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Partido de Merkel sofre derrota em eleições regionais

14 de março de 2021

União Democrata Cristã perde apoio em dois pleitos estaduais encarados como termômetro para eleição federal. Mau resultado ocorre após escândalos envolvendo deputados da sigla e críticas sobre lentidão na vacinação.

Berlin CDU-Parteitag | Angela Merkel, Bundeskanzlerin
Merkel pretende deixar a liderança do governo alemão após eleições de setembroFoto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger

A União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler federal, Angela Merkel registrou derrotas significativas em duas eleições regionais neste domingo (14/03). Os resultados mostram que escândalos envolvendo três deputados da sigla e as crescentes críticas sobre a lentidão na distribuição de vacinas na Alemanha provocaram uma perda de apoio entre os eleitores. No final, partidos mais à esquerda da CDU acabaram colhendo resultados melhores.

Em jogo neste domingo estavam a escolha da composição dos parlamentos dos estados de Baden-Württemberg e da Renânia-Palatinado, ambos no sudoeste do país. Os resultados eram esperados com atenção, como um indicador para a eleição geral do terceiro trimestre, que vai definir a sucessão de Merkel, que já anunciou sua aposentadoria após 16 anos no poder.

Projeções iniciais apontam que a CDU perdeu 2,9 pontos percentuais entre os eleitores de Baden-Württemberg em relação à última eleição, em 2016. Já na Renânia-Palatinado o tombo foi ainda maior: queda de 4,1 pontos percentuais.

A participação em ambas as eleições foi fortemente marcada por um número recorde de cédulas pelo correio.

Baden-Württemberg

Na esfera regional, o resultado enfraquece a posição da CDU na coalizão que governa Baden-Württemberg, liderada pelo político verde Winfried Kretschmann, que deve continuar no posto. Nos últimos meses, membros da CDU tinham esperança de conquistar resultados mais robustos para fortalecer sua participação no governo local ou até mesmo liderar a coalização.

Mas foi o partido de Kretschmann que conquistou o melhor resultado. Ele deve ficar com 32,6% dos votos, acima dos 30,3% de 2016. Kretschmann é o único chefe de governo estadual verde de toda a Alemanha e sua administração é acompanhada com atenção, já que pesquisas apontam que há boas chances de que o Partido Verde venha a participar do governo federal da Alemanha a partir de setembro.

Já a CDU deve ficar com 24,1%, o pior resultado da história da legenda em Baden-Württemberg.  Analistas apontam que o envolvimento recente de um deputado da CDU que representava o estado no Parlamento federal (Bundestag) num escândalo de venda de máscaras contra o coronavírus acabou enfraquecendo a campanha regional do partido na reta final. O agora ex-deputado Nikolas Löbel admitiu ter recebido 250 mil euros ao atuar como atravessador de uma importadora de máscaras em negociações com duas empresas alemãs. Ele renunciou ao mandato nesta semana.

O pleito em Baden-Württemberg ainda apontou uma perda de apoio significativa do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que deve ficar com 9,7% dos votos, contra 15.1% em 2016. O Partido Liberal Democrático, por sua vez, teve bons resultados, subindo de 8,3% para 10,5% no pleito deste domingo.

Com o resultado, existe a possibilidade de que o governador Kretschmann possa procurar outros parceiros de coalização entre os liberais-democratas e social-democratas e expulsar a CDU do governo local.

Renânia-Palatinado

No outro pleito deste domingo, a CDU registrou uma derrota ainda mais dura. O partido da chanceler federal recebeu 27,7% dos votos, contra 31,8% em 2016. Neste caso, a CDU não fazia parte da coalização que governa o estado e os resultados gerais afastam qualquer chance de que a sigla venha a participar de uma aliança. A Renânia-Palatinado foi até o fim dos anos 1980 um reduto tradicional da CDU, mas o partido perdeu espaço no estado nas últimas três décadas.

Governo alemão vem sendo criticado por lentidão na vacinaçãoFoto: Oliver Berg/dpa/picture alliance

Os resultados apontam que a vencedora foi a social-democrata Malu Dreyer, que governa a Renânia-Palatinado desde 2013. No momento, ela lidera uma coalizão local com os verdes e o Partido Liberal Democrático. O Partido Social-Democrata (SPD) de Dreyer deve ficar com 35,7%, um pouco abaixo dos 36,2% de 2016. Seus parceiros de coalizão, por sua vez, devem ficar com porcentagens suficientes para manter a coalizão intacta e garantir mais um mandato para Dreyer.

Paralelamente, assim como ocorreu em Baden-Württemberg, os populistas da AfD perderam espaço neste pleito, caindo de 12,6% em 2016 para 8,3% nesta eleição.

Assim como Kretschmann, Dreyer é considerada uma política realista e conciliadora. Ela também é encarada como um das poucas figuras competitivas do SPD, que nas enquetes nacionais aparece com apenas 15% da preferência dos eleitores, atrás dos conservadores e dos verdes.  Para o SPD, o resultado é um sinal de que a tradicional legenda continua elegível para amplas parcelas da população, contanto que apresente as candidatas e candidatos adequados.

A importância nacional

As duas eleições de domingo vinham sendo encaradas como mais significativas em nível nacional do que regional, já que marcam a abertura do "ano da supereleição" de 2021, quando seis estados devem renovar seus parlamentos regionais e a Alemanha toda vai votar para escolher um novo Parlamento nacional e chefe de governo.

Todos os partidos esperam ganhar impulso nessas eleições estaduais antes do pleito para o Bundestag em 26 de setembro, uma data que tem enorme significado político, pois marcará a aposentadoria da chanceler federal Angela Merkel à frente do governo.

Os pleitos deste domingo também estavam sendo observados para testar se a CDU de Merkel poderia ter passado sem arranhões após três deputados da sigla terem se envolvido em escândalos nas últimas semanas. Além do ex-deputado Nikolas Löbel de Baden-Württemberg, um parlamentar da União Social Cristã (CSU), aliado da CDU, foi acusado de receber mais de 600 mil euros para intermediar a venda de máscaras contra covid-19. O caso deste deputado, Georg Nüsslein, foi considerado mais grave porque a venda de máscaras foi feita para dois ministérios e o governo da Baviera.

Ainda nesta semana, um terceiro escândalo eclodiu. O deputado democrata-cristão Mark Hauptmann, que representava a Turíngia no Parlamento federal, renunciou após ser acusado de receber indiretamente dinheiro do governo do Azerbaijão, que comprou espaço publicitário para promover turismo num pequeno jornal regional publicado pelo político. Nos últimos anos, Hauptmann atuou no Parlamento para fortalecer as relações entre a Alemanha e o isolado Azerbaijão, apesar do histórico de abuso dos direitos humanos na nação do Cáucaso.

Resultados deste domingo podem enfraquecer liderança de Armin Laschet na CDUFoto: Federico Gambarini/dpa/picture alliance

Além dos escândalos, o governo nacional liderado pela CDU e a chanceler federal Merkel vem sendo alvo de críticas crescentes por causa da lentidão em vacinar a população alemã. Até o momento, apenas 7,5% dos alemães receberam uma dose da vacina.

Pesquisas em Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado apontaram que apenas um terço dos eleitores locais estavam satisfeitos com a forma que a pandemia vem sendo combatida - e a maioria atribuiu a culpa ao governo federal, e não aos seus respectivos governos estaduais.

Alguns observadores políticos também apontavam que o resultado deste domingo poderia marcar o momento em que a CDU/CSU poderiam finalmente indicar quem será o candidato a chanceler da Alemanha pelo bloco. O resultado ruim deve enfraquecer a posição de Armin Laschet, atual presidente da CDU, que espera ser o candidato à chancelaria. Por outro lado, o mau resultado pode fortalecer a tentativa do governador da Baviera, Markus Söder, da CSU, de conquistar a indicação da aliança.

jps (ots)

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