações de paz.
Em nota, o governo egípcio pediu que os dois lados "estudem cuidadosamente" o acordo e se disse favorável a uma solução que restaure os direitos legítimos dos palestinos e o estabelecimento de um "Estado independente e soberano nos territórios ocupados". O texto, porém, não menciona a exigência dos palestinos de ter Jerusalém como sua capital.
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.