Palma de Ouro para comédia sueca surpreende Cannes
28 de maio de 2017
Diretor Ruben Östlund quis denunciar em "The Square" as covardias e becos morais dos ricos mimados, na confrontação com refugiados e sem-teto. Sofia Coppola e Nicole Kidman entre premiados da 70ª edição do festival.
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A escolha do filme The Square (O quadrado), do sueco Ruben Östlund, para a premiação com a Palma de Ouro causou surpresa neste domingo (28/05) em Cannes. É raro, na história desse festival internacional, uma comédia arrebatar o troféu máximo. Neste caso, trata-se de uma sátira corrosiva e inteligente, que tem na mira o mundo da arte e a alta sociedade.
O ator dinamarquês Claes Bang encarna o diretor de museu de arte contemporânea que prepara uma exposição sobre a tolerância e a solidariedade. O título do filme alude à instalação central, na qual todos são convidados a serem bondosos e generosos.
No entanto, o mundo do especialista em arte vira de cabeça para baixo quando seu celular e carteira são roubados ao ele tentar socorrer uma mulher – cujo aparente perigo não passava de um subterfúgio dos ladrões.
Östlund, que alcançou considerável projeção internacional com Força maior, em 2014, quis, com essa comédia, explorar os dilemas morais e denunciar com sarcasmo as pequenas e grandes covardias dos ricos mimados diante de migrantes, refugiados e sem-teto.
O cineasta recebeu o prêmio máximo do festival internacional na Côte d'Azur das mãos do presidente do júri, Pedro Almodóvar, e da atriz francesa Juliette Binoche. Essa é a terceira Palma de Ouro que vai para a Suécia, depois de Pelle, o Conquistador, em 1988, e As melhores intenções, em 1992, ambos do diretor Bille August.
Nicole Kidman, "rainha" da 70ª edição
Outra escolha inesperada do Festival de Cannes 2017, devido à recepção morna de O estranho que nós amamos, foi a escolha de Sofia Coppola como melhor direção.
Trata-se de uma refilmagem do drama homônimo de Don Siegel, de 1971, que narra os efeitos da súbita aparição de um soldado ferido num pensionato feminino, durante a Guerra da Secessão nos Estados Unidos.
Colin Farrell assume o papel principal originalmente interpretado por Clint Eastwood. Nicole Kidman, a quem coube o prêmio especial "70º aniversário do Festival de Cannes" também estrela na produção.
Outros laureados foram:
Grand Prix: 120 beats per minute, de Robin Campillo, sobre a indiferença diante da aids;
Prêmio do Júri: drama conjugal Loveless, de Andrey Zviaguintsev;
Palma de Ouro de curta-metragem: Xiao cheng er yue (Uma noite doce), de Yang Qiu;
Melhor interpretação masculina: Joaquin Phoenix (You were never really here, drama de vingança escolhido como Melhor roteiro);
Melhor interpretação feminina para a alemã Diane Kruger (Aus dem nichts, do turco-alemão Fatih Akin).
AV/afp,ap
O cinema entre a Alemanha e o Brasil
A DW selecionou alguns filmes que abordam a interseção cultural entre Brasil e Alemanha.
Foto: João Ricardo
A outra pátria
Dirigido por Edgar Reitz (2013), "A outra pátria" fala da onda de emigração de alemães da região do Hunsrück para o Brasil entre os anos de 1842 e 1845, em fuga da pobreza e da fome. O longa-metragem é uma espécie de prólogo da conhecida série "Heimat" (palavra alemã para pátria ou lugar de origem), série dirigida por Reitz com mais de 15 horas de duração sobre a história alemã.
Filme dirigido por Maria Schrader, "Vor der Morgenröte" (Antes da aurora, 2016) retrata os últimos anos de vida de Stefan Zweig. Dividido em seis episódios, o longa reconstrói o exílio do escritor austríaco no Brasil, após sua fuga do nazismo na Europa. Zweig, que acabou se suicidando em Petrópolis, em 1942, oscilava entre a gratidão pela acolhida no Brasil e a nostalgia de um tempo passado.
Foto: X Verleih AG
Muito romântico
Melissa Dullius e Gustavo Jahn atravessam o Oceano Atlântico, em um navio de carga rumo a Berlim, na busca de novas experiências. Na transição lenta, o casal passa o tempo lendo e fotografando. "Muito romântico" (2016) mistura lembranças e encenações, tendo Berlim, cidade em constante transformação, como centro da narrativa construída a partir da perspectiva romântica e singular dos cineastas.
Foto: Distruktur
Outro Sertão
Documentário de 2013 sobre João Guimarães Rosa como diplomata na Alemanha sob o regime nazista. O filme, dirigido por Soraia Vilela e Adriana Jacobsen, resgata a estada do então diplomata em Hamburgo (1938-1942) e traz depoimentos de judeus que deixaram a Alemanha e emigraram para o Brasil naquele momento. Destaque é uma entrevista inédita de Guimarães Rosa à TV alemã, concedida em 1962.
Foto: Outro Sertão
Walachai
O documentário (2011) parte da experiência pessoal da diretora Rejane Zilles em um vilarejo de descendentes de imigrantes alemães, que resistem às mudanças do tempo, mantendo as raízes culturais e o dialeto do Hunsrück, região do oeste alemão. A diretora volta ao povoado e reúne mais de 40 horas de depoimentos entre os moradores, selecionados em quase uma hora e meia de documentário.
Foto: João Ricardo
Praia do futuro
Dirigido por Karim Aïnouz, diretor brasileiro que vive em Berlim, o filme foi rodado em Berlim, Fortaleza e na costa alemã do Mar do Norte. Lançado em 2014, o longa-metragem conta a história de amor entre o salva-vidas Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick).
Foto: Alexandre Ermel
Menino 23
O documentário "Menino 23", de Belisário Franca, tem como ponto de partida as investigações do historiador Sidney Aguilar Filho sobre tijolos marcados com a suástica nazista, encontrados no interior do Brasil, que revelam a história de meninos órfãos e negros, vítimas de um projeto criminoso de eugenia. Aloizio Silva, o "menino 23", sobreviveu até os 93 anos.
Foto: Globo Filmes/Menino23
Cinema, aspirinas e urubus
Com direção de Marcelo Gomes, o filme de 2005 narra a história de um alemão que, em fuga da Segunda Guerra Mundial, vai trabalhar como vendedor de aspirinas no sertão nordestino. As aspirinas são, porém, uma forma de viabilizar a exibição de filmes promocionais nos vilarejos. No caminho, o protagonista encontra um nordestino que tenta seguir para o Rio de Janeiro e o encontro muda a vida de ambos.
Foto: Divulgação/Presse
Ilha dos esquecidos
Longa-metragem de 1999, dirigido por Thomas Keller e Andreas Weiser, é um filme sobre o presídio que existiu na Ilha Grande (Rio de Janeiro) até o ano de 1994. O documentário resgata a história dos moradores do lugar, que eram obrigados a aceitar as limitações constantes da ilha que servia de sede a uma penitenciária, para logo depois terem que aprender a lidar com a nova liberdade.
Foto: Andreas Weiser
Os Mucker
"Os Mucker" (1978), de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, recria os acontecimentos da revolta na gaúcha Ferrabraz, no século 19, quando um movimento de caráter religioso, formado por imigrantes alemães e liderado por Jacobina Mentz Maurer, foi combatido por tropas do Exército Imperial. O filme, primeira coprodução entre Brasil e Alemanha, relembra esse episódio negado pela historiografia oficial.