Parlamento aprova reforma que amplia poderes de Erdogan
21 de janeiro de 2017
Projeto será submetido a referendo e, caso aprovado, passará ao atual presidente todas as atribuições do Poder Executivo e a possibilidade de governar até 2029.
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O Parlamento da Turquia aprovou na madrugada deste sábado (21/01) um projeto de reforma constitucional para ampliar os poderes do presidente Recep Tayyip Erdogan. O projeto será agora submetido a referendo e, se aprovado, permitirá que o líder concentre todas as atribuições do Poder Executivo e governe o país até 2029.
O texto foi aprovado com 339 votos a favor e 142 contra. Eram necessários ao menos 330 votos – uma maioria de três quintos – para a adoção das mudanças. Erdogan argumenta que a reforma é necessária para garantir a estabilidade na Turquia, confrontada com atentados e dificuldades econômicas.
Caso o referendo, a ser realizado no final de março ou início de abril, aprove o projeto, as mudanças dariam a Erdogan o poder de demitir ministros e dissolver o Parlamento, emitir decretos, declarar estado de emergência e nomear pessoas para posições-chave, inclusive no Judiciário. O cargo de primeiro-ministro seria substituído por um ou mais vice-presidentes.
Após a votação, Erdogan pediu aos seus apoiadores que trabalhem "dia após dia" durante a campanha antes do referendo. "Meu povo dará a decisão final. Eu acredito que este referendo irá celebrar a vontade do nosso povo", afirmou o líder, em Istambul.
A reforma constitucional suscita preocupações da oposição e de organização não governamentais, que acusam o chefe de Estado turco de autoritarismo após a tentativa de golpe militar em julho, que deu origem a um forte repressão no país, com a prisão de militares e a demissão de funcionários públicos, além do fechamento de veículos de comunicação.
A reforma conseguiu o apoio de um partido de oposição, o Partido do Movimento Nacionalista. Já o principal partido da oposição, o Partido Popular Republicano, opõe-se às medidas, considerando que, quando estiverem em vigor, "Erdogan será a única pessoa a usufruir da liberdade" na Turquia.
FC/efe/ap/afp/dpa/lusa
Hagia Sophia na disputa das religiões
A Basílica de Santa Sofia, ou Hagia Sophia, em Istambul, é objeto de uma disputa. Nacionalistas turcos querem transformar atual museu em mesquita; enquanto o patriarca dos cristãos ortodoxos quer que volte a ser igreja.
Foto: picture-alliance/Marius Becker
Marco arquitetônico
No ano de 532, o imperador romano Justiniano 1º, que residia em Constantinopla, ordenou a construção de uma imponente igreja, "como não existe desde a época de Adão e nunca existirá novamente". Mais de 10 mil operários trabalharam nela. Dentro de apenas 15 anos, a estrutura externa era inaugurada. Durante um milênio a basílica foi o maior templo do cristianismo.
Foto: imago/blickwinkel
Palco de representação estatal
Consta que Justiniano 1º investiu quase 150 toneladas de ouro na construção da Hagia Sophia ("Sagrada Sabedoria" em grego). Mas em breve ela precisou ser reformada: projetada com uma forma plana demais, sua cúpula desabou durante um terremoto. Em breve a basílica passou a ser utilizada como igreja do Estado. Desde meados do século 7º, quase todos os soberanos bizantinos foram coroados nela.
Foto: Getty Images
De igreja a mesquita
O domínio bizantino sobre Constantinopla teve fim em 1453, quando o sultão otomano Mehmet 2º conquistou a cidade e transformou a Hagia Sophia em mesquita. Cruzes cederam lugar à lua crescente, sinos e altar foram destruídos ou desmontados, mosaicos e pinturas murais foram caiados por cima. Com a construção do primeiro minarete, o prédio sacro ganhou aparência muçulmana também por fora.
Foto: public domain
De mesquita a museu
Em 1934, o fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk (foto), transformou em museu a "Ayasofya", como é denominada em turco, na atual metrópole de Istambul. A secularização acarretou minuciosos trabalhos de restauração. Os antigos mosaicos bizantinos foram revelados, porém cuidou-se também para não destruir os posteriores acréscimos muçulmanos.
Foto: AP
Islã e cristianismo lado a lado
A agitada história da Hagia Sophia se apresenta a cada passo aos visitantes atuais: nesta foto, os nomes "Maomé" (esq.) e "Alá" (dir.) ladeiam Nossa Senhora com Jesus no colo (ao fundo). Notáveis são também as 40 janelas da grande cúpula: além de deixar entrar a luz, elas impedem que rachaduras se expandam, destruindo a estrutura cupular.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Ícones bizantinos
O mosaico mais imponente da Basílica de Santa Sofia (como também é conhecida no mundo cristão) é uma imagem do século 14, na parede da galeria sul. Mesmo não estando completamente preservado, os rostos ainda estão bem visíveis: no meio aparece Jesus, como senhor do mundo, Maria está à sua esquerda e João, à direita.
Foto: STR/AFP/Getty Images
Proibido rezar
Hoje em dia é proibido orar na Hagia Sophia. Bento 16 também obedeceu essa determinação durante a visita que fez ao local, em 2006, a qual transcorreu sob forte esquema de segurança, devido aos protestos dos nacionalistas contra a presença do papa. Recentemente a associação nacionalista-conservadora Juventude Anatólia reuniu 15 milhões de assinaturas, para que o museu volte a ser mesquita.
Foto: Mustafa Ozer/AFP/Getty Images
Alto valor simbólico
Não faltam construções sacras muçulmanas nas cercanias da Hagia Sophia. Logo ao lado erguem-se os minaretes da Mesquita do Sultão Ahmed, também conhecida como Mesquita Azul (dir.). Os nacionalistas exigem a transformação da basílica em mesquita: ela simbolizaria a tomada de Constantinopla pelos otomanos, constituindo, portanto, um legado islâmico que precisa ser preservado.
Foto: picture-alliance/Arco
Reivindicações ortodoxas
O patriarca de Constantinopla Bartolomeu 1º também reivindica a Hagia Sophia. Há anos o líder honorífico de todos os cristãos ortodoxos apela para que a basílica seja reaberta à liturgia. "A Hagia Sophia foi construída para ser testemunha da fé cristã", argumenta o bispo ortodoxo.
Foto: picture-alliance/dpa
Destino em aberto
O futuro da Hagia Sophia é incerto. Até agora, somente o partido nacionalista MHP reivindica a transformação do museu em mesquita. Dois requerimentos seus já fracassaram no Parlamento. O governo turco não se manifesta sobre essa questão, aparentemente em reação a protestos internacionais. A Unesco também está preocupada: afinal, desde 1985 a Hagia Sophia é Patrimônio Cultural da Humanidade.