Partido de Merkel elege Armin Laschet como novo líder
16 de janeiro de 2021
Com 55 votos de vantagem num 2º turno, governador renano será presidente da União Democrata Cristã. Eleição pode definir futuro chefe de governo alemão, mas proximidade a Merkel é faca de dois gumes para Armin Laschet.
Anúncio
Numa votação observada com suspense na Alemanha, o partido de Angela Merkel, União Democrata Cristã (CDU), escolheu o governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, como seu novo presidente. A decisão coube a 1.001 delegados, em convenção partidária digital realizada neste sábado (16/01).
Com 521 votos no segundo turno, superou por 55 votos o concorrente Friedrich Merz, ex-chefe da bancada da CDU no Bundestag (câmara baixa do parlamento). O terceiro candidato, o especialista em política externa Norbert Röttgen, fora descartado na primeira votação.
A relevância da escolha do chefe democrata cristão no âmbito nacional deve-se também ao fato de o grande partido governista vir se destacando nas pesquisas de intenção de voto para as eleições legislativas de 26 de setembro próximo. Caso a CDU vença, seu líder muito provavelmente será o próximo chanceler federal alemão, sucedendo a Merkel após 16 anos de mandato.
Entre tradição e renovação
A atual popularidade da CDU se deve, em grande parte, à bem-sucedida gestão de crise de Merkel na pandemia de covid-19. E Laschet é considerado leal à atual chefe de governo, tendo apoiado sem reservas tanto sua controvertida política para os refugiados como a abertura do partido conservador para a esquerda.
Assim, observadores partem do princípio que, se assumir a Chancelaria Federal, o político de 59 anos, desde 2017 governador do mais populoso estado alemão, vá dar continuidade praticamente inalterada ao curso político de Merkel. Por outro lado, ele tem expressado preocupação quanto ao futuro da conservadora CDU, a qual costuma mancar atrás das mudanças sociais.
Numa ocasião recente, o governador renano perguntou abertamente a seus correligionários: "Somos representativos da sociedade? A resposta é 'não'." Assim, ele almeja atrair, tanto para os quadros como para o eleitorado democrata-cristão, mais jovens, mais mulheres e mais cidadãos de origem estrangeira.
Sobre os imigrantes, Laschet comentou: "Se os conquistarmos, temos uma chance de permanecer como partido majoritário no longo prazo." Faz parte de seu programa, ainda, mais digitalização e mais proteção climática para Alemanha, embora sempre associadas a uma economia forte.
Anúncio
Merkel, faca de dois gumes
A proximidade a Angela Merkel é uma faca de dois gumes para Laschet. Como lembrou numa conferência digital recente Friedrich Merz, seu ex-concorrente à liderança democrata-cristã, "em 26 de setembro não seremos eleitos por gratidão pelo passado, mas sim com expectativas e esperanças para o futuro".
Um dos grandes desafios para a CDU é manter um perfil político centrista definido, mantendo-se a distância política segura, tanto da Alternativa para a Alemanha (AfD), à direita, quando do partido A Esquerda. Antes da votação deste sábado, alertando contra a divisão da sociedade, Laschet exortou: "Só vamos vencer se permanecermos fortes no centro."
Mais do que tudo, o avanço do populismo de direita tem sido uma ameaça premente à manutenção da linha liberal-democrática na política alemã. Enquetes recentes indicam que a AfD detém, em média, 10% da preferência da população.
Nesse sentido, foi tão previsível quanto reveladora a reação do presidente da AfD, Jörg Meuthen, à escolha de Armin Laschet: "Más notícias para a Alemanha: agora o 'merkelismo' vai continuar."
AV/rtr,dpa,dw
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.