Parlamento holandês aprova moção contra acordo Mercosul-UE
7 de março de 2023
Legisladores pedem que o governo do país bloqueie o tratado de livre comércio. Eles apontam risco de "concorrência desleal" no setor agropecuário.
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O Parlamento holandês decidiu nesta terça-feira (07/03) instar o governo da Holanda a bloquear em Bruxelas o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. O motivo, afirmam os parlamentares, é o risco de "concorrência desleal" que os produtores do país correriam se o acordo comercial incluir itens agropecuários.
A deputada holandesa Esther Ouwehand, do Partido dos Animais, elogiou o fato de a maioria do Parlamento, incluindo um dos parceiros de coalizão do governo [a União Cristã], querer pôr "um fim ao acordo de livre comércio com o Brasil, que é extremamente ruim para a Amazônia, os animais e os fazendeiros holandeses".
"Acabou-se o tempo desse tipo de tratados de livre comércio nefastos", acrescentou a parlamentar, que apresentou a moção que pede o bloqueio do tratado caso ele inclua acordos sobre questões agrícolas.
Os liberais do primeiro-ministro Mark Rutte (VVD) e os democratas-cristãos (CDA) votaram contra a moção.
No Brasil, o setor agrícola é justamente um dos que mais seria beneficiado pelo acordo de livre comércio, com o aumento de exportações para os países do bloco europeu.
O Parlamento holandês sempre criticou o acordo, sobretudo por temer que os agricultores locais possam enfrentar uma concorrência desleal dos países sul-americanos e porque acredita que as regulamentações desiguais no campo do bem-estar animal, o uso de antibióticos e a proteção de cultivos oferecem poucas garantias para pecuária, avicultura e produção de açúcar.
O governo holandês ainda não assumiu uma posição oficial, o que deve ser feito somente quando a Comissão Europeia apresentar o documento final do tratado aos Estados-membros. No entanto, a maioria parlamentar insta o governo a "deixar bem claro à Comissão Europeia e em reuniões de ministros de Comércio e Agricultura que a Holanda bloqueará em qualquer caso um tratado UE-Mercosul que inclua a agricultura".
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Qual o atual status do acordo
Em uma reunião com o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz , no final de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que gostaria de concluir o acordo até meados de 2023. "Vamos fechar esse acordo até o final do semestre", disse o petista.
O tratado está em negociação entre os dois blocos desde 1999 e foi assinado em junho de 2019, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro. Mas, desde então, as negociações ficaram congeladas, em boa parte devido aos reflexos da política ambiental de Bolsonaro.
O acordo Mercosul-UE prevê a criação da maior zona de livre comércio do mundo, com um mercado de 780 milhões de pessoas e que representaria cerca de 20% do PIB mundial e mais de 30% das exportações globais.
Há, no entanto, uma série de entraves tanto do lado dos quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) quanto dos 27 Estados-membros da UE, que podem dificultar a ratificação do texto ainda neste semestre. A conclusão da parceria depende da aceitação dos termos pelos parlamentos de todos os países envolvidos e também do próprio bloco europeu.
Holanda, Áustria e a região da Valônia, na Bélgica, votaram contra a ratificação, com temores de que o tratado poderia ter impactos negativos no meio ambiente. Governos de França, Irlanda e Luxemburgo também mostraram resistência.
Além das questões ambientais, há reclamações tanto por parte de setores agrícolas europeus quanto de industriais sul-americanos. Do lado europeu, commodities e carnes perderiam com a concorrência para os produtos sul-americanos. Já do lado contrário, haveria resistência na indústria automotiva argentina quanto à abertura do setor.
Outra questão é o ponto do acordo que trata das compras governamentais, prevendo que fornecedores de bens e serviços possam participar de licitações em qualquer país do tratado, sendo tratadas como empresas domésticas – Lula já defendeu mudanças nesse item.
le/bl (EFE, DW)
A desigualdade econômica na União Europeia
As diferenças nos padrões de vida entre países da União Europeia são extremas. Mas, dependendo de como a riqueza é medida, há algumas surpresas – até quando se trata das nações em crise do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kalker
Bulgária: salários baixíssimos
A Bulgária é considerada o país mais pobre da União Europeia e também aquele onde a corrupção é mais generalizada no bloco. Segundo a Germany Trade and Invest (GTAI), a renda bruta média em 2018 foi de apenas 580 euros por mês. Desde que o país ingressou na UE, vários jovens búlgaros deixaram sua terra natal, sendo muitos deles profissionais qualificados.
Foto: BGNES
Romênia: o penúltimo lugar no ranking econômico da UE
Não se deixe enganar pela riqueza de cidades pitorescas cuidadosamente restauradas, como Brasov (foto), na Transilvânia. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 11.440 euros per capita (2019), o país está, de fato, numa posição melhor do que a Bulgária (8.680 euros). Mas com um salário médio bruto de 1.050 euros em 2019, ainda fica bem atrás da Alemanha (3.994 euros).
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Grécia: saindo de uma crise para entrar em outra
Quando o país estava apenas começando a se recuperar dos efeitos da crise da dívida, em grande parte graças ao turismo dos últimos anos, veio a crise do coronavírus. Ainda que tenha um PIB per capita de cerca de 17.500 euros - aproximadamente o dobro do da Bulgária -, o país é considerado pobre se comparado à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/VisualEyze
França: país de proprietários de imóveis
Quando o assunto é riqueza média, os franceses estão muito à frente dos alemães. Com um patrimônio líquido de 26.500 euros (2018) per capita, os franceses possuem quase 10.000 euros a mais, de acordo com dados da Allianz, em parte devido à baixa participação imobiliária dos alemães. Na França, muitos chegam a ter até uma segunda casa no interior.
Foto: picture alliance/prisma/K. Katja
Itália: sem crescimento e altas dívidas
Entre os países europeus, a Itália foi particularmente atingida pela covid-19, com a cidade de Bérgamo rendendo manchetes como o epicentro da pandemia. Após cerca de duas décadas de estagnação econômica, o país é hoje um dos que defendem a distribuição de ajuda devido à pandemia entre os membros da UE. Com um PIB de 29.610 euros (2018) per capita, a Itália fica pouco abaixo da média do bloco.
Foto: AFP/P. Cruciatti
Espanha: o pavor de uma segunda onda
Após um forte aumento nas infecções por covid-19, as autoridades da Catalunha reimpuseram limitações de circulação em julho. O país é extremamente dependente do turismo, que representa cerca de 15% do PIB. Com uma produção econômica per capita de 26.440 euros (2018), a Espanha fica abaixo da média da UE, de pouco menos de 31.000 euros.
Foto: Reuters/N. Doce
Suécia: muita prosperidade, altos impostos e sem confinamento
A Suécia resolveu enfrentar a crise do coronavírus sem lockdown, o que, em comparação com seus vizinhos, acabou provocando muitas mortes. Com um PIB de 46.180 euros per capita, a Suécia fica em quinto lugar na Europa, atrás de Luxemburgo, Irlanda, Dinamarca e Holanda. Apesar dos altos impostos, os suecos ficaram à frente dos franceses em 2018, com um patrimônio líquido de 27.511 euros.
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Países Baixos: riqueza e produção econômica elevadas
Ao lado da Suécia, Dinamarca e Áustria, os holandeses estão entre os países que rejeitam transferências bilionárias sem contrapartida de reformas para países como a Itália. Com um PIB de 46.800 euros per capita (2019) e um patrimônio líquido de mais de 60.000 euros per capita (2018), eles estão no topo do ranking da UE.
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Alemanha: uma nação rica, mas os cidadãos nem tanto
Até agora, o país tem contornado a pandemia com sucesso. Os custos econômicos, no entanto, são enormes: as exportações caíram, e muitas empresas lutam para sobreviver. Detentora da maior economia da UE, a Alemanha teve um PIB de 41.340 euros (2019) per capita. Em 2018, porém, os alemães possuíam um patrimônio líquido de apenas 16.800 euros per capita - metade do observado na Itália.