Parlamento espanhol aprova abdicação do rei Juan Carlos
11 de junho de 2014
Lei que permite a coroação de Felipe 6º é apoiada por ampla maioria e aguarda aprovação do Senado. Rajoy defende monarquia como "símbolo da unidade do Estado".
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O Parlamento espanhol aprovou nesta quarta-feira (11/06) a lei orgânica que efetiva a abdicação do rei Juan Carlos em favor de seu filho, Felipe de Bourbon. Aos 46 anos, o herdeiro do trono reinará com o nome de Felipe 6º.
Após um longo debate, a lei foi aprovada por 299 votos a 19, com 23 abstenções. Legisladores de esquerda votaram contra a proposta, pedindo um referendo para decidir sobre a manutenção ou não da monarquia.
A lei foi apoiada pelo opositor Partido Socialista (PSOE) e pelo conservador Partido Popular (PP), do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy. Ele defendeu a monarquia no país como "o melhor símbolo da unidade do Estado". "A Espanha não é uma monarquia moderna e estabelecida", disse.
A legislação deve, agora, passar pela aprovação do Senado na próxima terça-feira. Se aprovada, a lei permitirá a coroação de Felipe 6º, prevista para 19 de junho.
Apesar dos protestos contra o sistema político após Juan Carlos anunciar que abdicaria do trono, pesquisas recentes mostram que 56% dos espanhóis apoiam a monarquia. A adesão à forma de governo cresceu quase seis pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, realizada em janeiro.
Aos 76 anos, Juan Carlos 1º abdicou do trono no início de junho, após ocupar o cargo por 39 anos. Ele foi coroado em 1975, após a morte do general Francisco Franco, e desempenhou um importante papel na transição pós-ditadura no país. Com problemas de saúde, ele deixa o cargo com a popularidade abalada devido a escândalos envolvendo a família real.
Os 39 anos de reinado de Juan Carlos
Durante muitos anos o monarca espanhol rechaçou a ideia de entregar o trono. Sem aviso prévio, ele comunica, agora, que pretende abdicar: seu herdeiro, garante, está preparado para assumir como Felipe 6º.
Foto: Reuters
Fim de uma era
Após quase 40 anos de regência, Juan Carlos deixa o trono. Mas para que a abdicação entre em vigor e o herdeiro possa assumir o trono, o Parlamento espanhol ainda terá que aprovar uma nova lei. Inicialmente, Juan Carlos só pôde comunicar sua decisão ao premiê Mariano Rajoy, já que atualmente o sistema legal da Espanha não prevê que o rei abdique.
Foto: Reuters/Spanish Royal House
À sombra do ditador
Durante muito tempo, Juan Carlos (e) praticamente não detinha qualquer poder político, na qualidade de representante da Casa Real em seu país. Até 1975, o general Francisco Franco (d) governava a Espanha em regime ditatorial. Em 1946 ele reintroduzira a monarquia no país, sem, no entanto, indicar um rei. Em 1969, nomeou Juan Carlos como seu sucessor na chefia do Estado.
Foto: Gianni Ferrari/Cover/Getty Images
Rei democrático
Em 1975, morreu o ditador Franco. Após ser coroado rei da Espanha, Juan Carlos apoiou a formação de partidos políticos e se empenhou pela democratização do país. Em 1978, a Espanha se tornou uma monarquia parlamentarista, ancorada na nova Constituição, ratificada em referendo.
Foto: picture-alliance/dpa
Vitória sobre os golpistas
Juan Carlos obteve status histórico com seu discurso televisivo de 23 de fevereiro de 1981. Nele, condenava a tentativa de golpe por uma parte da classe militar e pela paramilitar Guardia Civil. Ambas contavam com o apoio do monarca, porém ele se manteve fiel à Constituição, e o golpe de Estado fracassou. No dia seguinte, uma passeata pela democracia reuniu centenas de milhares nas ruas de Madri.
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Monarca compassivo
Em 2004, Juan Carlos tocou o coração de inúmeros espanhóis. Em reação à morte de 191 pessoas em Madri, em atentado perpetrado por um grupo terrorista islâmico, declarou na televisão: "O rei sofre com todos vocês." Durante a cerimônia fúnebre para as vítimas, consolou os familiares e não escondeu seu pranto.
Foto: picture-alliance/dpa
Luxo criticado
Em abril de 2012, Juan Carlos foi transportado, ferido, de volta à Espanha. Numa viagem a Botsuana, na África, ele quebrara o quadril durante uma caça a elefantes. Os espanhóis reagiram indignados, indo às ruas protestar contra as luxuosas diversões de férias do chefe de Estado, enquanto em sua pátria a crise financeira se agravava.
Foto: Getty Images
Imagem danificada
Quanto mais o rei caía em descrédito, mais os espanhóis se perguntavam se não era anacrônico manter uma monarquia. Juan Carlos foi acusado de ter casos extraconjugais e até mesmo filhos ilegítimos. Além disso, Iñaki Urdangarin, marido de sua filha Cristina e duque de Palma de Maiorca, respondia a processo por corrupção, acusado de desviar milhões em verbas públicas.
Foto: Getty Images
Felipe, a esperança
Ao justificar sua abdicação, Juan Carlos evocou seu desejo de rejuvenescer a monarquia. Por isso, renunciou à coroa espanhola em favor de seu filho Felipe, que deverá inaugurar "uma nova etapa de esperança". Descrito como modesto, o príncipe herdeiro é extremamente apreciado na Espanha, e poderia angariar nova popularidade para a Casa Real.