Parlamento russo ratifica anexação de regiões da Ucrânia
4 de outubro de 2022
Câmara alta aprova por unanimidade medida que viola direito internacional. Tratados assinados por Putin preveem russo como língua oficial e rublo como moeda nas províncias ocupadas por tropas russas.
Anúncio
A câmara alta do Parlamento russo ratificou nesta terça-feira (04/10) por unanimidade os tratados para anexar quatro regiões ucranianas parcialmente ocupadas pelas forças russas. Moscou pretende anexar ilegalmente Lugansk, Donetsk, Zaporíjia e Kherson. Os documentos foram assinados pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, na semana passada.
A anexação se baseia emcontroversos referendos realizados nessas regiões. Há indícios de que eles ocorreram sob ameaça de violência e intimidação. Autoridades russas chegaram a levar urnas de casa em casa, no que a Ucrânia e o Ocidente afirmam ser um exercício ilegítimo e coercitivo para criar um pretexto legal para a anexação dos territórios.
Os tratados foram apresentados aos senadores pelo ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov. Ele afirmou que a falta de reconhecimento do Ocidente "não importa" e que a anexação de territórios da Ucrânia se "trata de uma nova realidade".
Além da câmara alta, os tratados foram aprovados pelo Tribunal Constitucional do país e ratificados nesta segunda-feira pela Duma, a câmara baixa do Parlamento russo. Não houve debate sobre a ratificação. Agora eles seguem para promulgação por Putin para entrarem em vigor.
Os tratados estabelecem o russo como a língua oficial das regiões anexadas ilegalmente, além do rublo como nova moeda. É previsto ainda um período transitório até 2026.
As quatro regiões representam cerca de 15% do território da Ucrânia, e abrangem aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados – uma área um pouco maior do que a de países como a Hungria e Portugal.
Anúncio
As regiões ocupadas
As regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, têm sido apoiadas por Moscou desde que declararam independência em 2014, semanas após a anexação da Península da Crimeia.
Já Kherson e parte da vizinha Zaporíjia, no sul, foram capturadas pela Rússia logo após Putin ter enviado suas tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro.
Após perder parte de seus territórios ocupados durante uma bem-sucedida contraofensiva ucraniana neste mês, Putin e seus militares advertiram abertamente Kiev contra a realização de novos ataques, dizendo que a Rússia encararia isso como um ato de agressão – ameaças que Moscou pode sustentar com o maior arsenal de ogivas nucleares do mundo.
Os pseudorreferendos organizados pelo Kremlin foram uma tentativa de Putin de evitar mais derrotas nos campos de batalha, o que poderia ameaçar seus 22 anos no poder.
Observadores afirmam que, ao anexar regiões ucranianas, Putin aparentemente espera assustar Kiev e seus aliados ocidentais com a perspectiva de um conflito cada vez mais escalonado, a menos que eles recuem – o que eles não mostram sinais de fazer.
cn/ek (Lusa, DPA, Reuters)
Instantâneos de uma Ucrânia em guerra
Mostra "O novo anormal", no Museu Deichtorhallen de Hamburgo, registra horrores da guerra, mas também a resistência dos ucranianos, em trabalhos de 12 fotógrafos do país sob invasão russa.
Foto: Oksana Parafeniuk
Civis treinam com armas de madeira
Nesta imagem feita perto de Kiev em 6 de fevereiro de 2022, menos de duas semanas antes da invasão russa, a fotógrafa Oksana Parafeniuk capturou a determinação de seus compatriotas de resistir. Embora os países ocidentais não esperassem que a Rússia atacasse a capital a Ucrânia, os civis de lá já estavam treinando com armas de madeira, para caso de emergência.
Foto: Oksana Parafeniuk
Resistindo com o país
Em 24 de fevereiro, o fotógrafo Mykhaylo Palinchak acordou em Kiev com o som de sirenes, pouco depois ouviu uma explosão. "Desde então, estamos vivendo num novo mundo", afirma. Suas fotografias mostram granadas, casas destruídas e como seus compatriotas defendem a nação, mais do que nunca. A mulher da foto exibe o pulso esquerdo tatuado com o mapa da Ucrânia.
Foto: Mykhaylo Palinchak
Começou às 5 da manhã
"A guerra é a pior das opções da humanidade. Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma foto pode transmitir este horror", diz a fotógrafa Lisa Bukreieva. "Com a invasão dos russos, meu sentido de tempo mudou. É apenas um horror de longa
duração." Esta fotografia capta o momento em que a guerra começou para ela.
Foto: Lisa Bukreieva
Cidadãos de Kiev - parte 1
Depois da invasão da Ucrânia pelo exército russo, Kiev se transformou em outra cidade, relata Alexander Chekmenev, de 52 anos. Muitos fugiram, ele próprio enviou a família para a segurança no exterior, mas ficou no país para documentar com sua Pentax a vida dos cidadãos de Kiev em tempos de guerra. Como esta ucraniana em uniforme de combate.
Foto: Alexander Chekmenev
Cidadãos de Kiev - parte 2
Abrigos antiaéreos e centros de primeiros-socorros espalharam-se pela capital ucraniana. Lá, Chekmenev fotografou gente comum, que nunca esteve sob os holofotes: "Eu queria mostrar a dignidade deles. Este país pertence ao seu povo, e eu quero mostrar o meu respeito por cada um deles", diz o fotógrafo de renome internacional.
Foto: Alexander Chekmenev
Traços do presente
Em sua série de fotografias, Pavlo Dorohoi capturou a vida em tempos de guerra em sua cidade natal, Kharkiv. Muitos cidadãos se esconderam em estações do metrô para escapar das bombas, transformando os locais em lares temporários, com "tapetes, cobertores e outros objetos pessoais", relata Dorohoi.
Foto: Pavlo Dorohoi
Bucha: o local do horror
O arquiteto e fotógrafo de Kiev Nazar Furyk fotografou lugares devastados pelas tropas russas, entres os quais a cidade de Bucha, que se tornou símbolo de muitas atrocidades. O fotógrafo se pergunta: como é possível continuar vivendo num lugar assim? Como se lida com essa experiência, gravada profundamente na memória coletiva da população ucraniana?
Foto: Nazar Furyk
Diário de Kiev - parte 1
A fotógrafa e videoartista Mila Teshaieva mantém um diário online desde o início da guerra, onde registrou tudo: desde os primeiros dias, antes dos mísseis, até os crimes contra a humanidade revelados desde então. Seus registros também incluem fotos, como esta.
Foto: Mila Teshaieva
Diário de Kiev - parte 2
Mila Teshaieva relata o desespero que a guerra provoca, mas também registra a união dos ucranianos e sua enorme vontade de resistir. Em sua cidade natal, Kiev, os moradores estão tentando proteger não só a si, mas também seus monumentos, símbolos da identidade nacional.
Foto: Mila Teshaieva
Documentação da guerra
Vladyslav Krasnoshchok é dentista, mas há anos se dedica à arte. Agora viaja por sua pátria devastada e fotografa carros queimados, pontes e tanques destruídos. "Eu tiro fotos, ouço tiros e corro de volta para o carro. Adrenalina pura!", escreve. Ele sempre revela os filmes imediatamente. Afinal, não se sabe se haverá oportunidade de tirar mais fotos.
Foto: Vladyslav Krasnoshchok
Mutilado
"Vivendo com o medo de ser ferido" é o nome da série de fotos do designer Sasha Kurmaz. A violência tem feito parte da história humana desde o início, afirma, e não está otimista se isso vá mudar em breve. Ainda assim, não desiste de sua luta pessoal por um mundo melhor.
Foto: Sasha Kurmaz
Porto seguro?
Uma cadeira, copos com bebidas: para Elena Subach esta foto tirada na cidade de Uzhgorod, no oeste da Ucrânia, simboliza a segurança de quem foge rumo a outros países. "Quase todo homem tirou uma foto da esposa e dos filhos antes de lhes dizer adeus. Eu nunca vi tanto amor e tanta dor ao mesmo tempo."