Marinha italiana enviará embarcações para ajudar Guarda Costeira líbia a deter fluxo migratório no Mediterrâneo. Mais de 2 mil pessoas já morreram neste ano ao se arriscarem na travessia rumo à Europa.
Anúncio
O Parlamento da Itália aprovou nesta quarta-feira (02/08) uma missão naval por tempo limitado par ajudar a Guarda Costeira da Líbia a reduzir o número de embarcações de migrantes que fazem a perigosa travessia do Mar Mediterrâneo rumo à Europa. O tema vem gerando atritos políticos na Itália, meses das eleições nacionais marcadas para 2018.
Ao anunciar a missão naval na semana passada, o governo italiano disse que a iniciativa surgiu a pedido do governo da Líbia. A intenção era enviar seis embarcações para tomar parte nas operações, mas o planejamento teve de ser revisto após protestos em Trípoli. Fontes do governo italiano afirmam que o país deverá enviar apenas dois navios.
O plano foi inicialmente acordado entre o primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentiloni, e Fayez Serraj, que encabeça o governo líbio reconhecido internacionalmente, com sede em Trípoli.
A ministra italiana da Defesa, Roberta Pinotti, afirmou que as embarcações da Marinha italiana vão apenas fornecer apoio à Guarda Costeira da Líbia, sem violar a soberania do país do norte da África.
"Forneceremos apoio logístico, técnico e operacional aos navios líbios, os ajudando e apoiando em ações compartilhadas e coordenadas", afirmou Pinotti ao Parlamento nesta quarta-feira. "Nosso objetivo é reforçar a soberania da Líbia", disse a ministra.
A câmara baixa do Parlamento aprovou a missão naval com 328 votos a favor e 113 contra, de um total de 630 parlamentares. A medida precisa agora do aval do Senado.
Fluxo migratório diminui
Após um aumento da chegada de migrantes através da Líbia no início do ano, os números vem diminuindo nas últimas semanas. O Ministério italiano do Interior informou nesta quarta-feira que 95.215 pessoas chegaram ao país na primeira metade de 2017, o que significa uma redução de 2,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O ministério informou que 11.193 pessoas foram registradas nos portos italianos no mês de julho. Em 2017, o total no mesmo período foi de 23.552. Em torno de 2.230 migrantes morreram este ano tentando realizar a travessia do Mediterrâneo.
Nos últimos quatro anos, o total de migrantes que chegaram á Itália foi de cerca de 600 mil, sobrecarregando a capacidade dos centros de acolhimento e aumentando as tensões políticas no país. Espera-se que nas eleições nacionais, marcadas para maio de 2018, a imigração seja um tema central no debate político. Os partidos populistas de direita acusam o governo centrista de nada fazer para barrar o fluxo migratório.
O governo entrou em atrito com ONGs que participam de operações de resgate no Mediterrâneo ao impor um código de conduta e exigir que policiais armados participem das missões para ajudar a identificar traficantes de pessoas. As embarcações estão proibidas de mover as pessoas resgatadas de um barco para outro em alto mar, o que, segundo as ONGs, deverá resultar em mortes evitáveis.
Apenas três das nove ONGs que atuam em operações de resgate no Mediterrâneo aceitaram as condições impostas pelo governo italiano. A Itália não especificou quais seriam as consequências para os que não acatarem o código de conduta.
RC/rtr/dpa/afp
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac