Partido A Esquerda dissolve bancada em meio à crise interna
14 de novembro de 2023
Após racha, legenda esquerdista alemã ficou abaixo do mínimo necessário para manter seu grupo parlamentar no Bundestag. Saída da líder Sahra Wagenknecht e aliados gera ameaças à sobrevivência do partido.
Anúncio
Após uma crise interna que culminou na divisão do partido, parlamentares da legenda alemã A Esquerda anunciaram nesta terça-feira (14/11) a dissolução de sua bancada no Bundestag, depois de 18 anos de atuação na câmara baixa do Parlamento alemão.
A crise no A Esquerda, partido que vem perdendo espaço no panorama político do país nos últimos anos – juntamente com grande parte de seus eleitores – se agravou após Sahra Wagenknecht, uma de suas líderes mais conhecidas, anunciar no final de outubro que estava deixando a legenda e levando consigo outros nove integrantes.
Ela saiu com o objetivo de fundar um novo partido populista de esquerda. Especialistas, no entanto, avaliam que a nova agremiação pode representar ameaças tanto ao A Esquerda quando ao partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).
Após o racha, o partido esquerdista alemão ficou abaixo da cota mínima de 37 parlamentares e marcou a dissolução de sua bancada para 6 de dezembro. A decisão deve gerar um grande impacto na legenda.
Anúncio
"A Esquerda não morreu"
A dissolução de um grupo parlamentar em meio de mandato é algo inédito na política alemã. Isso é algo que costuma ocorrer somente após derrotas eleitorais. A medida deve provocar o surgimento de dois grupos parlamentares. De um lado, os 28 membros restantes do A Esquerda e, do outro, Wagenknecht e seus aliados.
O A Esquerda terá de abrir mão de alguns de seus direitos parlamentares e do financiamento do governo federal para seus 108 funcionários, que perderão seus empregos.
O líder da legenda Dietmar Bartsch disse que "este não foi um grande dia, mas, ainda assim, é uma chance para um recomeço". Ele fez, porém, questão de afirmar que o "A Esquerda não morreu".
Janine Wissler, colíder do partido, disse que a dissolução da bancada encerrou o capítulo atual e assegurou que a legenda se manterá viva. "Somos o único partido relevante de esquerda na Alemanha e estamos lutando para nos fortalecer novamente", afirmou.
Figura controversa
Wagenknecht já anunciou que seu partido deverá concorrer nas eleições estaduais e europeias em 2024. Com esse propósito, ela fundou a chamada Associação Sahra Wagenknecht – por Razão e Justiça, como uma etapa preparatória para a fundação do novo partido e para dar início à coleta de doações.
Ela tem sido uma das figuras mais conhecidas e controversas da política alemã nos últimos anos, assumindo posições próximas à ultradireita em questões como migração, gênero e clima; mas permanecendo à esquerda em questões de economia.
Wagenknecht também mantém algumas posições pró-Rússia e contrárias à Otan, que são características da extrema esquerda. Ela entrou em choque com líderes do A Esquerda por expressar posições contra a vacinação obrigatória na pandemia e por criticar as sanções impostas a Moscou.
rc (DPA, DW)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.