Para alemães, decisão olímpica está longe de ser revanche
Philip Verminnen20 de agosto de 2016
Enquanto Brasil busca dar fim à obsessão pelo ouro inédito e quer vingar o 7 a 1, Alemanha joga com a base da seleção sub-21, inúmeros desfalques e pouco destaque na imprensa. Final nem mesmo será transmitida na íntegra.
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No penúltimo dia de disputas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, neste sábado (20/08), o Brasil terá sua quarta oportunidade de conquistar a tão sonhada medalha de ouro no futebol – depois das pratas em Los Angeles (1984), Seul (1988) e Londres (2012). Além da busca pelo único título que falta à seleção brasileira masculina, a decisão contra a Alemanha é cercada de expectativas também devido as ainda vívidas memórias do fatídico 7 a 1 da Copa do Mundo de 2014.
Durante a semifinal vencida pela seleção alemã contra a Nigéria, o canto de "Alemanha, pode esperar, sua hora vai chegar" era entoado pela torcida presente na Arena Corinthians. Um sentimento de revanche, que, no entanto, não encontra correspondência na Alemanha.
O torneio olímpico de futebol não tem grande apelo na Alemanha. A equipe enviada ao Brasil é praticamente a seleção sub-21 com inúmeros desfalques, já que o treinador Horst Hrubesch teve que obedecer a uma série de pedidos de clubes e da Federação Alemã de Futebol (DFB) na convocação, e a decisão no Maracanã tem recebido pouco destaque na imprensa esportiva alemã.
Atual campeã mundial e uma das potências do futebol, a Alemanha não demonstra nenhum pingo de obsessão pela conquista do torneio olímpico, apesar de, também para ela, tratar-se de um título inédito. Nenhuma equipe alemã – seja antes da Segunda Guerra, seja depois da Reunificação – conquistou a medalha de ouro: exceção feita à Alemanha Oriental, campeã olímpica nos Jogos de Montreal, em 1976.
O torneio olímpico de futebol dos Jogos do Rio de Janeiro é o primeiro disputado pela Alemanha depois da Reunificada. A última participação alemã havia sido em 1988, em Seul, quando a equipe que contava com um jovem Jürgen Klinsmann foi derrotada nos pênaltis na semifinal justamente pelo Brasil, que tinha um esquadrão, com Romário, Bebeto, Careca, Taffarel, Jorginho, Neto, entre outros.
Nem a quebra do longo hiato de ausência em Jogos Olímpicos nem o retorno ao país onde conquistara o título da Copa do Mundo de 2014 entusiasmaram os responsáveis pela seleção alemã. Com a meta declarada de alcançar a semifinal, a DFB enviou ao Brasil uma equipe enfraquecida.
Inúmeras limitações na convocação
Na convocação, Hrubesch enfrentou uma série de limitações. Como o torneio olímpico não é um evento organizado pela Fifa, os clubes não são obrigados a liberarem seus atletas. A DFB e os clubes, então, selaram o seguinte compromisso: apenas dois jogadores profissionais por clube; nenhum atleta que esteve na Eurocopa; nenhum jogador que trocou de clube na última janela de transferências; e nenhum do Borussia Mönchengladbach e do Hertha Berlim, que disputam as fases qualificatórias de Liga dos Campeões e Liga Europa, respectivamente.
Hrubesch teve então de abrir mão de peças importantes, como o polivalente Joshua Kimmich (Bayern de Munique), Leroy Sané (recentemente vendido ao Manchester City por 50 milhões de euros), o volante Julian Weigl (Borussia Dortmund), o meia Mahmoud Dahoud (Mönchengladbach), o goleiro titular Timo Wellenreuther (Mallorca, da Espanha) e até do capitão da campanha classificatória do Europeu Sub-21, o atacante Kevin Volland (que trocou o Hoffenheim pelo Bayer Leverkusen).
Do elenco de 18 jogadores, apenas o zagueiro Matthias Ginter (Borussia Dortmund) esteve na Copa do Mundo de 2014, mas não atuou um minuto sequer. Alguns têm breves experiências na Liga dos Campeões, como o atacante Julian Brandt (Bayer Leverkusen) e o meia Max Meyer, do Schalke 04 e conhecido por ser o único alemão que saiu do futsal para o futebol de campo. Mas completam o elenco também desconhecidos, como Grischa Prömel, atacante do Karslruhe, da segunda divisão.
Segundo dados do site especializado transfermarkt.de, o valor de mercado do time titular da Alemanha contra a Nigéria é de 107 milhões de euros, praticamente o equivalente de Neymar, avaliado em 100 milhões de euros. A disparidade é imensa: o único jogador do elenco alemão que já conquistou um título nacional é o volante Sven Bender (Borussia Dortmund), um dos três jogadores permitidos acima de 23 anos.
Sem transmissão na íntegra na TV
As diferenças entre as expectativas, a pressão popular e a importância da decisão para Brasil e Alemanha podem ser medidas na cobertura dos principais jornais e portais esportivos.
Na Alemanha, o primeiro reencontro entre Brasil e Alemanha depois do Mundial de 2014 não é tratado como revanche, nem como chance de redenção para o Brasil. "Uma vitória não apagará a vergonha de Belo Horizonte. Mas uma derrota seria um desastre para os brasileiros", escreveu o site Spiegel Online. Os poucos artigos publicados seguem a linha: a derrota de 2014 não pode ser vingada nem apagada num torneio olímpico.
No portal da revista especializada Kicker, principal periódico esportivo do país, o duelo olímpico tem menos destaque do que, por exemplo, o lucro do Borussia Dortmund na temporada passada, os jogos da Copa da Alemanha, do fracasso do hipismo em conseguir uma medalha e até mesmo de uma entrevista com Zico. Se o ouro vier, certamente será celebrado – mas tanto quanto foram as medalhas na canoagem, na ginástica artística ou no tiro esportivo.
Assim como aconteceu no decorrer do torneio, a final no Maracanã nem mesmo será transmitida na íntegra pela emissora ARD, mas em paralelo com outras competições. O futebol é o esporte mais popular na Alemanha, mas não é onipresente. Na televisão alemã, a final do futebol terá de dar espaço para disputas que incluem atletas alemães em outros esportes, como o pentatlo moderno ou a luta olímpica.
Os medalhistas brasileiros na Rio 2016
Vôlei, futebol, canoagem, vôlei de praia, vela, salto com vara, judô, ginástica artística, argolas, maratona aquática, boxe, taekwondo e tiro deram alegrias aos brasileiros nos Jogos do Rio.
Foto: Getty Images/AFP/P. Guyot
Tchau, fantasma!
Depois das derrotas para os Estados Unidos em Pequim 2008 e da incrível virada sofrida para a Rússia quatro anos depois, a seleção brasileira masculina de vôlei afastou de vez os fantasmas das duas últimas finais olímpicas e venceu a Itália neste por 3 sets a 0 (parciais de 25 a 22, 28 a 26 e 26 a 24) para conquistar o ouro, o terceiro da história, nos Jogos do Rio de Janeiro. (21/08)
Foto: Getty Images/T. Pennington
A medalha inesperada
Maicon Siqueira conquistou a segunda medalha do taekwondo brasileiro em Jogos Olímpicos. O lutador mineiro faturou o bronze na categoria acima de 80kg e igualou o feito de Natália Falavigna (Pequim 2008). Maicon, 51º colocado no ranking mundial do taekwondo, chegou a dividir o esporte com os empregos de pedreiro e garçom. "É um sonho. Só estando aqui dentro para entender", disse, emocionado.
Foto: Reuters/I. Kato
Fim do trauma: Brasil é ouro!
Foi sofrido, mas foi! Após empate em 1 a 1, o Brasil derrotou a Alemanha apenas nos pênaltis e conquistou a tão sonhada medalha de ouro. O ciclo está completo: o Brasil possui agora todos os títulos do futebol masculino. Os heróis diretos no Maracanã foram o goleiro Wéverton, que defendeu a única cobrança desperdiçada, e Neymar, autor de um golaço de falta e que converteu o pênalti decisivo.
Foto: Getty Images/AFP/L. Griffiths
Isaquias Queiroz, o maior brasileiro
Ao lado de Erlon de Souza, Isaquias Queiroz conquistou a prata na canoa dupla 1000m. Desta forma, o canoista de Ubaitaba se tornou o 1º brasileiro com três medalhas numa edição de Jogos Olímpicos, superando César Cielo (ouro e bronze em Pequim 2008), Gustavo Borges (prata e bronze em Atlanta 1996) e Afrânio da Costa (prata e bronze) e Guilherme Paraense (ouro e bronze), ambos na Antuérpia 1920).
Foto: Getty Images/R. Pierse
Ouro nas areias de Copabacana
A dupla de vôlei de praia Alison e Bruno conquistou o ouro na Arena de Copacabana, após derrotar os italianos Paolo Nicolai e Daniele Lupo por 2 sets a 0 em 45 minutos de jogo. Alison tinha sido prata ao lado de Emanuel, em Londres. Bruno é sobrinho do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt. Este foi a quinta medalha de ouro do Brasil na Rio 2016, igualando o recorde de Atenas 2004.
Foto: Getty Images/R.Carr
Filhas de peixe, peixinhos dourados são!
Martine Grael e Kahena Kunze venceram a regata final e conquistaram a medalha de ouro na classe 49er FX. Elas são as primeiras velejadoras brasileiras medalhistas de ouro em Jogos Olímpicos. Além disso, confirmaram a tradição de suas famílias na vela: elas são filhas de Torben Grael, maior medalhista olímpico brasileiro, e Claudio Kunze, campeão mundial de 1973 da classe Pungüim.
Foto: Getty Images/AFP/W. West
Isaquias entra para grupo seleto
Com o bronze na canoa individual (C1) 1000m, Isaquias Queiroz entrou para um seleto grupo de brasileiros que conquistaram duas medalhas em uma edição de Jogos Olímpicos. Além dele, conseguiram César Cielo (ouro e bronze em Londres 2012), Gustavo Borges (prata e bronze em Atlanta 1996), Afrânio da Costa (prata e bronze) e Guilherme Paraense (ouro e bronze), ambos na Antuérpia 1920.
Foto: Getty Images/P. Walter
Ágatha e Bárbara ficam com a prata
Não deu para as campeãs mundiais de 2015. A dupla Ágatha e Bárbara Seixas perdeu para as alemãs Laura Ludwig e Kira Walkenhorst por 2 sets a 0 e ficou com a prata no vôlei de praia. É a sétima medalha olímpica do vôlei de praia feminino. O ouro, porém, não vem desde os Jogos de Atlanta, em 1996, quando Jaqueline Silva e Sandra Pires venceram o duelo brasileiro contra a dupla Adriana e Mônica.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Baiano porreta!
Nascido em Salvador, Robson Conceição tem uma vida recheada de quedas e superações, de lutas de rua e empregos de vendedor de picolé ou como ajudante de pedreiro. Depois de insucessos nos Jogos de Pequim e Londres, o pugilista deu a volta por cima e conquistou – na frente da torcida brasileira – o primeiro ouro olímpico do boxe brasileiro. Histórico!
Foto: Getty Images/C. Petersen
Canoísta de nascimento
Nascido em Ubaitaba (BA), que em tupi-guarani significa "Cidade das Canoas", Isaquias Queiroz entrou para a história do esporte nacional como o primeiro canoísta brasileiro a conquistar uma medalha em Jogos Olímpicos. A prata veio na categoria C1 1000m. Isaquias já ganhou o Mundial de canoagem em provas individuais, mas nas duas vezes foi na categoria C1 500m, que não é mais olímpica.
Foto: Reuters/D. Sagolj
Ouro e recorde
Thiago Braz fez história e se sagrou campeão olímpico do salto com vara, superando o recordista mundial e vencedor da prova em Londres 2012, o francês Renaud Lavillenie, para delírio do público presente no Estádio Olímpico Nílton Santos, o Engenhão. O paulista da cidade de Marília, de apenas 22 anos, alcançou 6m03, o que representa o novo recorde olímpico.
Foto: Getty Images/S. Botterill
Zanetti não quebra jejum histórico
Arthur Zanetti é superado pelo seu principal rival, o grego Eleftherios Petrounis, e fica com a medalha de prata na final das argolas. O ginasta paulista tinha a chance de se tornar o primeiro bicampeão olímpico consecutivo em competições individuais desde 1956, quando Adhemar Ferreira da Silva conquistou seu segundo ouro no salto triplo nos Jogos de Melbourne.
Foto: Reuters/M. Blake
A pioneira das águas
Após desqualificação de rival, a paulistana Poliana Okimoto conquistou a medalha de bronze na maratona aquática de 10 quilômetros. A conquista é histórica para a natação brasileira: é a primeira medalha feminina na natação olímpica do Brasil. Uma marca perdurava desde 1932, em Los Angeles, quando Maria Lenk foi a primeira nadadora brasileira em Jogos Olímpicos.
Foto: Getty Images/A. Pretty
Diego Hypólito e Arthur Nory
Diego Hypólito e Arthur Nory mostram as medalhas, de prata e bronze, que receberam após desempenho surpreendente na final individual do solo na ginástica artística masculina. Os dois choraram muito após a confirmação de que subiriam ao pódio, emocionando também os torcedores presentes na Arena Olímpica. Pela primeira vez, o Brasil conquista duas medalhas individuais numa mesma prova.
Foto: Getty Images/AFP/B. Stansall
Baby, baby, baby...
O judoca paranaense Rafael Silva, o "Baby", desbancou o uzbeque Abdullo Tangriev, prata em Pequim 2008, e conquistou a medalha de bronze na categoria pesado (mais de 100kg), repetindo o feito de Londres 2012. "Baby" entra assim para um seleto grupo de judocas brasileiros que chegaram ao pódio olímpico em duas oportunidades: Aurélio Miguel, Tiago Camilo, Leandro Guilheiro e Mayra Aguiar. (12/08)
Foto: Reuters/M. Sezer
Mayra Aguiar repete Londres 2012
A judoca gaúcha Mayra Aguiar, de 25 anos, conquistou a medalha de bronze na categoria meio-pesado (até 78kg) nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, repetindo o resultado alcançado em Londres, em 2012. "É uma satisfação para o atleta conquistar uma medalha olímpica. Agora tem Tóquio 2020", vibrou a campeão mundial de 2014.
Foto: Reuters/S. Nenov
Da Cidade de Deus para o mundo
A judoca Rafaela Silva superou na final a mongolesa Sumiya Dorjsuren por um wazari e se tornou campeão olímpica da categoria até 57kg. Nascida e criada na Cidade de Deus, a apenas oito quilômetros do local de disputa na Rio 2016, Rafaela superou eliminação polêmica nos Jogos de Londres e até racismo para se tornar a segunda brasileira campeã olímpica no judô.
Foto: Getty Images/AFP/T. Kitamura
Felipe Wu encerra jejum de 96 anos
O paulistano Felipe Wu conquistou a prata na prova de pistola de ar 10 metros e encerrou um jejum de 96 anos sem medalhas para o Brasil no tiro esportivo. A última havia sido nos Jogos da Antuérpia, em 1920, quando Guilherme Paraense conquistou o primeiro ouro brasileiro. Wu finalizou a competição com 202,1 pontos, apenas 0,4 pontos atrás do campeão olímpico, o vietnamita Xuan Vinh Hoang.