Papa pede a líderes europeus que acolham migrantes à deriva
6 de janeiro de 2019
Resgatados por navios de ONGs alemãs, dezenas de refugiados estão há vários dias no Mar Mediterrâneo sem ter onde atracar. Enquanto Itália e Malta se recusam a recebê-los, Francisco faz apelo por solidariedade.
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O papa Francisco pediu neste domingo (06/01) a líderes europeus que parem de discutir sobre o destino de 49 migrantes resgatados por navios de ajuda humanitária no Mar Mediterrâneo e permitam que essas pessoas desembarquem com segurança em seus países.
O pontífice chamou a atenção para o caso, que se tornou uma crise internacional, diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, para a oração do Angelus.
"Migrantes resgatados no Mar Mediterrâneo por dois navios de ONGs estão à deriva há vários dias, esperando para poder desembarcar", disse o papa. "Faço um apelo urgente aos líderes europeus para que demonstrem alguma solidariedade concreta em respeito a essas pessoas."
O pedido de Francisco foi elogiado por várias vozes, entre elas a do líder da coligação italiana de esquerda Livres e Iguais, Nicola Fratoianni. "Como um não crente, obrigado, papa, por suas palavras sobre o martírio dos 49 migrantes", afirmou o deputado.
Nesta semana, a Comissão Europeia também se pronunciou sobre o caso, clamando aos Estados-membros que recebam os migrantes, dada a crescente preocupação com a condição dessas pessoas, a maioria à deriva no mar há mais de duas semanas.
Há 15 dias um navio da iniciativa alemã Sea-Watch resgatou 32 pessoas em perigo no mar, entre elas três menores desacompanhados, de 1, 6 e 7 anos de idade. Dias depois, em 29 de dezembro, uma embarcação da Sea-Eye, também alemã, salvou outros 17.
Os governos da Itália e da ilha de Malta, países banhados pelo Mar Mediterrâneo e os mais próximos dos navios, se recusaram a permitir que os navios atraquem em seus portos, reiterando sua recusa neste domingo, apesar dos apelos internacionais.
O ministro italiano do Interior, o populista de direita Matteo Salvini, reafirmou a um jornal italiano que "ninguém mais entra na Itália". "Esse é o fim da linha, e [a decisão] não vai mudar." No Twitter, ele acrescentou: "Os portos italianos estão e continuarão fechados".
Malta – que há poucos dias permitiu que os dois navios entrassem em suas águas para se proteger do mau tempo, embora não tenham permitido o desembarque dos resgatados – também insistiu que o país não receberá migrantes recusados por outros Estados.
"O governo deve encontrar um equilíbrio entre a proteção da vida humana e a proteção de Malta, evitando que ela seja ameaçada", afirmou o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, em entrevista a uma rádio neste domingo.
As ONGs responsáveis pelos resgates também se pronunciaram sobre o caso. A porta-voz da Sea-Watch na Itália, Giorgia Linardi, rechaçou o que chamou de "jogo da União Europeia".
"Nos dizem: fique em Malta! Vá para a Itália! Entre no porto! Assim, como um jogo da UE! Não é fácil. Nossas escolhas, certas ou erradas, sob forte pressão política e da mídia, são feitas na tentativa de proteger as pessoas a bordo e salvar outras", escreveu Linardi no Twitter.
Cerca de 68 milhões de pessoas se encontram atualmente em fuga: pelo mar, pelas montanhas, pelas estradas. A migração afeta todos os continentes. As rotas de fuga são as mais diversas. E todas são desoladoras.
Foto: Imago/ZUMA Press/G. So
Fuga por caminhão
O mais recente movimento migratório tem origem na América Central. Violência e fome levam milhares de pessoas a fugir de Honduras, Nicarágua, El Salvador e Guatemala. O destino: os Estados Unidos da América. Mas lá, o presidente Trump se mobiliza contra os imigrantes indesejados. A maioria dos refugiados permanece na fronteira mexicano-americana.
Foto: Reuters/C. Garcia Rawlins
Refugiados terceirizados
O governo conservador em Camberra não quer ter refugiados no país. Aqueles que conseguem chegar ao quinto continente são rigorosamente deportados. A Austrália assinou acordos com vários países do Pacífico, incluindo Papua Nova Guiné e Nauru, para alocar ali os refugiados em campos, cujas condições são descritas por observadores como catastróficas.
Foto: picture alliance/AP Photo/Hass Hassaballa
Os refugiados esquecidos
Hussein Abo Shanan tem 80 anos. Ele vive há décadas como refugiado palestino na Jordânia. O reino tem apenas dez milhões de habitantes. Entre eles, estão 2,3 milhões de refugiados palestinos registrados. Eles vivem, em parte, desde 1948 no país – após o fim da guerra árabe-israelense. Além disso, existem atualmente cerca de 500 mil imigrantes sírios.
Foto: Getty Images/AFP/A. Abdo
Tolerado pelo vizinho
A Colômbia é a última chance para muitos venezuelanos. Ali, eles vivem em acampamentos como El Camino, nos arredores da capital, Bogotá. As políticas do presidente Nicolás Maduro levaram a Venezuela a não conseguir mais suprir seus cidadãos, por exemplo, com alimentos e medicamentos. As perspectivas de volta a seu país de origem são ruins.
Foto: DW/F. Abondano
Fuga no frio
Pessoas em fuga, como estes homens na foto, tentam repetidamente atravessar a fronteira da Bósnia-Herzegovina para a Croácia. Como membro da União Europeia, a Croácia é o destino dos migrantes. Especialmente no inverno, essa rota nos Bálcãs é perigosa. Neve, gelo e tempestades dificultam a caminhada.
Foto: picture-alliance/A. Emric
Última parada Bangladesh?
Tempo de chuva no campo de refugiados de Kutupalong em Bangladesh. Mulheres da etnia rohingya, que fugiram de Myanmar, protegem-se com seus guarda-chuvas. Mais de um milhão de muçulmanos rohingya fugiram da violência das tropas de Myanmar para o vizinho Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo e que está sobrecarregado com a situação. Este é atualmente o maior campo de refugiados do planeta.
Foto: Jibon Ahmed
Vida sem perspectiva
Muitos recursos minerais, solos férteis: a República Centro-Africana tem tudo para estabelecer uma sociedade estável. Mas a guerra no próprio país, os conflitos nos países vizinhos e governos corruptos alimentam a violência na região. Isso faz com que muitas pessoas, como aqui na capital, Bangui, tenham que viver em abrigos.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Blackwell
Chegada à Espanha
Refugiados envoltos em cobertores vermelhos são atendidos pela Cruz Vermelha após sua chegada ao porto de Málaga. 246 imigrantes foram retirados do mar pelo navio de resgate Guadamar Polimnia. Cada vez mais africanos evitam agora a Líbia. Em vez disso, eles tomam a rota do Mediterrâneo Ocidental, a partir da Argélia ou Marrocos.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/J. Merida
Refugiados sudaneses no Uganda
Por muito tempo, Uganda foi um país dilacerado pela guerra civil. Atualmente, a situação se estabilizou em comparação com outros países africanos. Para esses refugiados do Sudão do Sul, a chegada a Kuluba significa, sobretudo, segurança. Centenas de milhares de sul-sudaneses encontraram refúgio no Uganda.