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Paquistanesa Malala recebe Prêmio Sakharov de direitos humanos

Esther Felden (av)10 de outubro de 2013

Na luta pelo direito à educação no Paquistão, a estudante foi vítima de atentado por talibãs, sobreviveu e acaba de lançar sua autobiografia. Cotada para o Nobel da Paz, ela continua a ser ameaçada pelos radicais.

Foto: Andrew Cowie/AFP/Getty Images

Imediatamente após o lançamento de sua autobiografia, a paquistanesa Malala Yousafzai foi laureada pelo Parlamento Europeu com o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (10/10) pelo presidente do órgão, Martin Schulz, que louvou a colegial de 16 anos como "uma pessoa de coragem exemplar, num país onde meninas são alvo de atiradores".

A distinção, que recebe o nome do dissidente russo e Prêmio Nobel da Paz Andrei Sakharov, é concedida desde 1988 para homenagear pessoas ou organizações que dedicaram ou dediquem a vida à defesa dos direitos humanos e das liberdades civis.

Alvo dos talibãs

O titulo do livro é bastante singelo: I am Malala – "Eu sou Malala". Subtítulo: "A menina que os talibãs queriam matar por lutar pelo direito à educação". Na capa, o retrato da adolescente de olhar sério e lenço na cabeça. A autobiografia de Malala foi lançada exatamente um ano após ela ter sido atacada e ferida gravemente pelos radicais islâmicos, em seu país, o Paquistão.

Em 9 de outubro de 2012, Malala voltava da escola para casa com amigas. Em sua terra natal, o Vale do Swat, ela era uma pessoa conhecida – e mal vista pelo Talibã. Filha de um professor, lutava abertamente para que meninas também pudessem frequentar a escola, contrariando as ordens dos fundamentalistas. Essa meta, ela também divulgara num blog para a emissora britânica BBC.

Naquela terça-feira, os militantes talibãs invadiram o ônibus da escola, perguntaram "Quem é Malala?" e dispararam um tiro contra a cabeça da adolescente. Sua situação parecia grave: após uma operação de emergência, ela foi transportada de avião para a Inglaterra onde, durante os meses seguintes, lutou para sobreviver ao atentado. Ela vive no país até hoje, juntamente com a família.

Despertar como ícone

"Graças a Deus, não estou morta", foi seu primeiro pensamento ao despertar do coma num hospital em Birmingham, quase uma semana após o ataque, revela a jovem autora em seu livro. E prossegue: "Mas eu não tinha nenhum mau pensamento para o homem que atirou em mim. Eu não queria vingança."

Malala e familiares no hospital em BirminghamFoto: picture-alliance/dpa

Seu restabelecimento foi seguido de perto pela mídia. O destino transformou Malala em ícone, em figura simbólica na luta contra a repressão de meninas e mulheres. E logo ficou claro que o Talibã fracassara em seu intento de fazê-la calar. A jovem paquistanesa retoma a palavra, destemida, e agora a partir de um palco muito maior do que antes.

Também na autobiografia, ela resume seu principal desejo: "Quero que todos saibam: não peço ajuda para mim mesma. Só desejo apoio para a minha causa: paz e educação".

No dia de seu aniversário, em 16 de julho de 2013, Malala falou à Assembleia Jovem da ONU em Nova York, onde foi aplaudida de pé. Ela foi convidada pela rainha da Inglaterra. E por seu engajamento incansável, tem sido celebrada no Ocidente e laureada com numerosos prêmios, entre os quais o Sakharov e o Prêmio Internacional da Paz da Infância. Além disso, foi nomeada Embaixadora da Consciência, pela ONG Anistia Internacional; e é cotada para o Prêmio Nobel da Paz, cujo vencedor será divulgado nesta sexta-feira.

Após atentado, muitos foram às ruas rezar pela ativista paquistanesaFoto: AP

Admiração, mas também ressentimento

"Se ela receber essa honra, é quase como se todas nós tivéssemos ganhado o prêmio", comenta a estudante Gul Panrha, do Vale do Swat. Fazal Khaliq, professor da antiga escola de Malala Yousafzai, concorda, extremamente orgulhoso pela ex-aluna.

"Através do que sofreu, ela fez um bem para nossa terra. Antes, o nome do Vale do Swat era associado ao terrorismo", agora, graças a ela, todos no mundo sabem que também há, na região, gente pacífica e com sede de saber. explica em entrevista à DW.

No entanto, no Paquistão a jovem ativista não tem apenas adeptos – pelo contrário. Britta Petersen, diretora da Fundação Heinrich Böll na capital paquistanesa Islamabad, relata à DW: "Depois do atentado e da saída dela do país, e em especial após o discurso nas Nações Unidas, houve aqui no país uma campanha francamente nojenta contra ela".

Há meses Petersen vem observando as diferentes formas como a população interpreta o empenho e dedicação da adolescente. O tema tem grande carga emocional. "Acusam o pai de Malala de instrumentalizar a própria filha. Ele é insultado de proxeneta, e ela de 'prostituta do Ocidente'."

Malala recebe prêmio Ana Politkovskaya da organização de direitos humanos RAW in WarFoto: Reuters

Planos de retornar

Por ocasião do lançamento de sua autobiografia, Malala Yousafzai concedeu uma entrevista à TV BBC, onde defendeu que haja um diálogo com o Talibã. Este seria "o melhor meio de resolver problemas e lutar contra a guerra". Além disso, ela expressou o desejo de retornar o mais breve possível para o Paquistão, a fim de se dedicar à atividade política em seu país.

Britta Petersen, no entretanto, considera a intenção pouco realista. "No momento, um dos motivos por que Malala está vivendo na Inglaterra é porque, a rigor, [o Paquistão] é perigoso demais para ela. Assim, na opinião da diretora da fundação alemã, são "antes reduzidas" as chances de que Malala realize o sonho de poder retornar e influenciar, de fato, o futuro do Paquistão.

Logo após o anúncio do Prêmio Sakharov, o Talibã paquistanês afirmou que Malala não fez “nada” para merecer a honraria e se comprometeu a voltar a tentar matá-la.

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