Parque Nacional Berchtesgaden inspira esportistas e artistas
7 de outubro de 2006No extremo sudeste da Alemanha, entre Munique e Salzburgo (Áustria), situa-se uma paisagem que o viajante e naturalista alemão Alexander von Humboldt certa vez classificou como "uma das mais belas da Terra": o Parque Nacional Berchtesgaden.
Fundado em agosto de 1978 e declarado Reserva da Biosfera pela Unesco em 1990, ele abrange uma área de 210 quilômetros quadrados. A fauna inclui mais de 100 espécies de pássaros, 15 tipos de peixes e animais raros, como o cabrito montanhês, reintroduzido na região nos últimos 30 anos.
Uma rede de trilhas de aproximadamente 230 km o transforma num verdadeiro paraíso para contempladores da natureza, amantes do montanhismo e do esqui e também para artistas.
Um dos caminhos que leva direto ao coração do parque parte de Berchtesgaden, cidade de 7735 habitantes, a 150 km de Munique e 24 km de Salzburgo. O primeiro trajeto pode ser feito de carro, até a Jennerbahn Mittelstation (estação do teleférico), no bairro Hinterbrand, a uma altitude de 1200 metros.
Na subida até a estação é possível visitar o Centro de Documentação Obersalzberg, uma exposição permanente do Instituto Histórico Munique-Berlim. Residência de férias de Hitler desde 1923, Obersalzberg foi a segunda sede do regime nazista, ao lado de Berlim, a partir de 1933. A exposição liga a história local com as manifestações do nazismo.
Cenário de pintura
A pé leva-se 2h30min (de teleférico menos de meia hora) para ir da Mittelstation até o pico Jenner (1874 m), de onde se tem uma das mais impressionantes vistas panorâmicas dos Alpes bávaros: o lago Königssee aos pés do monte Watzmann.
Há séculos este "cantinho do paraíso" inspira poetas e pintores. Até mesmo Caspar David Friedrich (1774–1840), um dos principais expoentes do Romantismo alemão, dedicou um de seus quadros ao Watzmann. Com 2713 metros de altitude, é o segundo pico mais elevado da Baviera, depois do Zugspitze.
Dormir na cabana alpina
Uma caminhada na Reserva da Biosfera de Berchtesgaden só é completa quando se pernoita numa das cabanas construídas no parque pela Associação dos Alpes (Alpenverein). A opção mais romântica para quem chega ao Jenner é andar mais meia hora até a aconchegante Karl von Stahlhaus.
Construída em madeira entre 1921 e 1923, na fronteira teuto-austríaca, a cabana tem 24 camas e mais 70 colchões dispostos em quartos coletivos. Ela abre o ano inteiro, mas no inverno só se chega de esqui.
Os preços de hospedagem são razoáveis para os padrões europeus: entre 9 e 18 euros pelo pernoite; 6,90 euros por um prato simples, como Leberkäse (um bolo feito de pasta de carne bovina e suína) com batatas assadas; e 5 euros pelo café da manhã.
Nos finais de semana do verão, recomenda-se fazer reserva antecipada. O ambiente é tão limpo que é preciso levar chinelos – o sapato de caminhada tem de ser tirado na entrada. Por questão de higiene, deve-se levar também um lençol e uma capa de cobertor.
Da Karl von Stahlhaus partem trilhas para escalar as montanhas nos arredores ou fazer caminhadas de vários dias pelo parque, inclusive até o lago Funtensee, o ponto mais frio da Alemanha. A decida no dia seguinte, até o estacionamento em Hinterbrand, dura cerca de 2 horas a pé. Das 9h às 17 horas, também se pode retornar de teleférico a partir do pico Jenner, por 9,60 euros.
Ramsau e Hintersee
Quem prefere fazer caminhadas curtas em vez de uma longa e cansativa, pode, por exemplo, emendar uma visita a Ramsau, a 10 km do centro de Berchtesgaden. A principal atração deste idílico povoado de 1770 habitantes é a Igreja de São Sebastião e São Fabiano.
Construída em 1512 e ampliada em estilo barroco em 1692, tendo a montanha Reiteralpe ao fundo, é um dos mais belos cartões-postais da Baviera. Tem fama mundial não só por aparecer em selos dos Correios Alemães. Josef Mohr, autor da canção Noite Feliz, foi pároco auxiliar na igreja.
A 4 km da igreja encontra-se o lago e o bairro Hintersee, ponto de partida para caminhadas a diferentes pontos do parque. Uma delas leva à Schärtenalm, a 1362 m de altitude, onde se chega após 2h45min suando morro acima. A trilha é larga, bem demarcada e coberta de macadame, mas íngreme. Sapatos com solas aderentes são imprescindíveis.
A Schärtenalm é um rancho transformado em rústico restaurante panorâmico, que oferece pratos típicos, como o Kaiserschmarrn (panqueca em pedaços), cerveja, refrigerantes, café e tortas deliciosas. Ali não se pode pernoitar, mas desfrutar a vista sobre o lago Hintersee e as montanhas que o rodeiam.
Quem quiser dormir mais uma noite nas alturas, precisa caminhar mais uma hora até a cabana Blaueishütte, na trilha que vai em direção à Blaueis, a geleira mais setentrional dos Alpes. Visitar o que ainda resta da "geleira azul", no entanto, é uma outra aventura. As duas caminhadas descritas acima são esforço físico suficiente para um fim de semana.