Parlamento da Finlândia aprova lei para adesão à Otan
1 de março de 2023
Processo ainda depende da aprovação de dois membros da aliança militar, Hungria e Turquia, para ser concluído – ambos também ainda não aprovaram o pedido de adesão da Suécia.
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O Parlamento da Finlândia aprovou nesta quarta-feira (01/03) a legislação necessária para a adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), por 184 votos a favor, sete contra e uma abstenção.
O processo foi iniciado em maio do ano passado e, para ser concluído, depende ainda da aprovação de dois países-membros da aliança militar, a Hungria e a Turquia – que também ainda não aprovaram o pedido de adesão da Suécia.
Tanto Helsinque quanto Estocolmo abandonaram suas políticas de não alinhamento militar que haviam adotado por décadas e se candidataram para aderir à aliança transatlântica na esteira da invasão russa da Ucrânia.
A Otan requer aprovação unânime de seus membros para admitir novos países na aliança. A maior oposição às propostas de adesão da Finlândia e da Suécia vem da Turquia, que deseja uma ação mais forte, principalmente da Suécia, contra grupos que Ancara considera terroristas.
Os turcos acusam os suecos de receber, em seu território, membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e de organizações associadas. "Não temos, relativamente, um grande problema com relação à Finlândia, mas estamos sempre enfatizando que a Suécia deve tomar medidas concretas", disse o ministro do Exterior da Turquia, Mevlut Cavusoglu, no mês passado.
A Hungria começou a debater as adesões de Helsinque e Estocolmo à Otan nesta quarta-feira, com a aprovação prevista para ocorrer de 6 a 9 de março, embora possam ocorrer atrasos.
Já a Turquia anunciou na segunda-feira que as negociações com Finlândia e Suécia serão retomadas a partir de 9 de março, após as conversações com Suécia terem sido suspensas por causa de protestos realizados em Estocolmo, incluindo a queima do Alcorão em frente à Embaixada da Turquia.
Enquanto as discussões avançam lentamente, a Finlândia também anunciou nesta terça-feira o início da construção de uma cerca de 200 quilômetros na fronteira com a Rússia, após o aumento das tensões com Moscou.
Stoltenberg aprova divisão dos pedidos de adesão
Temendo que ambos os países possam ser bloqueados se insistirem em um pedido de adesão conjunto, a Otan mudou de rumo. "A questão principal não é se a Finlândia e a Suécia serão ratificadas juntas", disse recentemente o secretário-geral Jens Stoltenberg. "A questão principal é que ambos sejam ratificados como membros plenos o mais rápido possível."
Esse quão cedo "possível" está causando alguma irritação. A primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, falando à imprensa ao lado de Stoltenberg, durante um debate parlamentar, disse que esperava que a Finlândia e a Suécia já fossem membros a esta altura, já que cumpriram todos os critérios estabelecidos pela aliança.
"É claro que isso também causa pressão sobre a política de portas abertas da Otan", disse ela. "Tem a ver com a credibilidade da Otan."
Esse tema está também causando faíscas nas relações entre os dois vizinhos. Quando o ministro do Exterior da Finlândia, Pekka Haavisto, sugeriu pela primeira vez, no final de janeiro, que a Finlândia poderia aderir à Otan sem a Suécia, seu homólogo sueco imediatamente exigiu esclarecimentos.
Haavisto foi forçado a dar uma entrevista coletiva para reafirmar publicamente que o caminho preferencial de adesão para Helsinque era, naturalmente, junto com Estocolmo.
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Helsinque "de mãos atadas"
Mas no mês passado, na Conferência de Segurança de Munique, o presidente finlandês Sauli Niinistö foi contundente sobre o fato de que a Finlândia poderia aderir sozinha caso surgisse uma oportunidade. "De certa forma, nossas mãos estão atadas", disse. "Nós solicitamos a adesão. Devemos agora dizer que cancelamos nossa candidatura? Não podemos fazer isso."
Henri Vanhanen, analista de pesquisa do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, afirmou que esperar não é realmente uma opção. "Seria muito difícil para os tomadores de decisão justificar para a população, da qual mais de 80% estão a favor da adesão à Otan nesse momento", frisou Vanhanen em entrevista à DW. "Também vemos mais de 50% dos finlandeses agora a favor de entrar na Otan, mesmo que a Suécia não seja ratificada."
O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, alertou que deixar seu país fora da Otan poderia criar um problema de segurança tanto para a Suécia quanto para a aliança. Mas o analista Henri Vanhanen não tem a mesma opinião.
"A Suécia seria uma convidada da Otan cercada por membros da aliança e, ainda, teria a Finlândia como seu vizinho oriental na Otan", explicou. "Eu não diria que seria o pior cenário possível." No momento, esse é o cenário mais provável.
Helsinque agora enfrenta pressão em uma série de questões. Ele tem três meses, a partir da data da aprovação parlamentar, para assinar ele mesmo o protocolo de adesão e depositá-lo em Washington, nos EUA.
Ele disse que deseja que o processo seja concluído até abril, quando a Finlândia realiza eleições parlamentares, para que a bandeira finlandesa possa ser hasteada na sede da Otan enquanto aqueles que fizeram isso acontecer ainda estejam no cargo.
fc/bl (dw, Reuters, dpa)
Um ano de guerra da Ucrânia: uma linha do tempo em imagens
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em um ano de combates, milhares de soldados e civis perderam a vida. Relembre os fatos mais marcantes nesta linha do tempo.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP/Getty Images
Um dia sombrio para milhões
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, os ucranianos foram acordados por explosões como esta na capital, Kiev. A Rússia havia iniciado uma invasão em grande escala, marcando o maior ataque de um país contra outro desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia imediatamente declarou a lei marcial. Estruturas civis passaram a ser atacadas e logo começaram a ser relatadas as primeiras mortes.
Foto: Ukrainian President s Office/Zuma/imago images
Bombardeios impiedosos
O presidente russo, Vladimir Putin, insiste ainda hoje tratar-se de uma "operação militar especial" e que o objetivo é tomar as regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Moradores de Mariupol se abrigaram em porões por semanas. Muitos morreram sob os escombros. Um ataque aéreo russo em março a um teatro da cidade onde centenas se refugiavam foi condenado por grupos de direitos humanos.
Foto: Nikolai Trishin/TASS/dpa/picture alliance
Êxodo em massa
A guerra na Ucrânia forçou uma emigração nunca vista na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, mais de 8 milhões de pessoas fugiram do país. Só a Polônia acolheu 1,5 milhão de pessoas, mais do que qualquer outro Estado da UE. Milhões de pessoas, principalmente do leste e do sul da Ucrânia, foram forçadas a fugir.
Foto: Anatolii Stepanov/AFP
Cenas de horror em Bucha
Após algumas semanas, o exército ucraniano conseguiu expulsar as forças russas de áreas no norte e nordeste do país. O plano da Rússia de sitiar Kiev fracassou. Depois que as regiões foram libertadas, a extensão das atrocidades tornou-se aparente. Imagens de civis torturados e assassinados em Bucha, perto de Kiev, deram a volta ao mundo. As autoridades relataram 461 mortes.
Foto: Carol Guzy/ZUMA PRESS/dpa/picture alliance
Devastação e morte em Kramatorsk
O número de vítimas civis em Donbass aumentou rapidamente. As autoridades pediram à população civil para recuar para áreas mais seguras, mas os mísseis russos também atingiram as pessoas enquanto tentavam escapar, inclusive em Kramatorsk. Mais de 61 foram mortos e 120 ficaram feridos na estação ferroviária da cidade em abril, quando milhares esperavam para fugir para um local mais seguro.
Durante os ataques aéreos russos, milhões de ucranianos buscaram refúgio em algum tipo de abrigo. Para as pessoas próximas às linhas de frente dentro do alcance da artilharia, os porões se tornaram segundos lares. Moradores de grandes cidades também buscaram abrigo dos mísseis. Em Kiev (foto) e em Kharkiv, as estações de metrô funcionam como locais seguros.
Foto: Dimitar Dilkoff/AFP/Getty Images
Alto risco nuclear em Zaporíjia
Nas primeiras semanas após a invasão, a Rússia ocupou uma grande área das regiões sul e leste da Ucrânia, inclusive as proximidades de Kiev. Os combates se espalharam para as instalações do complexo nuclear de Zaporíjia, no sudeste, que está sob controle russo desde então. A Agência Internacional de Energia Atômica enviou especialistas para a usina e pediu uma zona segura ao redor da instalação.
Foto: Str./AFP/Getty Images
Resistência desesperada em Mariupol
O exército russo manteve Mariupol sob cerco por três meses, impedindo o envio de munição e outros suprimentos. O complexo siderúrgico Asovstal era o último reduto ucraniano na cidade, abrigando milhares de soldados e civis. Depois de um ataque prolongado, em maio de 2022 milhares de soldados russos assumiram o controle da usina, capturando mais de 2 mil pessoas.
Foto: Dmytro 'Orest' Kozatskyi/AFP
Um símbolo de resistência
A Rússia conquistou a Ilha das Cobras, no Mar Negro, no primeiro dia da guerra. Um diálogo entre militares ucranianos e russos, na qual os ucranianos se recusaram a se render, se tornou viral. Em abril, os ucranianos afirmaram ter afundado o navio de guerra russo Moskva, uma das duas embarcações envolvidas no ataque à ilha. Em junho, a Ucrânia disse ter expulsado os russos da ilha.
Foto: Ukraine's border guard service/AFP
Número de mortos incerto
O número exato de mortos na guerra permanece incerto. Segundo a ONU, pelo menos 7.200 civis foram mortos e outros 12 mil, feridos – mas os números reais podem ser muito maiores. A quantidade exata de soldados ucranianos tombados também é incerta. Em dezembro, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, estimou o número em até 13 mil. Estatísticas imparciais não estão disponíveis.
Foto: Raphael Lafargue/abaca/picture alliance
Divisor de águas para a Ucrânia
O envio de armas ocidentais à Ucrânia tem sido um assunto polêmico desde o começo da guerra, mas elas demoraram a chegar a Kiev. Os lançadores de foguetes Himars, fabricados nos EUA, foram uma ajuda decisiva. Eles permitiram que os militares ucranianos cortassem o abastecimento de munição para a artilharia russa e provavelmente também contribuíram para as contraofensivas bem-sucedidas da Ucrânia.
Foto: James Lefty Larimer/US Army/Zuma Wire/IMAGO
Alívio a cada libertação
No início de setembro, os militares ucranianos conduziram uma contraofensiva bem-sucedida em Kharkiv, no nordeste do país. Os russos, surpreendidos, recuaram rapidamente, deixando para trás equipamentos, munições e até evidências de supostos crimes de guerra. Os militares ucranianos também conseguiram libertar Kherson, no sul, e seus moradores comemoraram a chegada dos soldados ucranianos.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Explosão na ponte da Crimeia
No início de outubro, ocorreu uma grande explosão na ponte que a Rússia construiu sobre o Estreito de Kerch, ligando à Crimeia, península ucraniana que Moscou ocupa desde 2014. A ponte foi parcialmente destruída. A Rússia afirma que um caminhão da Ucrânia carregado de explosivos causou os danos, mas as autoridades em Kiev não assumiram a responsabilidade pelo ataque.
Foto: AFP/Getty Images
Ataques maciços à infraestrutura de energia
Poucos dias após a explosão na ponte da Crimeia, a Rússia começou a atacar em grande escala a infraestrutura de energia da Ucrânia. Quedas de energia ocorreram de Lviv a Kharkiv. Desde então, esses ataques se tornaram rotina. Devido aos enormes danos às usinas de energia e outras infraestruturas civis, as pessoas na Ucrânia enfrentam quedas de energia e escassez de água quase diariamente.
Foto: Genya Savilov/AFP/Getty Images
Apoio do mundo ocidental
Mensagens diárias por vídeo do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em que ele relata a situação no país e sobre a guerra em andamento, são vistas por milhões de pessoas. Zelenski não só conseguiu unificar a população de seu país, mas também ganhou o apoio do Ocidente. A integração europeia progrediu muito sob a sua liderança, e a Ucrânia está a caminho da adesão à UE.
Foto: Kenzo Tribouillard/AFP
Esperando por tanques Leopard 2
A defesa da Ucrânia depende muito da ajuda externa. Um grupo de países liderado pelos EUA ofereceu um pacote de bilhões de dólares em ajuda humanitária, financeira e militar. O envio de artilharia pesada foi muito debatido no Ocidente, em grande parte devido a preocupações com a reação da Rússia. Mas a Ucrânia acabará recebendo tanques ocidentais, em sua maioria Leopard 2, de fabricação alemã.
Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
Uma cidade em ruínas
Há meses, batalhas sangrentas acontecem em Bakhmut, na região de Donetsk. Desde que as tropas ucranianas perderam o controle do vilarejo de Soledar no início de 2023, defender a cidade tornou-se ainda mais difícil. Em janeiro, o serviço secreto da Alemanha relatou perdas diárias de três dígitos do lado ucraniano. Mas acredita-se que o número de mortos na Rússia seja ainda maior.