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Partido A Esquerda se firma

Christian Gies (as)29 de janeiro de 2008

Novo partido político mobiliza eleitorado próprio e modifica o espectro partidário alemão, afirma professor Nils Diederich, da Universidade Livre de Berlim.

Willi van Ooyen, candidato a governador do partido A Esquerda em HessenFoto: picture-alliance/ dpa

O ingresso do novo partido político A Esquerda nas assembléias estaduais da Baixa Saxônia e de Hessen poderá ter um efeito mobilizador sobre os simpatizantes do partido, avalia o professor de Ciências Políticas da Universidade Livre de Berlim Nils Diederich.

"Mas se esse será um fenômeno temporário ou duradouro, poderemos avaliar apenas nas próximas eleições", pondera Diederich. Para ele, as eleições nos dois estados alemães deixaram claro que o partido tem um eleitorado próprio e começa a se firmar também no Oeste Alemão.

Em entrevista à DW-WORLD, o professor afirma que o resultado é relevante para o sistema político alemão, já que amplia o espectro partidário. Diederich diz ainda que o debate sobre criminalidade entre jovens estrangeiros iniciado pelo governador de Hessen e candidato à reeleição, Roland Koch, beneficiou A Esquerda.

DW-WORLD: Tanto na Baixa Saxônia como em Hessen, o partido A Esquerda conseguiu superar a barreira de 5% dos votos necessários para entrar na assembléia estadual. Como os resultados dessas duas eleições estaduais podem ser interpretados?

Nils Diederich: O resultado das eleições é um indicador de que A Esquerda começa a se firmar também no Oeste da Alemanha e tem condições de mobilizar um número sólido de simpatizantes. Se esse será um fenômeno temporário ou duradouro, nós poderemos avaliar apenas nas próximas eleições para o Bundestag [câmara baixa do Parlamento alemão].

Extrair uma conclusão sobre que influência esse resultado terá nas próximas eleições para o Bundestag é muito difícil. É o que mostram as diferenças nos resultados em Hessen e na Baixa Saxônia. O que Koch tornou evidente é que nem sempre os meios demagógicos levam ao sucesso. Aparentemente, os eleitores na Alemanha estão suficientemente maduros para tomar decisões caso a caso e não se deixam impressionar por slogans criados para amedrontá-los. Ao contrário, Koch conseguiu afugentar alguns eleitores. É o que também mostra o movimento de eleitores na direção do Partido Liberal Democrático (FDP). Certamente eleitores conservadores não gostaram do estilo de Koch, mas queriam votar num conservador e acabaram optando pelo FDP.

O partido A Esquerda também se beneficiou do discurso eleitoral de Koch?

O impressionante é que a polarização entre Ypsilanti e Koch não levou a uma concentração de votos no SPD. Ou seja, A Esquerda mobiliza seu próprio eleitorado, que é claramente contra Koch, mas que não vê o SPD como uma alternativa suficiente. Assim é possível dizer que A Esquerda se beneficiou [das declarações] de Koch. Um benefício ainda maior veio do fato de o SPD não parecer confiável a todos os eleitores, fazendo com que alguns deles optassem por A Esquerda.

A Esquerda já tem representação em nove assembléias estaduais. Esse sucesso continuará?

O resultado é, sem dúvida, relevante para o sistema partidário, e isso também em nível europeu, mas não devemos exagerar o seu significado. Ainda não sabemos nada sobre a estabilidade do comportamento desse eleitorado. De um modo geral, é notável que o espectro partidário na Alemanha está se tornando mais diferenciado.

As eleições em Hessen e na Baixa Saxônia terão consequências nas eleições em Hamburgo no próximo dia 24 de fevereiro?

Sou muito cético a esse respeito, já que os resultados foram muito específicos para cada estado. As consequências de domingo passado estarão mais relacionadas à questão de saber se os responsáveis nos partidos mais afetados, principalmente a CDU e o SPD, aprenderão com isso e mudarão suas estratégias.

Certamente Von Beust [prefeito de Hamburgo, da CDU] não cometerá o erro de adotar um tom semelhante ao de Koch, mas tentará seguir por uma linha mais leve, voltada para o centro, como Wulff [governador reeleito da Baixa Saxônia, também da CDU]. Isso já tem consequências no tom do discurso. Mas os eleitores tendem a levar muito em consideração os aspectos políticos locais.

A Esquerda tem chances de ingressar na assembléia de Hamburgo?

Disso eu não estou tão certo. Para alguns eleitores passará a haver uma motivação para votar em A Esquerda. São aqueles que dizem "eu não gostaria de dar o meu voto para um partido para o qual não há certeza de que ele conseguirá chegar ao Parlamento." Isso pode agora encorajar alguns eleitores próximos ao SPD a optar conscientemente por A Esquerda para ampliar o espectro de opções partidárias de esquerda. A sustentação de A Esquerda depende apenas da motivação de seus simpatizantes, que agora percebem que A Esquerda deixa o grupo dos partidos pequenos e começa a se estabelecer no Oeste. Isso pode criar um efeito mobilizador.

A imprensa especulou que a derrota de Koch em Hessen também é uma derrota da chanceler federal Angela Merkel porque ela apoiou Koch na campanha eleitoral. O senhor também tem essa opinião?

Isso é um grande exagero. Merkel se colocou ao lado de Koch por obrigação. Mas, na verdade, o resultado negativo para Koch e a confirmação da linha adotada por Wulff são, antes de mais nada, uma confirmação da linha adotada pela chanceler. Ela sai – ao contrário do que muitos pensam – talvez até fortalecida dentro do seu partido, já que o curso por ela adotado se mostrou correto para vencer eleições – e isso também em nível nacional.

Ou seja, a chanceler não está ameaçada?

Eu não a vejo ameaçada. Os dois parceiros de coalizão [CDU e SPD] reforçaram que pretendem manter a parceria até o final do período legislativo, e então se separar. O resultado de domingo significa que eles devem se reorganizar e se realinhar. O resultado serve principalmente para o reordenamento do sistema partidário ou – dito de uma forma militar – para o reposicionamento das tropas para o próximo grande combate.

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