Parlamento do Irã proíbe inspeções em instalações militares
21 de junho de 2015
Parlamentares aprovam projeto de lei que nega acesso de inspetores da agência nuclear da ONU a áreas de segurança, documentos e cientistas. Premiê israelense pede que potências mundiais "sejam firmes" com Teerã.
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A emissora estatal iraniana comunicou, neste domingo (21/06), que o Parlamento do país votou a favor da proibição de inspeções de investigadores da agência nuclear da ONU, Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em bases militares do Irã.
De 213 parlamentares presentes, 199 votaram a favor do projeto de lei, que também exige a suspensão completa de todas as sanções contra o Irã como parte de qualquer acordo nuclear. Apenas três parlamentares se opuseram às mudanças. Além disso, cinco se abstiveram, outros seis não votaram e dezenas estavam ausentes.
Apenas "acesso controlado"
Com alguns parlamentares gritando "morte à América", em alusão aos Estados Unidos, o Parlamento iraniano deu o primeiro passo para proibir que o acesso a instalações militares e de pesquisa faça parte de qualquer acordo futuro com as potências mundiais – o chamado Grupo 5+1, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia) mais a Alemanha – sobre seu contestado programa nuclear.
O projeto de lei, no entanto, ainda precisa ser ratificado pelo Conselho dos Guardiões da Constituição – um órgão do sistema político iraniano, cuja principal função é garantir que as leis aprovadas pelo parlamento estejam em concordância com a Constituição do país e com a lei islâmica, a charia.
O líder do Parlamento, Ali Larijani, leu o conteúdo do projeto de lei em uma sessão parlamentar transmitida ao vivo pela rádio estatal. Ele afirmou que, em parte, a AIEA, no âmbito de um acordo de segurança, "tem a permissão de realizar inspeções convencionais de instalações nucleares". No entanto, ele ressaltou que "o acesso a instalações militares, de segurança e locais 'sensíveis não nucleares', assim como a documentos e cientistas, está proibido".
Em abril, o Irã e as seis potências mundiais haviam concordado sobre os contornos de um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Na época, prometeu-se que ambos os lados iriam trabalhar na proposta até o final de junho. Não está claro como essa votação parlamentar em Teerã pode afetar esses planos.
Netanyahu pede firmeza
Também neste domingo, o ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, disse que "ainda não está claro" se um acordo entre ambas as partes poderá ser alcançado até 30 de junho. "Na fase em que estamos, temos que ser extremamente firmes. As coisas ainda não estão claras", disse Fabius.
O ministro francês citou ainda conversas que teve com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que pediu para o Grupo 5+1 "se manter firme". Israel tem criticado as potências mundiais por não garantirem que Teerã, notório inimigo de Israel, não irá fabricar uma bomba nuclear.
Na semana passada, o presidente iraniano, Hassan Rohani, disse acreditar num acordo abrangente sobre a questão atômica. Mas ele acrescentou que, para o Irã, a prioridade é alcançar um acordo bom e duradouro – e não a observância de prazos.
Teerã insiste que não está tentando desenvolver armas atômicas com seu programa nuclear. Porém, autoridades iranianas, incluindo o líder supremo aiatolá Ali Khamenei, rejeitaram veemente a ideia de cientistas iranianos sendo entrevistados, classificando tal conduta como uma violação da dignidade e da soberania do país.
PV/afp/dpa/ap
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.