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Pandemia fez Alemanha cumprir metas climáticas em 2020

Gero Rueter
5 de janeiro de 2021

Restrições devido à covid-19, com menos tráfego aéreo e menor atividade industrial, levaram país a reduzir em 42% as emissões de CO2 em comparação com 1990. Metade da eletricidade foi produzida com fontes renováveis.

Placa de "Pare" em frente a uma usina a carvão
Usinas a carvão pouco a pouco vêm sendo desativadas na AlemanhaFoto: Gero Rueter/DW

Sob o governo da chanceler federal Angela Merkel, o governo alemão decidiu em 2007 reduzir as emissões de CO2 em pelo menos 40% até 2020. De acordo com uma análise do think tank Agora Energiewende, de Berlim, a Alemanha atingiu claramente esta meta para 2020 e reduziu suas emissões de CO2 em 42% em comparação com 1990. Em 2020, a Alemanha emitiu 722 milhões de toneladas de CO2, o que representa 82 milhões de toneladas a menos do que em 2019, uma redução de 10%.

Segundo a entidade, dois terços dessa redução se devem à pandemia de covid-19: a recessão resultou em uma redução significativa na demanda de energia pela indústria, com uma queda de 50 milhões de toneladas nas emissões de CO2. Sem a pandemia, a queda nas emissões de CO2 teria sido de apenas 25 milhões de toneladas, segundo a Agora. Com esta redução de emissões de 38% em relação a 1990, a Alemanha não teria alcançado a meta climática estabelecida.

"Houve apenas efeitos reais de proteção climática em 2020 no setor elétrico, porque a redução de CO2 aqui se deve à substituição do carvão por gás e energias renováveis", disse Patrick Graichen, diretor da think tank.

Mais de 50% de eletricidade verde na rede

De acordo com uma análise do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar (ISE), o percentual de eletricidade verde na rede elétrica alemã foi de 50,5% em 2020 e de 46% no ano anterior. Em 2020, a energia eólica sozinha cobriu 27% da demanda de energia elétrica na Alemanha e, portanto, produziu mais eletricidade do que o linhito (17%) e o carvão mineral (7%) juntos. Módulos solares cobriram 10% da necessidade de eletricidade da Alemanha; usinas com biomassa, 9%; e energia hidrelétrica, 4%.

Enquanto as turbinas eólicas geraram 5% mais eletricidade do que no ano anterior graças ao fato de ter havido mais vento, e módulos fotovoltaicos produziram 7% a mais, a geração de eletricidade com linhito (-20%) e carvão mineral (-28%) caiu significativamente. Em 2019, o declínio na geração de energia com essas fontes fora ainda mais forte do que um ano antes, em 22% e 33%, respectivamente.

Segundo Patrick Graichen, a energia a partir do carvão está em declínio e continuará nos próximos anos. A razão é, por um lado, a expansão das energias renováveis ​​e, por outro, o aumento do preço do CO2, explicou Graichen em entrevista à DW.

Isso torna a energia a carvão mais cara e cada vez menos lucrativa. Além das energias renováveis, as usinas movidas a gás geralmente fornecem eletricidade mais barata e como resultado elas são fechadas.

Por esta razão, de acordo com a think tank, a Alemanha exporta menos eletricidade a carvão, já que os países vizinhos produzem eletricidade mais barata com usinas a gás. No ano passado, 3% da eletricidade da Alemanha foram exportados, enquanto em 2019 este percentual havia sido duas vezes mais alto.

Menor tráfego aéreo, maior efeito climático

O tráfego aéreo até agora vinha desempenhando um papel secundário nas metas climáticas alemãs, uma vez que apenas o tráfego aéreo doméstico é contabilizado para avaliar as emissões nacionais. Na Alemanha, o colapso do tráfego aéreo como resultado da pandemia teve um efeito muito positivo no clima. Segundo a Agora, até 2019, os aviões que partiam da Alemanha provocavam efeitos climáticos que correspondiam à emissão de mais de 80 milhões de toneladas de CO2 por ano. Em comparação com 2019, o consumo de querosene na Alemanha caiu 55% em 2020, o que significa a economia de mais de 40 milhões de toneladas de CO2.

De acordo com o think tank, as vendas de diesel e gasolina para carros e caminhões caíram 9%, levando a uma redução nas emissões de CO2 de cerca de 14 milhões de toneladas.

Rumo à meta climática de Paris?

De acordo com um estudo do Instituto Wuppertal para o Clima, Ambiente e Energia, as emissões de CO2 precisam continuar diminuindo de forma significativa e contínua para cumprir o limite de 1,5 ºC, previsto no Acordo Climático de Paris. "A Alemanha tem que se tornar neutra em CO2 até 2035. Caso contrário, não contribuirá para o  cumprimento da meta de 1,5 graus Celsius", disse o pesquisador de energia e clima Manfred Fischedick, chefe do Instituto Wuppertal. "Do ponto de vista técnico e econômico, isso é extremamente desafiador, mas, em princípio, bastante possível", diz. 

A chave central, segundo ele, é uma forte expansão das energias renováveis. Fischedick e seus colegas recomendam aumentar a geração de eletricidade por usinas solares e eólicas em pelo menos 25 a 30 gigawatts ao ano, a fim de cumprir o limite de 1,5 ºC – um aumento três a cinco vezes mais rápido do que nos anos anteriores.

A Agora Energiewende, que traça um cenário para alcançar a neutralidade climática para a Alemanha até 2050, vê a necessidade de expandir a produção de energia solar e eólica em 15,5 gigawatts por ano nos próximos anos. Mas Graicheng ressalta que isso não bastaria para atender à meta de 1,5 ºC.

Até agora, com seus planos de expandir as energias renováveis, o governo alemão ainda está longe de atingir as metas climáticas de Paris e da União Europeia definidas até 2030. Está planejada apenas uma expansão de cerca de 10 gigawatts de energia eólica e solar por ano. Graichen espera que os gases do efeito estufa voltem a aumentar "assim que a economia se recuperar".

Em 2021, o consumo de eletricidade também poderá aumentar mais rapidamente do que o crescimento das energias renováveis. "Portanto, esperamos mais emissões em geral para 2021. Isso só pode ser neutralizado agindo rapidamente na política climática", salienta Graichen.

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