Parlamento cubano propõe Díaz-Canel para presidente
18 de abril de 2018
Braço direito e atual vice de Raúl Castro está prestes a ser confirmado na presidência pela Assembleia Nacional, marcando fim de uma era: pela primeira vez em quase 60 anos, uma pessoa de fora da família governará Cuba.
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A Assembleia Nacional de Cuba indicou nesta quarta-feira (18/04) o vice-presidente Miguel Díaz-Canel para substituir Raúl Castro na presidência do país. A saída do atual presidente representa o fim da era Castro, cuja família esteve há quase seis décadas no poder.
Díaz-Canel lidera a proposta da Comissão de Candidaturas Nacionais (CCN) para a formação do principal órgão de governo do país, o Conselho de Estado. A proposta será agora submetida à votação da Assembleia recém-constituída, e o resultado deverá ser apresentado nesta quinta-feira.
O anúncio ocorreu logo após o início da reunião de dois dias da Assembleia Nacional para eleger o sucessor de Castro, de 86 anos. Após a leitura da proposta de candidaturas, os 605 deputados dedicaram ao até agora número 2 do regime uma longa salva de palmas.
Díaz-Canel, de 57 anos, tornou-se braço direito do atual presidente em 2013. Sua indicação para assumir o governo já era esperada. Como ele foi o único indicado, sua eleição é uma mera formalidade.
Díaz-Canel já foi ministro da Educação Superior e aparentemente segue uma linha liberal do socialismo. Ele é considerado uma aposta segura para herdar o mandato de Castro e de outros líderes da revolução. O engenheiro nascido após a revolução deverá prosseguir a "atualização" do modelo econômico da ilha, que foi esboçada por Raúl Castro.
Pela primeira vez, o presidente do regime cubano será uma pessoa que não participou da revolução de 1959, não envergará a farda verde-oliva e não dirigirá o Partido Comunista Cubano (PCC). Ele contará, porém, com o apoio de Castro, que se manterá na liderança do poderoso partido único até 2021.
Como primeiro vice-presidente do Conselho de Estado, a CCN propôs o veterano dirigente Salvador Valdés Mesa, de quase 73 anos, membro do politburo do Partido Comunista de Cuba e que ocupava até agora uma das cinco vice-presidências do órgão. Se for confirmada a nomeação de Valdés Mesa, esta será a primeira vez em que Cuba terá um primeiro vice-presidente negro, o cargo mais alto a ser ocupado por um afrodescendente na história do país.
A sessão parlamentar, realizada no Palácio de Convenções de Havana, começou presidida pela titular da Comissão Eleitoral Nacional, Alina Balseiro, como responsável do órgão que representa a Assembleia Nacional entre períodos de sessões. Castro, que foi recebido com uma ovação, compareceu ao ato acompanhado de Díaz-Canel, ambos vestidos de terno e gravata.
A abertura da nona legislatura de Cuba e a instalação da Assembleia Nacional, resultante das eleições gerais de 11 de março, começou com a leitura dos nomes, um a um, dos 605 deputados eleitos em todo o país.
Apesar de a votação para eleger o presidente acontecer nesta quarta-feira, o resultado deve ser anunciado somente na quinta-feira, no aniversário de 57 anos da invasão da Baía dos Porcos, quando em 1961 a CIA tentou derrubar o líder da revolução de 1959, Fidel Castro. Havana proclamou esse episódio como a primeira grande derrota do imperialismo americano na América Latina.
Raúl Castro assumiu o poder em 2008, após Fidel, que faleceu em 2016, aos 90 anos, anunciar sua renúncia. Durante seu governo, ele reatou as relações com os Estados Unidos e realizou diversas reformas de mercado no país.
Juntos, os irmãos governaram a ilha por quase 60 anos. Durante este período, Cuba tornou-se um dos atores principais da Guerra Fria e manteve o comunismo à tona mesmo depois do colapso da União Soviética.
CN/efe/afp/rtr/dpa/lusa
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O fim da era Castro em Cuba
Quase nada em Cuba lembra de como era a vida antes dos Castro. O dia 19 de abril de 2018 marca o fim das quase seis décadas de governo dos irmãos Fidel e Raúl.
Foto: Reuters
1959 - A revolução triunfa
O rebeldes liderados por Fidel Castro chegam ao poder depois de derrubar o ditador Fulgencio Batista em janeiro. Os EUA reconhecem o novo governo. Logo, "leis revolucionárias" (como a reforma agrária) afetam empresas americanas. Em dezembro, o presidente republicano Dwight D. Eisenhower aprova um plano da CIA para derrubar Castro em um ano e substitui-lo por "uma junta amiga dos EUA".
Foto: AP
1960 − Aproximação com a União Soviética
Eisenhower proíbe exportações para Cuba (exceto de alimentos e remédios) e suspende a importação de açúcar. Cuba responde nacionalizando bens e empresas americanas e estabelecendo relações diplomáticas e comerciais com a União Soviética. No funeral das vítimas da explosão do cargueiro francês La Coubre (foto), Cuba responsabiliza a CIA, e Castro lança seu lema "pátria ou morte!"
Foto: AP
1961 − Ruptura e invasão fracassada
Os EUA rompem relações diplomáticas com Cuba e fecham sua embaixada em Havana em 3 de janeiro. Após uma série de bombardeios em aeroportos e incêndios em estabelecimentos comerciais, cuja autoria Cuba atribui aos EUA, Fidel proclama o caráter socialista da revolução em 16 de abril. Entre 17 e 19 daquele mês, cubanos treinados pelos EUA tentam invadir a ilha pela Baía dos Porcos, mas fracassam.
Foto: AP
1962 - A crise dos mísseis
"Não sei se Fidel é comunista, mas eu sou fidelista", disse em 1960 o líder soviético Nikita Kruchov. Moscou reata relações diplomáticas com Havana e eleva seu apoio. A URSS instala bases de mísseis nucleares em Cuba, desencadeando a "crise dos mísseis". Moscou cede à pressão de Kennedy em troca de os EUA se comprometerem a não invadir Cuba e desativarem suas bases nucleares na Turquia.
Foto: imago/UIG
1971 – Fidel Castro no Chile
O episódio da Baía dos Porcos acelera a proclamação do caráter socialista, marxista-leninista, da revolução. Cuba acaba sendo expulsa da Organização dos Estados Americanos. Castro fica isolado no continente, mas não para sempre. Ele é recebido no Chile pelo presidente Salvador Allende (foto), que iria ser derrubado por Augusto Pinochet em 1973.
Foto: AFP/Getty Images
1989 – A hora da Perestroika
A chegada ao poder de Mikhail Gorbatchov em Moscou marca o início da era da Glasnost e Perestroika. A Cortina de Ferro começa a ruir, e o império soviético se esfacela. Cuba perde sua principal base de sustentação no exterior, entrando em crise aguda. Milhares de cubanos tentam fugir para Miami em embarcações precárias. Muitos analistas preveem o fim do regime castrista.
Foto: picture-alliance/dpa
1998 – Primeira visita do papa
Um decreto de Pío 12 proibia aos católicos o apoio a regimes comunistas. Em virtude disso, o Vaticano excomungou Fidel Castro em janeiro de 1962. Mas, com o fim da Guerra Fria, chega o momento da reaproximação: em 1996, Castro visita o papa João Paulo 2°, e este retribui a visita dois anos depois, em viagem considerada histórica.
Foto: picture-alliance/AP/Michel Gangne
2002 - Fidel Castro e Jimmy Carter jogam beisebol
Desde que os EUA impuseram seu embargo comercial, econômico e financeiro, em 1962, houve poucos momentos de distensão entre Washington e Havana. Um deles foi a viagem do ex-presidente americano Jimmy Carter a Cuba, em 2002, motivada pela intenção de encontrar pontos de aproximação.
Foto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images
2006 - Fidel e Hugo
A partir dos anos 90, Cuba deixa de ser vista como uma perigosa exportadora de revoluções. Com a derrocada do bloco comunista no Leste Europeu, as ideologias de esquerda entram em crise. Mas, na Venezuela, chega ao poder um novo dirigente, disposto a propagar a "Revolução Bolivariana". Hugo Chávez, declarado admirador de Fidel, passa a dar a Havana um respaldo importante, também na área econômica.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
2006 - A entrega do poder
A doença forçou Fidel Castro a abandonar o poder. Em 2006, ele o deixa nas mãos de seu irmão Raúl, uma garantia de que não haveria reviravoltas num sistema que, apesar dos avanços em educação e saúde, cobrou um alto preço: o da falta de liberdade e repressão. Fidel foi se despedindo do poder aos poucos, defendendo até o fim sua visão, através das páginas do jornal "Granma".
Foto: picture-alliance/AP Photo/Cristobal Herrera
2014 - Degelo temporário
Em dezembro de 2014, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e o de Cuba, Raúl Castro, anunciaram que retomariam as relações diplomáticas. Obama visitou Cuba em março de 2016. Haviam se passado 88 anos desde a última vez que um presidente americano viajara à ilha. EUA retirou Cuba da lista de terrorismo, dando início ao processo de retomada das relações diplomáticas.
Tantas vezes anunciada e desmentida, a morte do líder foi inicialmente recebida com desconfiança. Entretanto, em 25 de novembro de 2016, os bares fecharam mais cedo e as reuniões de amigos nas ruas se dispersaram com a notícia. Durante anos, Fidel Castro desmentiu rumores de sua morte com a publicação de fotografias ou artigos de opinião.
Foto: Getty Images
2018 – A sucessão
Depois de dez anos, Raúl Castro se retira do poder. Em 19 de abril, o Parlamento cubano elegerá um sucessor que, pela primeira vez em quase 60 anos, não leva o sobrenome Castro: o vice de Raúl, Miguel Díaz Canel. Entretanto, analistas julgam improvável que o curso político em Cuba se modifique logo.