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Pane e premiação

Júlia Carneiro15 de outubro de 2008

Um provável mal-entendido na alfândega de Madri resultou em prateleiras vazias, Gilberto Gil faltou. Em compensação, brasileiro Murilo Antonio de Carvalho recebe Prêmio Leya, de literatura lusófona.

Estande brasileiro em FrankfurtFoto: Julia Carneiro

O Brasil chegou pronto para fazer bonito na Feira de Livro de Frankfurt, com estande mais central e planos para ampliar a exportação de títulos brasileiros. Mas o principal ingrediente da festa foi barrado na alfândega: em vez de livros, o estande brasileiro ostenta apenas prateleiras vazias.

Logo da Feira e torre do pavilhão de exposiçõesFoto: AP

Chegando ao corredor E do galpão 5.1 na Feira de Frankfurt, já se vê de longe o verde-e-amarelo do estande brasileiro. Ao se chegar mais perto, porém, um susto: debaixo das amplas placas anunciando "Brasil", apenas prateleiras vazias, seu tom prateado refletindo os holofotes. Ou quase vazias: em diversas delas foram espalhados catálogos, folhetos ou os poucos livros que vieram, na mala dos editores que resolveram se garantir.

Faltosos no estande brasileiro estão os 6.400 livros que ficaram presos na alfândega em Madri. O carregamento de uma tonelada, previsto para chegar na tarde de segunda-feira, foi barrado por motivos de segurança, segundo o burburinho que corria em volta do estande.

Livros ameaçadores

A versão não oficial da história conta que uma das muitas caixas de livros – enviadas pelas 43 editoras brasileiras que vieram para a feira – tinha escrita do lado de fora "perigo, líquido corrosivo" (ou algo assim ameaçador). Teria sido o suficiente para levantar sobrancelhas na alfândega e impedir os livros de alcançarem seu destino final – aonde, depois de muitas negociações, devem finalmente chegar no fim desta quarta-feira (15/10), primeiro dia da Feira de Frankfurt.

Eduardo Mendes, diretor-executivo da Câmara Brasileira do Livro (CBL), não confirma o boato: "A versão oficial é apenas que houve um problema, e agimos o mais rápido possível para solucioná-lo. Só vamos saber qual foi o problema, de fato, quando o carregamento chegar aqui", diz ele. "O que importa é que agora a questão já está solucionada, e os livros já vão estar aqui a partir do segundo dia da feira".

A CBL, responsável pelo estande da delegação brasileira, investiu um total de R$ 300 mil na feira, entre passagens, aluguel de espaço e custo para montar o estande, que neste ano tem 108 metros quadrados. Para expor seus livros no espaço, as editoras pagam 700 euros por cada módulo de cinco prateleiras.

Ausência de Gil

Um total de 1.800 títulos brasileiros está sendo aguardado. A maioria fica no espaço da representação oficial brasileira, mas uma pequena parte se destina, ainda, à vizinha Companhia das Letras. A editora optou por ter um estande próprio, mas enviou os livros junto com a delegação brasileira, e eles também estão barrados.

O problema deixou editores frustrados. "É muito desagradável", diz Plínio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp. "Você chega aqui e é frustrante ver as prateleiras vazias. Claro que houve algum erro de estratégia, de logística. Mas isso não pode acontecer num evento como este, de dimensão internacional."

Miriam Gabbai, da editora Callis, de São Paulo, lamentou o incidente, mas estava conformada. "Isso não é tão incomum. Já fiquei sem livros por três dias na feira de Guadalajara, em Bolonha uma vez a caixa de livros foi extraviada... Todo editor que faz feira sabe que isso pode acontecer", diz ela. "Tive sorte, porque trouxe livros na mala."

Outro desfalque na delegação brasileira foi o cantor e ex-ministro da cultura Gilberto Gil. Escalado para um painel de discussões sobre o futuro da literatura na América Latina, Gil, de última hora, não apareceu. A confirmar se ele irá nesta noite para a festa do escritor Paulo Coelho, que comemora em Frankfurt a venda de 100 milhões de livros em sua carreira, e tem o cantor entre seus convidados especiais. Coelho se mostrou insultadíssimo em seu blog porque o atual ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, não estará em Frankfurt para a festa.

Prêmio para O Rastro do Jaguar

Mas o Brasil também teve motivos para comemorar neste início de feira, assim como a língua portuguesa. A primeira edição do Prêmio Leya, criado pelo grupo editorial homônimo para contemplar um escritor de língua portuguesa com uma polpuda soma de 100 mil euros, foi para um brasileiro.

Murilo Antonio de Carvalho recebeu Prêmio LeyaFoto: Julia Carneiro

Murilo Antonio de Carvalho, um jornalista de 60 anos, nascido em Minas Gerais, ganhou o prêmio com a obra O Rastro do Jaguar. Carvalho não pôde comparecer à cerimônia do prêmio em Frankfurt porque estava filmando um documentário na Amazônia ao receber a notícia, no dia anterior. Através de um vídeo, ele expressou sua surpresa à platéia alemã. É seu primeiro livro e, como mandava o edital para concorrer ao prêmio, um original.

Maior grupo editorial português, o Grupo Leya recebeu 422 obras originais na candidatura, de diversos países lusófonos. De acordo com o diretor-coordenador de edições gerais do grupo, João Amaral, o Brasil foi o país com a maior participação. "Dos oito autores que chegaram à fase final do prêmio, seis eram brasileiros e dois eram portugueses", contou ele.

A opção de restringir a candidatura a obras não-publicadas foi a forma encontrada pelo grupo de promover o aparecimento de novos autores. "Este prêmio não só permite descobrir uma obra original de grande qualidade, como também a publicação, depois, de uma série de originais que, mesmo não tendo ganhado o prêmio principal, mostraram grande qualidade", explica Amaral.

O original de Murilo Antonio de Carvalho vai ser publicado em janeiro. Quanto a outros concorrentes, Amaral ainda não sabe dizer. Mas: "Acordos estão sendo feitos neste mesmo instante."

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