Partido único norte-coreano reforça autoridade de Kim
11 de janeiro de 2021
Líder da Coreia do Norte é nomeado secretário-geral do Partido dos Trabalhadores. Com o novo título, Kim, que já controlava as Forças Armadas e outros setores-chave, consolida ainda mais seu poder.
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O líder norte-coreano, Kim Jong-un, recebeu o título de secretário-geral do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, informou nesta segunda-feira (11/01) a agência estatal de notícias do país asiático, a KCNA.
A nomeação, por unanimidade, foi confirmada durante o oitavo congresso do partido único da Coreia do Norte, em Pyongyang. O título de secretário-geral havia sido abandonado no anterior congresso, em maio de 2016, ano em que Kim Jong-un foi eleito presidente do partido.
Analistas afirmam que a mudança de designação é meramente simbólica e tem como objetivo reforçar a autoridade do líder norte-coreano.
O vice-diretor do Departamento de Organização e Direção do partido, Jo Yong-won, considerado uma das pessoas mais próximas do líder da Coreia do Norte, se tornou uma das cinco figuras mais poderosas da cúpula do regime, da qual, além de Kim Jong-un, também fazem parte Choi Ryong-hae, Ri Pyong-chol e Kim Tok-hun.
Também decidiu-se realizar congressos do partido a cada cinco anos. Até hoje, esses eventos ocorriam com intervalos aleatórios, mas o líder do país já havia manifestado recentemente a intenção de convocar as reuniões de forma regular.
Kim assumiu a liderança do país após a morte de seu pai, Kim Jong-il, em 2011. Alguns observadores questionavam sua capacidade de se manter no poder. No entanto, o líder, que completou 37 anos na última sexta-feira, conseguiu consolidar o seu poder aos poucos, através da eliminação ou expurgação de seus potenciais adversários.
Desde que passou a comandar a Coreia do Norte, Kim também assumiu uma série de cargos de alto escalão, como a presidência da Comissão de Assuntos de Estado, e se tornou comandante supremo das Forças Armadas do país, com contingente de 1,2 milhão de militares.
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Incertezas sobre papel da poderosa irmã de Kim
Chamou atenção no atual congresso do partido único o fato de a irmã de Kim, Kim Yo-jong, não ter sido incluída na nova lista do politburo, o que gerou especulações sobre seu status atual, depois de ter se tornado uma das pessoas mais influentes do país nos últimos anos.
Ela, porém, ainda é membro do Comitê Central do do Partido dos Trabalhadores. Sua ausência no politburo, o comitê executivo do partido, for revelada dias depois de ela ter ocupado pela primeira vez o pódio da liderança do partido, juntamente com outros 38 executivos, no início do congresso.
Analistas avaliam que ainda é cedo para afirmar se ela teria ou não perdido influência na administração do partido. Muitos, porém, afirmam que a ausência de seu nome na lista do politburo não significa que ela tenha menos poderes, uma vez que é conhecida por preferir atuar nos bastidores.
Retórica nuclear em primeiro plano
No sábado, durante o congresso do partido único, o líder norte-coreano definiu os Estados Unidos como o seu "maior inimigo” e prometeu reforçar o arsenal nuclear do país. O ditador falou sobre a necessidade de "se impor" aos EUA, que definiu como "o principal obstáculo no desenvolvimento da revolução", segundo informou a KCNA. Ele exigiu que Washington pare com suas "políticas hostis" em relação a Pyongyang.
Referindo-se à iminente posse de Joe Biden como presidente americano, Kim alegou que a política dos EUA não muda "independentemente de quem está no poder", cobrou que Washington retire as sanções internacionais contra seu país e defendeu a necessidade de "reforçar constantemente a mais poderosa dissuasão" para proteger a Coreia do Norte, citando o programa de armas nucleares do país.
Kim ordenou que seja desenvolvido um sistema de armas nucleares mais avançado com várias ogivas, mísseis nucleares que podem ser lançados debaixo da água, satélites espiões e submarinos nucleares. Kim anunciou que os planos para um submarino com propulsão nuclear já foram concluídos e que os projetos estão em "fase de revisão".
RC/lusa/ap/rtr
Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.