Papel da pizza na cura do câncer entre premiados do Ig Nobel
13 de setembro de 2019
Premiação é sátira do Nobel e destaca lado cômico da ciência, visando despertar interesse no tema. Outros estudos laureados envolvem temperatura dos testículos de carteiros e quantidade de saliva produzida por crianças.
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A edição de 2019 do Prêmio Ig Nobel, que celebra o lado cômico da ciência, agraciou nesta quinta-feira (13/09) os responsáveis por "avanços científicos" que "fazem as pessoas rirem, depois pensarem".
Entre os vencedores estão o estudo de um pesquisador italiano sobre a possiblidade de a pizza ajudar na cura do câncer e uma pesquisa de cientistas franceses sobre a temperatura dos testículos dos carteiros, intitulada "Assimetria Métrica do Escroto Humano".
A premiação, uma sátira do Prêmio Nobel que destaca organizações e cientistas que tenham tido ideias curiosas, é organizada pela revista satírica Anais das Pesquisas Improváveis. A cerimônia de entrega da 29ª edição do Ig Nobel ocorreu na Universidade de Harvard, em Cambridge, no estado americano de Massachusetts.
Outros laureados foram cientistas que avaliaram o prazer de se coçar e o inventor de uma máquina de trocar fraldas. Um psicólogo alemão foi agraciado por "descobrir que segurar uma caneta na boca faz as pessoas sorrirem – e depois descobrir que não faz".
Em seu discurso ao receber o prêmio, o italiano Silvano Gallus, que pesquisou o papel da pizza no combate ao câncer, disse ter descoberto que esse prato típico de seu país ajuda a evitar a morte, mas somente se for uma verdadeira pizza italiana. Ele, porém, fez uma ressalva: "Fiquem longe do salame."
Outros agraciados com a questionável honraria foram biólogos que descobriram que baratas mortas magnetizadas se comportam de maneira diferente de baratas vivas magnetizadas, além de uma equipe de cientistas japoneses que calculou quanta saliva uma criança de 5 anos pode produzir diariamente. O resultado? 500 mililitros de saliva por dia.
Os pesquisadores holandeses Andreas Voss e Timothy Voss, por sua vez, examinaram bactérias em cédulas de dinheiro e concluíram que a moeda romena, o leu, é a que espalha infecções mais facilmente. Ao serem perguntados sobre como evitar o problema, eles sugeriram a utilização de pagamentos com cartão e eletrônicos.
Também foi premiada uma equipe internacional de cientistas que tentou responder à seguinte pergunta: "Como os vombates [animais marsupiais encontrados na Austrália] conseguem fazer cocô em forma cúbica?"
Como ocorre todos os anos, as premiações foram entregues por – verdadeiros – vencedores do Prêmio Nobel. Estavam presentes na cerimônia Eric Maskin (Nobel de Economia em 2007), Richard Roberts (Nobel de Medicina em 1993) e Jerome Isaac Friedman (Nobel de Física em 1990).
O prêmio visa "celebrar o incomum, honrar o criativo e despertar o interesse das pessoas na ciência, medicina e tecnologia", dizem os organizadores do evento, que conta com os tradicionais arremessos de aviões de papel no palco.
Os vencedores do Ig Nobel recebem tradicionalmente um prêmio de 10 trilhões de dólares zimbabuanos – praticamente sem valor algum – e um aperto de mão de um verdadeiro vencedor do Prêmio Nobel.
Os laureados foram ainda convidados para realizar palestras gratuitas no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) no próximo sábado, quando terão a chance de explicar melhor suas pesquisas. As aulas serão transmitidas ao vivo na internet.
Por que Yasser Arafat, as Nações Unidas ou mesmo Barack Obama receberam o Nobel da Paz? Esta pergunta é feita praticamente após cada anúncio em Oslo. A crítica ao prêmio é tão antiga quanto o próprio Nobel.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roald
Uma longa discussão
Já no primeiro Prêmio Nobel da Paz, para Henry Dunant, da Suíça (à esquerda), e Frederic Passy, da França (à direita), em 1901, a Comissão do Nobel estava dividida. Dunant fundou a Cruz Vermelha Internacional e, juntamente com Passy, iniciou as Convenções de Genebra. Os membros da comissão temiam que, ao tornarem a guerra "mais humana", as Convenções de Genebra pudessem torná-la mais aceitável.
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Beligerante e pacificador
O ex-presidente americano Theodore Roosevelt nunca foi considerado um pacifista, por causa de seu envolvimento na Guerra Hispano-Americana. Ele ajudou os cubanos a se libertarem do colonialismo, mas logo tropas americanas chegariam a Cuba, garantindo aos EUA o controle da ilha. Roosevelt recebeu o prêmio em 1906 por outro motivo: seus esforços de paz na guerra russo-japonesa.
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Pacificador racista
O 28º presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, recebeu o Nobel da Paz de 1919 "por suas contribuições para o fim da Primeira Guerra Mundial e a fundação da Liga das Nações", precursora da ONU. Mas ao mesmo tempo, ele acreditava na supremacia dos brancos e era um defensor da segregação racial
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Prêmio da paz sem paz
O então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e o líder norte-vietnamita Le Duc Tho tiveram papel decisivo nos Acordos de Paz de Paris de 1973, para acabar com a guerra no Vietnã. Mas Tho se recusou a aceitar o prêmio, alegando que ainda não havia paz. De fato, enquanto os EUA se retiraram em grande parte após os acordos, o conflito no Vietnã, no Laos e no Camboja duraria mais dois anos.
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De golpista a Nobel da Paz
Em 1978, Anwar Sadat (esq.), do Egito, e Menachem Begin (dir.), de Israel, acertaram um acordo de paz entre os dois países, sob mediação de Jimmy Carter (centro). No mesmo ano, Sadat e Begin receberam o Nobel. O prêmio para Sadat, no entanto, causou polêmica, pois ele participou do golpe de 1952, que derrubou o rei Farouk.
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Manutenção da paz e omissão
Os capacetes azuis são as forças de paz das Nações Unidas. Pelo seu trabalho, eles receberam o Nobel em 1988. No entanto, não faltaram críticas nos anos seguintes: as tropas foram acusadas de abusar sexualmente de mulheres e crianças e forçá-las à prostituição. No genocídio de Ruanda e no massacre de Srebrenica, foram criticados por não intervirem.
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Heroína vencida
Quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi era um símbolo da luta sem violência pela democracia na sua terra natal, Myanmar. Nos anos de 2010, no entanto, ela caiu em descrédito, acusada de não proteger a minoria muçulmana rohingya do genocídio em 2017. Não lhe foi permitido tomar o poder, mas o seu partido tem a maioria no parlamento.
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O homem de duas caras
Embora tenha sido considerado um defensor do apartheid antes de ser presidente da África do Sul, Frederik de Klerk desempenhou um papel fundamental para o fim do regime de segregação racial em seu país. Ele tirou da prisão Nelson Mandela e outros políticos do Congresso Nacional Africano, defendeu a liberdade de imprensa e aboliu as leis do apartheid. Em 1993, ele e Mandela receberam o Nobel.
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"Ganhador indigno"
Também houve polêmica em 1994, quando o chefe da Organização para a Liberação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, juntamente com o então premiê israelense, Yitzhak Rabin, e seu ministro de Relações Exteriores, Shimon Peres, recebeu o prêmio por seus esforços de paz no Oriente Médio. Um político norueguês até renunciou em protesto contra o Comitê do Nobel, chamando Arafat de "ganhador indigno".
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Um mundo melhor graças à ONU?
As Nações Unidas e seu então secretário-geral, Kofi Annan, receberam o Nobel da Paz de 2001 "por seu trabalho para um mundo melhor organizado e mais pacífico". Mas os críticos acusam a ONU de não defender esses ideais e de fracassar frequentemente, porque alguns países podem bloquear resoluções e ações conjuntas no Conselho de Segurança.
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Louros antecipados para Obama
Barack Obama estava na presidência dos EUA há nove meses quando ganhou o prêmio em 2009 por seus "esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos". Os críticos consideraram a homenagem prematura. Mais tarde, Obama se notabilizaria por expandir ataques com drones no Iêmen e na Líbia, algo altamente controverso, de acordo com o direito internacional.
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"Luta não-violenta" e ajuda a criminoso de guerra
O ex-presidente da Libéria Charles Taylor foi condenado por crimes de guerra vinculados a milhares de assassinatos, estupros e tortura. Os críticos acusam sua sucessora, Ellen Johnson Sirleaf, ministra das Finanças de Taylor, de tê-lo apoiado na violência e corrupção. No entanto, em 2011, ela ganhou o Nobel por sua "luta não violenta pela segurança das mulheres".
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Tratamento questionável a requerentes de asilo
Cercas de arame farpado, detenção, condições desumanas nos campos de refugiados: ativistas dos direitos humanos criticam as políticas de refugiados da União Europeia há anos. Mesmo assim, a UE foi homenageada em 2012 pelo "avanço da paz e da reconciliação, da democracia e dos direitos humanos na Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Um pouco de paz
Abiy Ahmed mudou muito desde que se tornou primeiro-ministro etíope em 2018. No impasse do conflito fronteiriço com a vizinha Eritreia, a aproximação diplomática e a abertura das fronteiras foram incluídas. Mas o processo de paz estagnou - e enquanto Abiy goza da fama do Prêmio Nobel, na Eritreia Isayas Afewerki continua governando com mão de ferro.