Paraguai anuncia retorno da embaixada em Israel a Tel Aviv
5 de setembro de 2018
Em resposta, governo israelense decide fechar sua representação diplomática em Assunção. Embaixada paraguaia havia sido transferida para Jerusalém por decisão de ex-presidente em seus últimos meses no cargo.
O ex-presidente paraguaio Horacio Cartes e o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, à época da inauguração em JerusalémFoto: Reuters/S. Scheiner
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O Paraguai anunciou nesta quarta-feira (05/09) que vai transferir sua embaixada em Israel de volta para Tel Aviv, poucos meses depois de ter inaugurado sua representação diplomática em Jerusalém. Em represália, o governo israelense decidiu fechar sua embaixada em Assunção.
A decisão foi tomada pelo novo presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, visando "contribuir para a intensificação dos esforços diplomáticos regionais e internacionais que buscam alcançar uma paz ampla, justa e duradoura no Oriente Médio".
A transferência da embaixada paraguaia para Jerusalém havia sido decidida em maio pelo antecessor de Benítez, o ex-presidente Horacio Cartes, pouco depois de Donald Trump ter anunciado que os Estados Unidos iriam mudar sua própria embaixada para a cidade disputada.
Cartes, que deixou o cargo em meados de agosto para dar lugar a Benítez, chegou a participar da inauguração da nova sede da embaixada em Jerusalém, em 21 de maio.
O novo presidente, que já havia sido eleito à época da transferência, questionou a decisão na ocasião, alegando não ter sido consultado pelo presente governo, e antecipou que a mudança de endereço seria analisada "com maturidade" quando assumisse o poder.
O ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni, afirmou nesta quarta-feira, após uma reunião com Benítez, que o retorno da representação diplomática para Tel Aviv será feito de "forma imediata". O endereço deve permanecer o mesmo da antiga embaixada.
Segundo Castiglioni, o Paraguai entende que o status de Jerusalém, disputada por palestinos e israelenses, deve ser discutido pelas partes envolvidas através de negociações. Ele também afirmou que seu país sempre foi previsível em questão de política externa, e o novo governo deseja que essa postura continue nos próximos anos.
O governo de Israel, no entanto, não enxergou a decisão com bons olhos. Em resposta, o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, ordenou o fechamento da embaixada israelense na capital do Paraguai, Assunção.
"Vemos com grande gravidade a excepcional decisão do Paraguai, que turvará as relações entre os dois países", informou, em nota, o Ministério do Exterior israelense, sem dar mais detalhes.
Cidade disputada
A transferência de embaixadas em Israel representa uma questão complicada em termos de política internacional, uma vez que a decisão acarreta no reconhecimento de Jerusalém, em vez de Tel Aviv, como capital do Estado israelense, rompendo com décadas de consenso internacional sobre o status da cidade disputada.
Jerusalém é uma das questões centrais no conflito entre israelenses e palestinos. Israel considera a Cidade Sagrada a sua capital "eterna e indivisível", enquanto os palestinos defendem que a porção leste de Jerusalém deve ser a capital de seu almejado Estado.
As Nações Unidas estabelecem que o status de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelenses e palestinos, razão pela qual os países com representação diplomática em Israel têm suas embaixadas em Tel Aviv e imediações. O Paraguai foi, em maio, o terceiro país a fugir dessa convenção, após os Estados Unidos e a Guatemala.
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.