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Paraná anuncia acordo para produção de vacina russa

11 de agosto de 2020

Governo paranaense descarta preocupação com falta de informações sobre imunização russa e diz que liberação no país seguirá procedimentos da Anvisa. OMS e Alemanha questionam segurança da vacina aprovada por Moscou.

Seringa de vacina
Além da vacina russa, duas outras receberam apoio direto de autoridades brasileirasFoto: picture-alliance/SvenSimon/F. Hoermann

Poucas horas após Moscou anunciar a aprovação da primeira vacina contra a covid-19, o governo do Paraná divulgou nesta terça-feira (11/08) que pretende assinar um convênio com a Rússia para a produção da controversa vacina, que é questionada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, e o embaixador da Rússia no Brasil, Serguei Akopov, devem assinar o acordo na quarta-feira. Segundo o governo paranaense, o convênio estava sendo discutido desde julho.

Em entrevista à GloboNews, o presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Jorge Callado, estimou que a imunização deve estar disponível no segundo semestre de 2021, e afirmou que, após a assinatura do convênio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avaliará o protocolo russo para avaliar a liberação dos testes.

O Tecpar será o responsável por todas as fases até a distribuição da vacina no país, incluindo a realização de testes. O convênio prevê ainda a transferência de tecnologia.

Callado destacou, porém, que não há um compromisso de produção da vacina enquanto ela não for validada e liberada pela Anvisa e pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa, e garantiu que, se Moscou não fornecer as informações necessárias, o acordo pode ser anulado.

A Rússia é o primeiro país do mundo a registrar e aprovar para uso da população uma vacina contra o coronavírus. No entanto, muitos cientistas no país e no exterior têm se mostrado céticos com as declarações do governo russo, questionando a decisão de registrar a vacina antes mesmo dos testes da fase 3, que normalmente duram meses e envolvem milhares de voluntários.

Ainda há desconfiança sobre a falta de publicação de dados em revistas científicas que atestem sua eficácia. Pouco se sabe também sobre as fases de todo o processo de pesquisa e quantas pessoas foram efetivamente testadas.

O anúncio da Rússia foi recebido com cautela pela Organização Mundial da Saúde, que afirmou não ter recebido informações suficientes para avaliar a vacina russa, batizada de "Sputnik V", em referência ao pioneiro satélite soviético lançado nos anos 1950, que marcou o início da corrida espacial.

"Acelerar o progresso não deve significar comprometer a segurança", disse o porta-voz da OMS Tarik Jasarevic, acrescentando que a organização está em contato com as autoridades da Rússia e de outros países para analisar o progresso das diferentes pesquisas de vacinas.

O porta-voz enfatizou que a organização está animada "com a velocidade em que as vacinas estão sendo desenvolvidas" e espera que algumas delas "se mostrem seguras e eficientes".

A Alemanha foi um dos primeiros países a levantar dúvidas sobre a vacina desenvolvida pela Rússia. "Não há dados conhecidos sobre a qualidade, eficácia e segurança da vacina russa", afirmou uma porta-voz do Ministério da Saúde alemão à rede de jornais RND, lembrando que, na União Europeia, "a segurança do paciente é a principal prioridade". 

Apesar dos questionamentos internacionais, o secretário da Casa Civil do Paraná, Guto Silva, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que o fato de a Rússia não ter seguido os protocolos da OMS não é motivo de preocupação para o governo paranaense, pois a aprovação da vacina no país seguirá regras brasileiras.

Além da vacina russa, duas outras receberam apoio direto de autoridades brasileiras e já contam com acordos que envolvem a compra e produção em território nacional: a desenvolvida pela universidade britânica de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, escolhida pelo governo federal, e a criada pela chinesa Sinovac, que tem o governo de São Paulo como parceiro.

Segundo a OMS, há atualmente  no mundo seis vacinas contra a covid-19 na fase 3 de ensaios clínicos, a última etapa antes da aprovação.

CN/afp/lusa/efe/ots

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