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PolíticaJapão

Pandemia sai do controle no Japão

Martin Fritz
3 de fevereiro de 2021

A forma como o Japão enfrentou a primeira onda de covid-19 foi considerada referência. Mas desde então, autoridades e população parecem ter relaxado – e estão pagando o preço agora.

Homem e mulher caminham em meio à neve no Japão
O inverno rigoroso tem forçado as pessoas a se encontrar com mais frequência em lugares fechados, elevando a propagação do vírusFoto: Noriaki Sasaki/The Yomiuri Shimbun/AP Images/picture alliance

O estado de emergência imposto no início de janeiro para a área metropolitana de Tóquio e a subsequente extensão a outras cidades só teve, até agora, um efeito limitado: o número de novos casos de coronavírus no Japão cai apenas lentamente, o de mortes continua alto, e os hospitais seguem sobrecarregados.

Por isso, está há dias em pauta entre políticos e especialistas a necessidade de prolongar o estado de emergência. O primeiro-ministro Yoshihide Suga quer tomar uma decisão nesta semana. Nesse meio tempo, a União Europeia impôs uma proibição de entrada para os cidadãos japoneses.

O Japão perde, aos poucos, sua reputação de país modelo na luta contra a pandemia.

Com quase 6 mil mortos e 330 mil infectados, o país ainda está em melhor posição do que muitos países ocidentais, mas em comparação com o resto da Ásia, seu desempenho é ruim. E essa guinada parece ter sido "made in Japan".

Durante a primeira onda de infecções, em abril de 2020, o Japão se absteve de impôr um lockdown. O uso responsável de máscaras, a prevenção de aglomerações e o rastreamento de infecções em grupo impediram a propagação do vírus.

Mas o governo parece ter relaxado desde então. E até subestimado o perigo. Distribuiu subsídios para refeições fora e viagens domésticas até dezembro, o que acabou alimentando também o contato entre as pessoas. No final do ano passado, o coronavírus já estava se espalhando como nunca antes.

Cidadãos cansados da pandemia

Os japoneses estão pagando o preço pelo fracasso das autoridades em se preparar para uma nova onda de infecções. No segundo estado de emergência, o governo está novamente se abstendo de medidas duras, mas desta vez os cidadãos, cansados da pandemia, estão demonstrando menos autodisciplina e não estão reduzindo tanto seus contatos como deveriam. Um inverno anormalmente frio está fazendo com que a regra de evitar encontros em espaços fechados seja mais difícil de ser seguida.

Ao mesmo tempo, muitos restaurantes e bares estão ignorando a exigência do Estado de fechar às 20h. Foi somente na segunda-feira (01/02), quase quatro semanas após o início do estado de emergência, que o Parlamento aprovou uma lei impondo multas equivalente a até 4 mil euros para comércios e empresas que não cumpriram com a restrição. Os cidadãos que recusarem um teste ou se negarem a ir a um hospital apesar de estarem infectados também serão multados em até 4 mil euros.

As falhas no sistema de saúde estão tornando particularmente difícil conter a pandemia. Com 1.300 leitos hospitalares por 100 mil habitantes, o Japão é líder mundial. Mas apenas 1% desses leitos são leitos de terapia intensiva, quase três vezes menos em números absolutos e em proporção à população do que na Alemanha, por exemplo.

Como resultado, há também uma escassez de médicos e enfermeiros de terapia intensiva. Cerca de 80% dos hospitais são de propriedade privada e muitas vezes realizam apenas procedimentos ambulatoriais. Pacientes com sintomas de covid-19 ameaçam as operações comerciais e acabam sendo negados.

Sistema de saúde sobrecarregado

Com isso, os poucos hospitais para covid-19 atingiram ou excederam rapidamente sua capacidade devido ao forte aumento do número de casos graves. A resposta das autoridades responsáveis tem sido tardia e fraca. Enquanto países como China e Alemanha criaram rapidamente hospitais provisórios, o Ministério da Saúde japonês oferece 35 mil euros para cada novo leito de terapia intensiva criado. Infectados sem sintomas graves estão sendo alojados em hotéis.

A testagem também não caminha bem. É verdade que o número de testes diários aumentou drasticamente, para mais de 500 por milhão de habitantes, em comparação com o primeiro estado de emergência. Mas essa taxa ainda coloca o Japão mais de três vezes abaixo da Alemanha.

Além disso, os fornecedores privados de testes não precisam comunicar resultados positivos. Em dezembro, 56 japoneses morreram em suas próprias casas vítimas de covid-19, de acordo com a polícia. Isso levou a oposição parlamentar a suspeitar de uma ligação com o sistema de saúde sobrecarregado, e forçou o premiê Suga a fazer um pedido de desculpas público no Parlamento na semana passada.

Ainda sem vacinação

A campanha de vacinação ameaça igualmente sobrecarregar os políticos no Japão. Até o momento, as autoridades sanitárias ainda não aprovaram uma única vacina. Somente a Pfizer apresentou um pedido correspondente para sua vacina, feita em parceria com a empresa alemã Biontech. Os regulamentos japoneses exigem que a vacina deve ser testada primeiro no povo japonês, o que atrasa o pedido de aprovação e o início da produção.

As primeiras doses da Biontech devem ser administradas no final de fevereiro, de acordo com o novo ministro de Vacinação, Taro Kono. No entanto, os especialistas japoneses não esperam imunidade de rebanho antes da segunda metade do ano.

De acordo com pesquisas, a insatisfação com esse ritmo lento tem sido limitada até agora, uma vez que, no Japão, o ceticismo geral sobre as vacinas é relativamente alto para padrões internacionais. O principal motivo são escândalos de vacinação anteriores. Mas a impressão do público pode mudar se houver mais atrasos.

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