Eleitores vão escolher novo presidente e nova composição do Parlamento. Classe política do Panamá foi sacudida nos últimos anos por escândalos envolvendo empreiteira brasileira.
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O Panamá realiza neste domingo (05/05) suas eleições gerais. O resultado do pleito presidencial ainda é imprevisível por causa da entrada recente de um candidato independente entre os favoritos e dos efeitos de uma série de escândalos de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht que sacudiram o mundo político do país.
Cerca de 2,7 milhões de panamenhos devem eleger o sucessor do presidente Juan Carlos Varela, que registra popularidade muito baixa devido à desaceleração econômica, escândalos de corrupção e a crise em setores como saúde e justiça.
Estão ainda disputa as 71 vagas no Parlamento nacional, 20 assentos no Parlamento da América Central, 679 representantes locais e nove conselheiros.
Todos os eleitos têm um período de cinco anos de serviço no seu respetivo cargo.
Sete candidatos aspiram à Presidência, mas as pesquisas de intenção de voto apontam como favoritos o empresário pecuarista Laurentino Cortizo (Partido Revolucionário Democrático, social-democrata) e o ex-chanceler e advogado Rómulo Roux (Mudança Democrática, direita). Em terceiro lugar, aparece o independente Ricardo Lombana, que capitalizou a insatisfação com a corrupção da classe política.
Na pesquisa do instituto espanhol GAD3, publicada há algumas semanas pelo jornal La Prensa, Cortizo tinha intenção de voto de 27,9%, Roux de 16,9% e Lombana de 15,3% (com 2,9 pontos de margem de erro), enquanto indecisos somavam 15,2%.
"Acho que a poucos dias das eleições ainda há muita gente indecisa e, portanto, em 5 de maio qualquer coisa pode acontecer", disse à Rita Vásquez, diretora do jornal La Prensa.
O Panamá foi afetado nos últimos anos por escândalos como os chamados "Panama Papers" e as propinas da empreiteira brasileira Odebrecht, o que levou a população a um desinteresse total pela política.
Esse tédio favorece um aumento nas chances de Lombana, que alcançou o terceiro lugar na corrida presidencial com um discurso feroz contra a corrupção e a liderança partidária.
A Odebrecht reconheceu ter pagado pelo menos 59 milhões de dólares em propinas no Panamá entre 2010 e 2014 e concordou em pagar uma multa de 220 milhões de dólares ao país em 12 anos e colaborar com a Justiça, no âmbito de um acordo alcançado entre o Ministério Público brasileiro e o panamenho.
Este acordo estabelece o pagamento da multa, imunidade para os executivos da Odebrecht no Panamá, a revelação do esquema de corrupção usado pela empresa e dos nomes de todos os envolvidos nos atos de corrupção. No entanto, uma das cláusulas desagradou parte dos panamenhos: como parte do acordo, a Odebrecht pode continuar a fazer negócios com o Estado.
Desde 2005, A Odebrecht executou 17 projetos, entre rodovias, estradas, linhas de metrô, hidroelétricas ou reformas urbanas por um montante aproximado de 10 bilhões de dólares.
Em meio à campanha, vários grupos expressaram pedidos por mudanças nas leis de licitações públicas do Panamá, a fim de evitar que a Odebrecht faça novos negócios. Os principais candidatos presidenciais também endossaram essa mudança. "O que a Odebrecht fez na América Latina e no Panamá não pode ser perdoado", disse Cortizo em uma entrevista recente. "Empresas condenadas, esqueçam o Panamá!"
Mas o presidente Juan Carlos Varela vem se recusando a cancelar contratos com a Odebrecht. No mês passado, Varela posou para fotografias com trabalhadores após inaugurar o mais recente megaprojeto da empresa - um sistema de monotrilho elevado na Cidade do Panamá.
Campanha enfadonha
Após o golpe militar de 1968, que colocou no poder o general Omar Torrijos, e durante o governo de fato do ex-ditador Manuel Antonio Noriega, o debate político no Panamá se concentrou em defender ou criticar o governo militar.
Depois da invasão americana de 1989, que pôs fim à ditadura de Noriega, as eleições também foram protagonizadas por partidos representativos dessas antigas rivalidades, até a vitória do ex-presidente Ricardo Martinelli em 2009.
Agora, a realidade é muito diferente, afirmam analistas. "É a campanha mais enfadonha, mais sem graça, mais controlada e mais amarrada", disse o diretor do jornal Metro Libre, James Aparicio, que cobre as eleições panamenhas desde os anos 1980. Para o diretor dos serviços de informação da Rádio Panamá, Edwin Cabrera "esta campanha é absolutamente atípica em comparação a tudo o que vimos antes".
JPS/rt/afp/ots
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A Polícia Federal apura, desde 2014, um esquema bilionário de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos. Entenda a maior investigação sobre corrupção já conduzida no país.
Foto: AFP/Getty Images
O início
A Operação Lava Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março de 2014. Começou investigando um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro e descobriu a existência de uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. O nome vem de um posto de gasolina em Brasília, um dos alvos da PF no primeiro dia de operação.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
O esquema
Executivos da Petrobras cobravam propina de empreiteiras para, em troca, facilitar as negociações dessas empresas com a estatal. Os contratos eram superfaturados, o que permitia o desvio de verbas dos cofres públicos a lobistas e doleiros, os chamados operadores do esquema. Eles, por sua vez, eram encarregados de lavar o dinheiro e repassá-lo a uma série de políticos e funcionários públicos.
Foto: Reuters/S. Moraes
As figuras-chave
O esquema na Petrobras se concentrava em três diretorias: de abastecimento, então comandada por Paulo Roberto Costa; de serviços, sob direção de Renato Duque; e internacional, cujo diretor era Nestor Cerveró. Cada área tinha seus operadores para distribuir o dinheiro. Um deles era o doleiro Alberto Youssef (foto), que se tornou uma das figuras centrais da trama. Todos os citados foram condenados.
Foto: imago/Fotoarena
As empreiteiras
As grandes construtoras do país formaram uma espécie de cartel: decidiam entre si quem participaria de determinadas licitações da Petrobras e combinavam os preços das obras. Os executivos da estatal, por sua vez, garantiam que apenas o cartel fosse convidado para as licitações. Entre as empresas investigadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Vários executivos foram condenados.
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Os políticos
O núcleo político era formado por parlamentares de diferentes partidos, responsáveis pela indicação dos diretores da Petrobras que sustentavam a rede de corrupção dentro da estatal. Os políticos envolvidos recebiam propina em porcentagens que variavam de 1% a 5% do valor dos contratos, segundo os investigadores. O dinheiro foi usado, por exemplo, para financiar campanhas eleitorais.
Foto: J. Sorges
De Cunha a Dirceu...
A investigação só entrou no mundo político em 2015, quando a Lava Jato foi autorizada a apurar mais de 50 nomes, entre deputados, senadores e governadores de vários partidos. Desde então, viraram alvo de investigação políticos como os ex-parlamentares Eduardo Cunha (foto) e Delcídio do Amaral, ambos cassados, os senadores Renan Calheiros, Fernando Collor e o ex-ministro José Dirceu.
Foto: Reuters/A. Machado
... e Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em dez processos relacionados à Lava Jato, sendo acusado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. As denúncias indicam que Lula teria recebido benefícios das empreiteiras OAS e Odebrecht, envolvendo imóveis no Guarujá e São Bernardo do Campo. Em 2018, ele foi preso e teve uma nova candidatura à Presidência barrada.
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As prisões
A Lava Jato quebrou tabus no Brasil ao encarcerar altos executivos de empresas e importantes figuras políticas. Entre investigados e aqueles já condenados pela Justiça, estão o executivo Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht; Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; Sérgio Cabral, ex-governador do Rio; os ex-ministros José Dirceu (foto) e Antonio Palocci, entre outros.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/H. Alves
As delações
Os acordos de delação premiada são considerados a força-motriz da operação. Depoimentos como o de Marcelo Odebrecht (foto) chegam com potencial para impactar fortemente a investigação. O acordo funciona assim: de um lado, os delatores se comprometem a fornecer provas e contar o que sabem sobre os crimes, além de devolver os bens adquiridos ilegalmente; de outro, a Justiça reduz suas penas.
Foto: Getty Images/AFP/H. Andrey
O juiz
Responsável pela Lava Jato na 1° instância, o ex-juiz federal Sergio Moro logo ganhou notoriedade. Em manifestações, foi ovacionado pelo povo e chegou a ser chamado de "herói nacional". Mas também foi acusado de agir com parcialidade política. Em 2018, deixou o cargo e aceitou ser ministro do presidente Jair Bolsonaro, cuja candidatura foi beneficiada pela prisão de Lula no ano anterior.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Expansão internacional
Se começou num posto de gasolina em Brasília, a Lava Jato ganhou proporções internacionais com o aprofundamento das investigações. Segundo dados do Ministério Público Federal levantados a pedido da DW Brasil, a investigação já conta com a cooperação de pelo menos outros 40 países (veja no gráfico acima). Além disso, 14 países, fora o Brasil, investigam práticas ilegais promovidas pela Odebrecht.
Um terremoto político
Ao longo de cinco anos, a Lava Jato influenciou o impeachment de Dilma Rousseff, enfraqueceu o governo Michel Temer e contribuiu para a derrocada de velhos caciques do PT, MDB e PSDB. Em 2018, Lula, então favorito para vencer as eleições presidenciais, foi preso e teve a candidatura barrada. As investigações também fortaleceram um discurso antissistema que beneficiou a campanha de Bolsonaro.
Foto: picture-alliance/dpa/ZUMAPRESS/C.Faga
Críticas e revelações
A Lava Jato também acumulou acusações de parcialidade e de abusos em seus métodos. Em 2019, os procuradores da força-tarefa foram duramente criticados por tentarem criar uma fundação para gerenciar uma multa bilionária da Petrobras. No mesmo ano, conversas reveladas pelo site "The Intercept" apontaram suspeita de conluio entre Moro e os procuradores na condução dos processos, o que é proibido.