Pintura de Banksy é vendida por 9,8 milhões de libras
4 de outubro de 2019
Quadro do artista britânico retratando primatas no Parlamento do Reino Unido atinge valor recorde em leilão em Londres. Em rede social, Banksy compartilha citação que critica comercialização de obras de arte.
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Um quadro de Banksy atingiu o maior valor já obtido por um trabalho do artista britânico, em um leilão na Sotheby's, em Londres, nesta quinta-feira (03/10): 9.879.500 libras (equivalente a cerca de 49,3 milhões de reais).
A casa de leilões havia estimado que a pintura Devolved Parliament (Parlamento transferido) seria arrematada por um valor entre 1,5 milhão e 2 milhões de libras, mas uma batalha de lances de 13 minutos fez disparar o preço da obra.
"Preço recorde para uma pintura de Banksy em leilão nesta noite. Pena que eu não a possuía", escreveu Banksy em uma postagem no Instagram, ao lado de uma citação do crítico de arte Robert Hughes.
A mensagem citada criticava o alto valor cobrado por obras de arte. "Em vez de ser propriedade comum da humanidade, como um livro é, a arte se torna propriedade particular de alguém que pode pagar por ela", dizia a citação de Hughes.
O recorde anterior de uma peça de Banksy vendida em leilão foi de 1,87 milhão de dólares (cerca de 7,6 milhões de reais), alcançado por Keep it Spotless (Mantenha impecável) na Sotheby's de New York, em 2008.
Devolved Parliament mostra chimpanzés sentados nas cadeiras da Câmara dos Comuns, câmara baixa do Parlamento britânico. A pintura mede 4,46 metros por 2,67 metros – a maior tela conhecida do artista anônimo de Bristol, informou a casa de leilões.
Banksy pintou a obra para um festival do Museu de Bristol em 2009, que atraiu mais de 300 mil visitantes e foi considerado uma das exposições mais visitadas do mundo naquele ano.
O proprietário anônimo da pintura a emprestou ao museu no início do ano para marcar o 10º aniversário da exposição, bem como a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), prevista originalmente para 29 de março.
"Eu fiz isso há dez anos. O Museu de Bristol acabou de exibi-la para marcar o dia do Brexit", disse o artista na época. "Riam agora, mas um dia ninguém estará no comando."
"O que ele está apontando aqui é a regressão da mais antiga democracia parlamentar do mundo a um comportamento animalesco tribalista, do tipo que vimos em transmissões nas nossas televisões", disse Alex Branczik, diretor do departamento de arte contemporânea da Sotheby's.
"A verdadeira genialidade de Banksy é sua capacidade de reduzir esse debate incrivelmente complexo a uma simples imagem, que tanto é muito facilmente compartilhada nesta era de mídias sociais e de uma população que consome muitas imagens."
A venda ocorre após a polêmica suspensão de cinco semanas do Parlamento britânico, proposta pelo primeiro-ministro Boris Johnson, ter sido considerada ilegal pela Suprema Corte do país, com o tempo se esgotando antes de o Reino Unido deixar a UE, previsto agora para 31 de outubro. "Nunca houve uma hora melhor para levar essa pintura a leilão", disse Branczik.
Seja por terem sido roubadas, proibidas ou por terem pertencido a Hitler, além da qualidade artística, outros motivos podem colaborar para a celebridade de uma pintura.
"Madona Sistina"
Todos os anos, centenas de milhares de pessoas vão a Dresden ver a "Madona Sistina", uma das principais obras do Renascimento, pintada por Rafael Sanzio em 1512. Em 1754, o rei Augusto 3° a comprou de monges italianos, trazendo-a para a Saxônia. Após a guerra, a obra foi levada para Moscou, onde permaneceu por mais de uma década. A fama da pintura, no entanto, se deve a outro motivo.
Foto: picture-alliance/dpa
Anjos rafaelitas
Na parte inferior do quadro, Rafael pintou seus famosos anjos, de forma bastante humana, quase como crianças sem fazer nada e dando espaço a várias interpretações. E logo os querubins apareceram em caixinhas de joias, ou até mesmo como dois porquinhos na propaganda de um açougue em Chicago no fim do século 19, sem falar de camisetas, papéis de carta, bolas de natal, embalagem de chocolate...
Foto: picture-alliance/dpa
"Autorretrado com orelha cortada"
Na véspera de Natal de 1888, Vincent van Gogh foi encontrado ensanguentado em sua casa no sul da França. Ele havia cortado parte da orelha esquerda e entregue a uma prostituta em Arles, onde dividia um ateliê com Paul Gauguin. Este autorretrado foi pintado em 1889 e testemunha o desequilíbrio de Van Gogh diante da partida do amigo. Pela posição da orelha, o quadro foi feito diante de um espelho.
"A arte da pintura"
Jan Vermeer foi um mestre da encenação, não somente pela cortina em "A arte da pintura", onde retrata a si mesmo e a Clio, musa da história, e um mapa da antiga Holanda unida. Um apelo nostálgico, pois o quadro foi pintado entre 1664 e 1673, após a divisão do país. A obra pertenceu a Adolf Hitler, que a havia comprado de um conde austríaco. Após a guerra, foi devolvida à Áustria pelos americanos.
Foto: Wikipedia/Gemeinfrei
"Mona Lisa"
Desde o fim do séc. 18, a "Mona Lisa" está no Museu do Louvre. Mas de lá sumiu em 1911. E a suspeita recaiu sobre Pablo Picasso e o poeta Apollinaire, que estiveram envolvidos num furto de esculturas do museu. Mas a culpa deles não pôde ser comprovada e o quadro foi encontrado só dois anos depois. Ele fora roubado por um operário italiano que trabalhava no Louvre e que tentou vendê-lo na Itália.
Foto: Imago/Cinema Publishers Collection
"Mar de gelo"
Apesar de ter vivido há 200 anos, o fato de ter produzido quadros completamente artificiais faz do alemão Caspar David Friedrich um pintor muito moderno em tempos de mundos virtuais. Sua pintura "Mar de gelo", executada em 1823/1824, poderia ter saído da tela de um computador e comprova que o Romantismo está mais atual do que nunca numa sociedade marcada pela necessidade de segurança e intimidade.
Foto: picture-alliance/akg-images
"A lição de anatomia"
Diz-se que a violência é para nossos dias o que a sexualidade foi para época vitoriana: outra obra icônica e bastante atual é "A lição de anatomia", pintada em 1632 por Rembrandt. Na época, só era permitida uma dissecação pública por ano, realizada no inverno para melhor conservação do corpo, que tinha de ser de um criminoso executado. Por serem raros, tais eventos eram acontecimentos sociais.
Foto: cc
"Melancolia"
Na Idade Média, a melancolia foi um pecado capital. Ela abatia não só pessoas normais, mas também religiosos, que não conseguiam encontrar mais em Deus a resposta para todos os seus problemas. Assim, nada mais que um anjo caído e triste na gravura "Melancolia I", executada em 1514 por Albrecht Dürer, para anunciar o Renascimento e o fato de, a partir daí, a humanidade estar estregue à sua sorte.
Foto: Biblioteca Digital Hispánica
"A origem do mundo"
Gustave Courbet pintou este quadro em 1866 para um diplomata turco e não se sabe quem lhe serviu de modelo. Mas retratar seus órgãos genitais sem nenhum filtro mitológico foi ato decisivo rumo ao modernismo. A obra pertenceu ao psicanalista francês Jacques Lacan e foi mostrada ao público pela primeira vez somente em 1988. Ela está hoje no Museu d'Orsay, em Paris, com direito a vigilante próprio.
Foto: Reuters/P. Wojazer
"Guernica"
Picasso retratou em "Guernica" o bombardeio da cidade basca pelos alemães em 1937. Consta que, ao ver uma pequena foto do quadro no estúdio do pintor em 1944 na Paris ocupada, um oficial alemão perguntou: "Foi você que fez isto?", no que ele respondeu: "Não, foram vocês." Picasso determinou que a obra ficasse sob a guarda do MoMA de Nova York até que a democracia fosse restaurada em seu país.
"Abaporu"
Pintado em 1928 por Tarsila do Amaral, o "Abaporu" (homem que comem gente, em tupi-guarani) não é somente a representação pictórica do modernismo brasileiro, mas também o carro-chefe do acervo do museu Malba, em Buenos Aires. É triste, mas é verdade. Ele não está mais no Brasil. Foi vendido em 1995 para um colecionador argentino, já que na época, não se encontrou um comprador brasileiro.