Pandemia reduz vontade dos italianos de terem filhos
15 de março de 2021Indagados se querem ter filhos, e quantos, Morena di Paola e Vincenzo Augello respondem imediatamente: "Dois!" "Um menino e uma menina", completa Morena, rindo. O que não sabem é quando será a hora de ter as crianças. Inegavelmente apaixonado, o casal dá entrevista de mãos dadas, sentado na cama de seu quarto de dormir.
Devido à pandemia, a farmacêutica de 29 anos e o bancário de 30 tiveram que adiar o matrimônio programado para julho de 2020: "Nós queríamos festejar com 130 convidados. Por causa das restrições, foi impossível, claro. Queremos um casamento sem máscaras, que seja seguro para todos", explica Vincenzo.
Para os dois católicos convictos, a sequência dos acontecimentos sempre esteve clara: primeiro casar, em seguida comprar casa própria, depois os filhos. Poucos dias atrás, eles se mudaram para a nova casinha em Seriate, próximo a Bérgamo, no norte da Itália. Mas com os bebês, preferem esperar um pouco, até a situação econômica se estabilizar, e a pandemia ter finalmente passado.
Coronavírus, exterminador de desejo?
Morena e Vincenzo são bem representativos dos jovens casais italianos: segundo cifras provisórias do Instituto Nacional de Estatísticas (Istat), a taxa de natalidade nunca foi tão baixa no país onde normalmente as crianças são muito bem-vindas.
Em dezembro último, exatamente nove meses após ser decretado o primeiro confinamento, nasceram, em 15 cidades selecionadas, 21,6% menos bebês do que um ano antes. Deste modo, o país provavelmente ocupa o último lugar em natalidade na Europa. Além disso, segundo o diretor do Istat, Gian Carlo Blangiardo, o número de matrimônios caiu pela metade.
"Precisamos também examinar como a vida sexual se altera na pandemia", observa a socióloga Giulia Rivellini. "Encontrei um estudo da fabricante de preservativos Durex segundo o qual o desejo e a atividade sexual diminuem durante a pandemia."
A afirmação possivelmente procede, confirma a pesquisadora da Universidade Católica de Milão: em decorrência das restrições de circulação, os casais vivem mais próximos, se organizam, discutem mais, têm problemas econômicos.
Bom senso econômico na frente das emoções
No entanto, a vontade de ter uma prole não está tão acoplada ao desejo sexual, orientando-se mais pelas circunstâncias econômicas, e isso não só a partir da eclosão do novo coronavírus, afirma Rivellini.
"Acho que os casais estão se concentrando mais no bom senso econômico, e não tanto nas emoções. Eles se preocupam se vão poder criar um filho e lhe oferecer tudo de que precisa." No norte da Itália, há décadas as mulheres costumam só entrar na fase de reprodução aos 30 anos – uma tendência que a covid-19 provavelmente reforçou.
Se 20 anos atrás as italianas tinham, em média, 2,5 filhos, hoje a cifra é de 1,27. Para muitas, é difícil conciliar trabalho e família: devido à falta de ofertas do Estado, os avós é que costumam cuidar das crianças, e as funções domésticas em geral recaem sobre as mulheres.
Deixando o ninho cada vez mais tarde
Morena di Paola assegura que a crise da covid-19 não alterou a relação con seu Vincenzo: no máximo a tornou ainda mais forte. "Estamos juntos desde os 13 anos, crescemos juntos e nos conhecemos bem. A pandemia nos fez mais fortes e deixou claro por que queremos nos casar, sem falta."
O desejo de filhos, porém, eles adiaram por enquanto. A nova casa custou muito, e o matrimônio tampouco sairá barato. Além disso, como viagem de núpcias, queriam fazer um cruzeiro pelo Caribe. Para ambos, o casamento é cerimônia mais importante da vida.
De acordo com Giulia Rivellini, os jovens italianos se desligam dos pais e fundam seu próprio lar cada vez mais tarde, adiando o máximo possível o momento de "deixar o ninho". Assim, a independência econômica também é prorrogada.
"É claro que isso também atrasa o momento de ter filhos. E acrescentem-se os medos desencadeados pela pandemia", conclui a socióloga. Três de cada quatro colegas seus da área de pesquisa demográfica contam que a taxa de natalidade continuará caindo, devido à crise do coronavírus; apenas 5% contam com um crescimento.