Parlamento alemão rejeita vacinação obrigatória para idosos
7 de abril de 2022
Projeto que previa vacinação compulsória para pessoas acima de 60 anos não alcançou maioria simples no Bundestag, esbarrando na resistência de deputados conservadores e liberais. Ministro da Saúde lamenta decisão
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A obrigatoriedade de vacinação contra o coronavírus para pessoas acima dos 60 anos na Alemanha foi rejeitada pela maioria dos deputados do Bundestag (Parlamento alemão) nesta quinta-feira (07/04).
A proposta não recebeu a maioria simples necessária para aprovação: 378 deputados votaram contra o projeto, enquanto 296 manifestaram-se a favor. Houve ainda nove abstenções.
O projeto era apoiado pelo chanceler federal , Olaf Scholz, e pelo ministro da Saúde, Karl Lauterbach.
Desta forma, a Alemanha continuará sem obrigatoriedade de vacinação para a população, exceto para quem trabalha nos serviços de saúde, medida que está em vigor desde março.
Nesta semana, uma proposta para tornar obrigatória a imunização contra o coronavírus na população entre 18 e 49 anos também já havia sido abandonada – não foi nem levada à votação em Plenário.
Cerca de 76% dos alemães receberam duas doses da vacina contra a covid-19, enquanto cerca de 59% receberam o reforço.
Uma pesquisa de opinião recente revelou que 60% dos alemães são a favor da vacinação obrigatória.
Discussões
Discussões acaloradas marcaram a votação nesta quinta-feira no Bundestag. A vice-presidente dos social-democratas (SPD), Dagmar Schmidt, argumentou que a intenção do projeto seria proteger a infraestrutura e o sistema de saúde.
"O vírus não irá simplesmente desaparecer. Temos agora a chance de evitar novas medidas [restritivas] a partir do outono", disse Schmidt.
"Hoje é um dia decisivo", declarou Lauterbach, afirmando que uma maior taxa de vacinação tende a evitar novas restrições e lockdowns no futuro.
Especialista em saúde, o deputado Janosch Dahmen, dos Verdes, partido que faz parte da coalizão de governo, afirmou que "a prevenção por meio da vacinação compulsória iria nos tirar desta pandemia".
Na oposição ao projeto, a União Democrata Cristã (CDU) argumentou que pelo fato de os casos estarem ocorrendo em todo o país, não seria necessário tornar a vacinação obrigatória. O deputado conservador Tino Sorge argumentou que os hospitais e UTIs do país não estão sobrecarregados no momento e que uma obrigatoriedade com as atuais vacinas não teria efeito se surgirem possíveis novas variantes resistentes no próximo outono.
Wolfgang Kubicki, do Partido Liberal-Democrático (FDP), também se manifestou contra a obrigatoriedade vacinal, embora sua sigla faça parte do governo Scholz. Ele argumentou que as vacinas "não nos ajudariam a alcançar uma imunidade de rebanho".
"Não é tarefa desta Casa proteger os adultos contra suas próprias decisões", disse.
Já a líder parlamentar da legenda de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, disse que a vacinação obrigatória não era "somente hostil à constituição, mas uma medida totalitária".
A Associação de Hospitais Alemães (DKG) reagiu à votação com decepção. "No final do dia, estamos agora diante de uma pilha de escombros, pela qual todas as partes compartilham a responsabilidade", disse o chefe do DKG, Gerald Gass.
O ministro da Saúde, Karl Lauterbach, membro do Partido Social Democrata (SPD) também lamentou que o projeto tenha sido rejeitado.
"É uma decisão muito importante, porque agora a luta contra o vírus no outono se tornou muito mais difícil. Procurar culpados na política não ajuda. Devemos seguir em frente", escreveu Lauterbach em sua conta no Twitter.
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Debates sobre restrições
A discussão sobre a vacinação compulsória na Alemanha ganhou mais força no último inverno e ocorreu um dia após o ministro Karl Lauterbach, desistir de abolir a quarentena obrigatória para infectados por coronavírus. O plano era encerrar o isolamento obrigatório a partir de 1º de maio.
Atualmente, a quarentena na Alemanha para pessoas infectadas com o coronavírus é de 10 dias, podendo ser reduzida para sete dias com um teste negativo. No entanto, futuramente, o período de quarentena para infectados deverá ser reduzido para cinco dias, disse Lauterbach à emissora pública de televisão alemã ZDF.
A Alemanha vem reduzindo gradualmente as restrições para conter a pandemia de covid-19. Atualmente, em alguns estados, já não é obrigatório o uso de máscara em estabelecimentos comerciais – embora continue sendo recomendado.
Os níveis de infecção estão caindo, mas ainda seguem altos. Nesta quinta-feira, foram contabilizados 201.729 novos casos nas últimas 24 horas, 13 mil a menos do que na quarta-feira, fazendo com que a incidência de sete dias fosse reduzida para 1.251,3.
gb (dpa, Reuters, ots)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
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Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine