Parlamento alemão presta tributo a vítimas do Holocausto
27 de janeiro de 2017
No Dia Internacional da Lembrança ao Holocausto, Alemanha homenageia em especial este ano os mortos do "programa de eutanásia" dos nazistas. Data celebra libertação do campo de extermínio de Auschwitz pelos soviéticos.
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O Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) prestou nesta sexta-feira (27/01) seu tributo anual às vítimas do extermínio pelo regime nazista. Nessa data é celebrado na Alemanha o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.
"A cerimônia memorial deste ano lembra, em particular, os doentes, os desamparados e aqueles considerados pela liderança nazista como 'indignos de viver', que foram assassinados no assim chamado 'programa de eutanásia'", disse o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, em discurso que foi acompanhado pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, e parentes de vítimas.
Lammert salientou ainda que havia uma relação estreita entre eutanásia e genocídio. A matança em câmaras de gás foi praticada pela primeira vez em vítimas do "programa de eutanásia" e serviu como um "período de experiência para o Holocausto".
Entre janeiro de 1940 e agosto de 1941, médicos mataram sistematicamente, com gás, mais de 70 mil pessoas, em seis instalações diferentes espalhadas pelo território então controlado pela Alemanha, até que a indignação pública obrigou os nazistas a acabarem com o programa.
No entanto, outras dezenas de milhares morreram em toda a Europa até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, de fome, negligência e overdoses ministradas intencionalmente por médicos funcionários. Historiadores estimam que cerca de 300 mil pessoas foram mortas em toda a Europa nesse programa nazista.
O presidente do Parlamento alemão citou também a chamada Conferência de Wannsee: em 20 de janeiro de 1942, numa casa no bairro berlinense de luxo Wannsee, 15 representantes do alto escalão do regime nazista decidiram organizar o assassinato de milhões de judeus europeus da forma mais eficiente possível.
Desde 1996, a Alemanha presta tributo às vítimas do Holocausto em 27 de janeiro. A data – sugerida pelo então presidente alemão Roman Herzog – recorda a libertação dos sobreviventes do campo de extermínio de Auschwitz por tropas soviéticas. Em 2005, as Nações Unidas denominaram a data Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.
PV/afp/dpa/kna
O Memorial do Holocausto
Artístico, abstrato, imponente. O monumento lembra, desde 10 de maio de 2005, que foi em Berlim que o extermínio dos judeus europeus foi planejado e organizado. Hoje, ele é uma atração turística popular.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Monumento incomum
Normalmente, monumentos celebram heróis de uma nação. O Memorial do Holocausto de Berlim é exatamente o oposto. Ele é, como afirmou o famoso escritor Martin Walser, em 2011, "o primeiro monumento construído por um povo em memória de seus crimes". A construção recebe diariamente milhares de pessoas e fica 24 por dia aberto ao público.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Obra de arte imponente
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. O genocídio é considerado o maior crime da história. "É um enorme monumento. Ele faz juz ao crime que se destina a lembrar. E o mais incrível é que ele é uma obra de arte", disse Walser. Na foto, é possível ver, ao fundo, a Potsdamer Platz.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Como um campo ondulado
Em meados de 1998, foi apresentado o modelo para o memorial nas proximidades do Portão de Brandemburgo. Antes, houve uma concorrência. Quatro projetos foram escolhidos. Entre eles, o de um campo repleto de blocos de concreto, do arquiteto americano Peter Eisenman. O então chanceler alemão, Helmut Kohl, achou a ideia a melhor e se empenhou pela sua construção.
Foto: picture-alliance/dpa
O nascimento da ideia
A ideia para o Memorial do Holocausto nasceu em 24 de agosto de 1988, durante um painel de discussão em Berlim Ocidental. A jornalista Lea Rosh reivindicou a construção de um memorial na cidade. Sem a dedicação dela, o monumento não existiria. Ela fez do projeto seu objetivo de vida. Na foto, Rosh faz um discurso durante a inauguração simbólica das obras do monumento, em janeiro de 2000.
Foto: picture-alliance/Berliner_Zeitung
No coração de Berlim
A construção, no centro de Berlim, demorou vários anos. O monumento, de grandes dimensões, entre Reichstag, Portão de Brandenburgo e a Potsdamer Platz, é uma tarefa hercúlea. Ele foi construído em uma área de 19 mil metros quadrados, contendo 2.710 blocos de concreto, dispostos simetricamente. Todos eles ocupam a mesma área, mas têm diferentes alturas. Os custos foi de 27 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O Stonehenge de Berlim
O monumento se tornou uma atração turística. Todos os anos, centenas de milhares de turistas mergulham no mar de blocos de concreto, muitos deles judeus de diferentes países. O Memorial do Holocausto é um dos lugares mais visitados da capital alemã.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Detalhes sobre o Holocausto
Sob o campo de blocos de concreto, está um centro de informação. O museu complementa a forma abstrata da lembrança expressada pelo monumento. A exposição permanente dá nomes e rostos às vítimas, mostra destinos individuais e de famílias, suas vidas, sofrimento e morte. Não há imagens dramáticas. O terror se desenrola nas mentes dos visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Grimm
Solidão e desorientação
O quanto mais fundo a pessoa entra no labirinto ondulante, mais aumenta a sensação de desorientação existencial. O visitante perde a noção de lugar. No meio de Berlim, é possível se estar infinitamente longe de tudo. A pessoa pode se sentir solitária, ameaçada, abandonada. É uma tentativa de transmitir a sensação, em escala menor, que a maioria das vítimas do Holocausto experimentou.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
O arquiteto
Peter Eisenman (82 anos), autor do memorial, se diz satisfeito que o monumento seja tão bem recebido, que crianças brinquem de se esconder, que jovens façam selfies e casais se beijem. Ele não tinha intenção de criar "um lugar sagrado". Ele também gosta do fato de que o memorial seja tão abstrato. "As pessoas não pensam nem em um campo de concentração ou sequer em algo terrível", ressalta.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Convite à reflexão
"Não é possível organizar a forma como as pessoas se lembram do Holocausto", diz Peter Eisenman. Alguns vêm com flores, outros rezam, se sentam nos blocos, brincam, riem ou refletem. Em Berlim, todos são livres para decidir como querem se lembrar do Holocausto. O memorial está sempre aberto e livre. A lembrança também.