Crise econômica provocada pelo coronavírus tornou ainda mais difícil recuperar a renda. Índice de pessoas permanentemente em risco de pobreza é duas vezes maior do que no final dos anos 1990.
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O que muitos alemães já vivenciam no dia a dia agora foi confirmado por dados estatísticos: a pandemia de coronavírus está aumentando as desigualdades sociais no país.
Os alemães que escorregam para baixo da linha de pobreza têm cada vez mais dificuldade para recuperar a renda. Atualmente, a proporção de pessoas de baixa renda que está permanentemente em risco de pobreza é de 44% - duas vezes mais do que no final dos anos 1990. As famílias monoparentais, as pessoas com baixa qualificação e as com origem migratória são particularmente afetadas.
De acordo com o Escritório Federal de Estatística, o limiar de pobreza é de 1.074 euros (cerca de R$ 7,4 mil) para uma família de uma pessoa, o que representa 60% da renda familiar média. Quem recebe menos que isso, é considerado em risco de pobreza.
As informações estão em um relatório apresentado nesta quarta-feira (10/03) em Berlim, pelo Departamento Federal de Estatísticas, pelo Centro de Ciências Sociais de Berlim (WZB) e pelo Instituto Federal de Pesquisa Populacional, em cooperação com o Painel Socioeconômico. O documento é apresentado periodicamente, com informações sobre as condições de vida e, este ano, também sobre as consequências da pandemia.
De acordo com o relatório, os que ganham mais têm maior probabilidade de perder renda, mas as preocupações financeiras são muito maiores entre os que ganham menos. Quase uma em cada cinco pessoas na Alemanha relatou dificuldades financeiras entre o final de março e o início de julho de 2020, ou seja, não conseguiu mais pagar dívidas. Quando se trata de trabalhadores qualificados, o índice é um pouco mais baixo, cerca de 9%.
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Pais solteiros relatam os maiores problemas financeiros
Pais e mães solteiros (25%) relataram problemas financeiros com mais frequência, em comparação com famílias formadas por casais (6%). Os profissionais autônomos são o segundo grupo com maior probabilidade de apresentar dificuldades financeiras (20%).
As diferenças sociais também são sentidas nas relações de trabalho. Em quase 66% dos empregos no terço superior da tabela de renda, a adesão ao home office foi de pelo menos 20% durante o lockdown no começo do ano passado. No terço inferior da tabela, a proporção de home office foi menor que 6% em cerca de metade dos empregos.
E também há diferenças quando se trata de educação. Mesmo antes da pandemia, as oportunidades educacionais desiguais na Alemanha, que dependem fortemente da origem social, eram um tema constante. Com o ensino doméstico, isso ficou ainda mais evidente. De acordo com o relatório, as famílias com rendimentos mensais de 5.000 a 18.000 euros têm quatro computadores, enquanto as famílias com menos de 2.000 euros têm, em média, dois.
O relatório de dados também mostra como a população reage ao alto nível de desigualdade social. Pouco menos da metade ainda considera sua renda bruta justa. A maioria acredita que salários baixos são injustos. Três quartos dos alemães ocidentais querem que mais seja feito para reduzir a diferença de renda - em 2002, era menos da metade disso. Nos estados da antiga Alemanha Oriental, este índice atualmente chega a 80%.
le (rtr, dpa, afp, kna, epd)
A desigualdade econômica na União Europeia
As diferenças nos padrões de vida entre países da União Europeia são extremas. Mas, dependendo de como a riqueza é medida, há algumas surpresas – até quando se trata das nações em crise do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Bulgária: salários baixíssimos
A Bulgária é considerada o país mais pobre da União Europeia e também aquele onde a corrupção é mais generalizada no bloco. Segundo a Germany Trade and Invest (GTAI), a renda bruta média em 2018 foi de apenas 580 euros por mês. Desde que o país ingressou na UE, vários jovens búlgaros deixaram sua terra natal, sendo muitos deles profissionais qualificados.
Foto: BGNES
Romênia: o penúltimo lugar no ranking econômico da UE
Não se deixe enganar pela riqueza de cidades pitorescas cuidadosamente restauradas, como Brasov (foto), na Transilvânia. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 11.440 euros per capita (2019), o país está, de fato, numa posição melhor do que a Bulgária (8.680 euros). Mas com um salário médio bruto de 1.050 euros em 2019, ainda fica bem atrás da Alemanha (3.994 euros).
Foto: Imago Images/Design Pics/R. Maschmeyer
Grécia: saindo de uma crise para entrar em outra
Quando o país estava apenas começando a se recuperar dos efeitos da crise da dívida, em grande parte graças ao turismo dos últimos anos, veio a crise do coronavírus. Ainda que tenha um PIB per capita de cerca de 17.500 euros - aproximadamente o dobro do da Bulgária -, o país é considerado pobre se comparado à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/VisualEyze
França: país de proprietários de imóveis
Quando o assunto é riqueza média, os franceses estão muito à frente dos alemães. Com um patrimônio líquido de 26.500 euros (2018) per capita, os franceses possuem quase 10.000 euros a mais, de acordo com dados da Allianz, em parte devido à baixa participação imobiliária dos alemães. Na França, muitos chegam a ter até uma segunda casa no interior.
Foto: picture alliance/prisma/K. Katja
Itália: sem crescimento e altas dívidas
Entre os países europeus, a Itália foi particularmente atingida pela covid-19, com a cidade de Bérgamo rendendo manchetes como o epicentro da pandemia. Após cerca de duas décadas de estagnação econômica, o país é hoje um dos que defendem a distribuição de ajuda devido à pandemia entre os membros da UE. Com um PIB de 29.610 euros (2018) per capita, a Itália fica pouco abaixo da média do bloco.
Foto: AFP/P. Cruciatti
Espanha: o pavor de uma segunda onda
Após um forte aumento nas infecções por covid-19, as autoridades da Catalunha reimpuseram limitações de circulação em julho. O país é extremamente dependente do turismo, que representa cerca de 15% do PIB. Com uma produção econômica per capita de 26.440 euros (2018), a Espanha fica abaixo da média da UE, de pouco menos de 31.000 euros.
Foto: Reuters/N. Doce
Suécia: muita prosperidade, altos impostos e sem confinamento
A Suécia resolveu enfrentar a crise do coronavírus sem lockdown, o que, em comparação com seus vizinhos, acabou provocando muitas mortes. Com um PIB de 46.180 euros per capita, a Suécia fica em quinto lugar na Europa, atrás de Luxemburgo, Irlanda, Dinamarca e Holanda. Apesar dos altos impostos, os suecos ficaram à frente dos franceses em 2018, com um patrimônio líquido de 27.511 euros.
Foto: imago images/TT/J. Nilsson
Países Baixos: riqueza e produção econômica elevadas
Ao lado da Suécia, Dinamarca e Áustria, os holandeses estão entre os países que rejeitam transferências bilionárias sem contrapartida de reformas para países como a Itália. Com um PIB de 46.800 euros per capita (2019) e um patrimônio líquido de mais de 60.000 euros per capita (2018), eles estão no topo do ranking da UE.
Foto: picture-alliance/robertharding/F. Hall
Alemanha: uma nação rica, mas os cidadãos nem tanto
Até agora, o país tem contornado a pandemia com sucesso. Os custos econômicos, no entanto, são enormes: as exportações caíram, e muitas empresas lutam para sobreviver. Detentora da maior economia da UE, a Alemanha teve um PIB de 41.340 euros (2019) per capita. Em 2018, porém, os alemães possuíam um patrimônio líquido de apenas 16.800 euros per capita - metade do observado na Itália.