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Capital da moda branca

Martina Zimmermann (sv)2 de outubro de 2007

A capital francesa é a meca mundial da moda. Nos desfiles prêt-a-porter primavera-verão, as roupas são caríssimas. E destinadas aos brancos.

Clientela racista: resistência a modelos negrasFoto: AP

“Nos desfiles de Paris, há apenas uma modelo negra. A cidade é a capital mundial da moda: para os brancos”, diz Tiguida, filha de imigrantes do Mali e do Níger que trabalha como modelo em peças publicitárias na capital francesa, cuja finalidade é vender produtos para a clientela negra: cremes, maquiagem, produtos para o cabelo.

As revistas femininas, aponta Tiguida, tampouco estampam modelos negras em suas páginas. “Já participei de castings para a Marie Claire, mas nunca fui aceita. Uma menina mestiça entrou, mas nenhuma negra. Em Londres ou na Itália, as modelos negras têm trabalho. Só na França que não. Isso é racismo”, diz a belíssima modelo de 1,79 de altura e 56 quilos.

"Sem negros"

O estilista Paco Rabanne foi o primeiro a colocar, em 1964, uma modelo negra nas passarelas. Ela trajava um vestido de noiva de plástico branco. “Foi um escândalo terrível na época. As jornalistas de moda norte-americanas apareceram depois do desfile nos camarins e quase cuspiram na minha cara. Elas diziam que a alta costura estava reservada para as mulheres brancas e que não havia nada para aquelas garotas ali”, lembra Rabanne.

Modelo Alec Wek desfila para Paco Rabanne: raridade nas passarelasFoto: AP

Antes de cada desfile, quando os estilistas escolhem as modelos para suas coleções, os telefones da agência de modelos Elite costumam tocar incessantemente. Foi a agência que descobriu Naomi Campbell, a mais célebre modelo negra. Mesmo assim, a Elite emprega hoje apenas duas negras em seus quadros – uma jamaicana que vive em Nova York e uma mulata francesa.

Loira, alta e magra

“Não há simplesmente trabalho para mais modelos”, diz Sabine Killinger, vice-diretora da Elite em Paris. Uma situação que, segundo ela, não depende das agências, uma vez que estas servem apenas como fornecedoras para os magazines, revistas, clientes publicitários e catálogos.

De acordo com Killinger, as campanhas internacionais são feitas, afinal, para atingir os clientes no mundo todo. “Uma modelo negra não atinge o cliente na Ásia. Há também histórias étnicas de que árabes e negros não se dão bem”. E na moda, diz Killinger, a questão primordial é a identificação entre uma clientela que sonha em ser loira, alta e magra.

Iman, outra exceçãoFoto: AP

Depois da virada do milênio, foram fundadas em Paris várias agências especializadas em modelos negras, mas a maioria delas já fechou suas portas. Mode Black é uma das que sobreviveram, pois a agência é também uma empresa de comunicação e não apenas fornecedora de modelos para o mercado.

Segundo informações da agência, as negras que querem se firmar na carreira na Europa só têm chances de sobreviver da profissão na Inglaterra ou na Itália. Na Inglaterra, graças às comunidades de imigrantes e à propaganda étnica e na Itália porque os estilistas do país chamam mais modelos negras para os desfiles.

Adeus, França

Para modelos como Tiguida, a única saída é deixar o país. “Resolvi ir para o exterior. Em meados de outubro estou indo para Mali, depois para o festival de moda africana no Níger. De lá vou para a África do Sul, então para os EUA, pois na França não há trabalho para modelos negras”.

O consolo insípido é saber que, na moda, a situação é ainda pior para outras modelos, como é o caso das provenientes dos países do Magreb. “Tenho uma amiga árabe, que depois de três anos tentando, resolveu voltar a estudar, pois não encontrava trabalho como modelo. Ela realmente tentou de tudo”, conta Tiguida.

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