Após a Reunificação, alemães não têm sentimento de unidade
Volker Wagener (fc)2 de outubro de 2015
Vinte e cinco anos depois, alemães dizem que a reunificação do país é bem-sucedida e serve de modelo, mas que ainda há o que fazer para acabar com as diferenças entre Leste e Oeste, conclui pesquisa encomendada pela DW.
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Há cada vez menos ossis e wessis, constatou recentemente o presidente da Alemanha, Joaquim Gauck, com satisfação. E ele está certo. Um quarto de século depois da Reunificação, o sentimento de unidade prevalece sobre o antigo padrão Leste-Oeste, principalmente entre os jovens com menos de 30 anos, de acordo com uma pesquisa do instituto alemão Infratest-Dimap, encomendada pela DW.
Os pesquisadores ouviram mais de mil alemães maiores de 18 anos sobre a Reunificação. Termos como ossi – como os antigos alemães-orientais eram chamados popularmente – e wessi – para os alemães-ocidentais – estão caindo em desuso. Para um jovem que, por exemplo, nasceu em Dortmund (Oeste) e cresceu em Dresden (Leste), essa divisão não faz mais muito sentido.
Juventude otimista
As pessoas que hoje têm entre 18 e 29 anos fazem uma avaliação positiva da Reunificação. Para 90% delas, trata-se de um exemplo para para outros países. Quase 80% afirmam que a unidade do país é bem-sucedida – um percentual maior do que entre os seus pais e avós.
Mesmo nos casos em que a Reunificação não se provou tão fácil, os participantes nascidos em anos próximos da queda do Muro de Berlim têm uma visão simpática sobre o assunto: apenas 58% afirmam que a Reunificação continua inacabada, o que também é bem menos que os mais velhos.
E as pessoas que só conhecem o Muro de Berlim de livros, filmes e da história têm pouco interesse sobre os custos financeiros da unificação. Apenas 30% dizem que ela custou demais.
Diante desses números, não é uma surpresa que os mais jovens também façam um balanço pessoal positivo. Dois terços dos entrevistados entre 18 e 29 anos afirmam que foram beneficiados pela Reunificação, enquanto que, entre os mais velhos, apenas um em cada dois afirma o mesmo.
Satisfeitos com a Reunificação
O desemprego no Leste continua sendo maior do que no Oeste. Mesmo assim, dois entre cada três alemães orientais estão satisfeitos com a Reunificação – isso é 10% menos que na parte ocidental.
Perguntados se o processo da reunificação já está concluído, os alemães orientais são mais críticos do que os ocidentais.
Por outro lado, oito em cada dez entrevistados afirmam que a unificação alemã é exemplar e poderia servir de modelo para outros países. Em relação a esse ponto, os alemães do Leste e do Oeste estão de acordo (respectivamente 77% e 84% dos entrevistados).
Apesar de os alemães orientais serem mais pessimistas na avaliação global da Reunificação, eles são mais otimistas quanto às experiências pessoais. Mais de dois terços deles dizem que se beneficiaram com o processo, enquanto que, no país como um todo, um em cada seis diz que a queda do Muro e a Reunificação trouxe mais consequências desfavoráveis.
East Side Gallery completa 25 anos
Em fevereiro de 1990, 118 artistas começaram a pintar um trecho do Muro de Berlim. Era o surgimento da East Side Gallery. Até setembro, mais de 100 imagens estariam expostas na antiga fronteira entre as Alemanhas.
Foto: picture-alliance/dpa/Karin Kaper Film
Atração turística
A East Side Gallery é um dos lugares mais fotografados em Berlim. Em um trecho de 1,3 quilômetros do antigo Muro, vários artistas imortalizaram suas ideias em imagens. Quando pintou o beijo fraternal entre Leonid Brezhnev e Erich Honecker, Dimitri Vrubel era um desconhecido estudante de arte em Moscou. A imagem tornou-se um ícone, e ele ficou famoso internacionalmente.
Foto: Reuters/F. Bensch
Memória da "zona da morte"
A East Side Gallery se estende pelo “Hinterlandmauer” (“muro do interior”), que passava pelo lado da Alemanha Oriental, no leste da cidade, paralelamente ao Muro de Berlim. Entre ele e o muro da fronteira havia a chamada “zona da morte”, com torres de vigilância e patrulhas. Os soldados tinham ordem para disparar nas pessoas que tentassem fugir da República Democrática Alemã.
Foto: Fotolia/creedline
Museu a céu aberto
A East Side Gallery foi inaugurada em 28 de setembro de 1990. Muito da memória coletiva dos cidadãos foi transformado em obra de arte aqui. Algumas gravuras estão em cartões postais, como a figura de Thierry Noir - “Homenagem à nova geração”. Ele é considerado o primeiro artista de rua a pintar o Muro de Berlim. Desde novembro de 1991, a East Side Gallery é um monumento tombado.
Foto: DW/Frederike Müller
Restauração controversa
O Muro está exposto ao vento, a chuva e às pessoas, por isso precisa ser restaurado periodicamente. Em outubro de 2008, todos os desenhos tiveram de ser removidos e novamente refeitos pelos artistas. Alguns se recusaram, mas a maioria colaborou. Assim, grande parte das figuras preservada.
Foto: Getty Images/ Sean Gallup
"Flash mob" artístico
O representante alemão da Pop Art Jim Avignon teve a sua pintura “Doin it cool for The East Side” imortalizada no Muro em 1990. Em 2013, ele chamou a atenção da imprensa por fazer uma sobreposição à sua gravura com um grupo de estudantes de arte, sem autorização oficial. Muitos artistas criticaram a intervenção sigilosa.
Foto: Reuters
Remoção e protestos
Para as obras de um novo prédio, seis metros do antigo Muro tiveram que ser removidos, de modo a permitir a entrada de caminhões e operários. A obra provocou protestos de celebridades e berlinenses, mas a iniciativa não teve sucesso. Enquanto isso, uma torre residencial está sendo construída e já tem 80%. O edifício deve ser finalizado ainda em 2015.
Foto: picture-alliance/dpa
O Muro se deteriora
Apesar de muitos artistas fazerem as reparações de suas obras ou reforçarem alguns desenhos, muitas das imagens estão desaparecendo aos poucos ou se tornando rabiscos desfigurados. "O Muro está em um estado lamentável”, opina o artista alemão Thomas KIingenstein, antigo opositor da Alemanha Oriental, que também pintou uma parte da East Side Gallery.
Foto: picture-alliance/dpa/Hans Wiedl
Cinema e ativismo
Em Janeiro de 2015, foi lançado o documentário “Berlin East Side Gallery”. Os cineastas Karin Kaper e Dirk Szuszies fizeram um trabalho sobre as várias mudanças sofridas pela galeria a céu aberto desde a restauração, em 2009. O artista Thomas Klingenstein diz ter esperanças de que “o filme contribua para finalmente proteger um pedaço do Muro.”