CNA mantém maioria no Parlamento, mas perde eleitores. Pela primeira vez, legenda, que teve como maior ícone Nelson Mandela, não consegue alcançar 60% dos votos.
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Vinte e cinco anos após o fim do apartheid e o estabelecimento do Congresso Nacional Africano (CNA) como principal partido da África do Sul, a legenda conseguiu manter a maioria parlamentar, mas apresentou uma queda histórica de votos nas eleições deste ano, realizadas nesta quarta-feira (08/05).
Pela primeira vez, o partido, que teve como maior ícone Nelson Mandela, não consegue alcançar 60% dos votos. Após apuração das urnas de cerca de 95% dos distritos eleitorais, o CNA havia obtido pouco menos de 58% nesta sexta-feira (10/05). Nas últimas eleições, de 2014, o partido tinha conseguido mais de 62%. O anúncio dos resultados oficiais é previsto para este sábado.
O apoio cada vez menor para o CNA, que elegeu Cyril Ramaphosa como novo presidente do país há apenas um ano, representou, de certa forma, o sucesso de seus dois principais oponentes políticos, o Aliança Democrática (DA) e o Combatentes da Liberdade Econômica (EFF). A maior legenda da oposição, o liberal DA, porém, esperava um crescimento maior do que mostram os resultados. A agremiação chegou a cerca de 20%.
Na eleição de 2014, o DA obteve nível parecido: 22% dos votos. Seu carismático líder negro Mmusi Maimane liderou uma campanha eleitoral difícil neste ano, concentrando-se em um eleitorado multiétnico, na esperança de garantir mais adeptos. Ele mirava os eleitores do CNA que estão fartos da política corrupta de seu partido nos últimos dez anos, sob a liderança do ex-presidente Jacob Zuma, que renunciou no ano passado.
Mas alguns dos tradicionais eleitores brancos do DA mudaram seu voto para um velho mas ressurgente grupo ultraconservador: a Frente da Liberdade Plus (FF+). O partido obteve quase 3%, o que significa um crescimento, se comparado ao menos de 1% da última eleição.
Sithembile Mbete, da Universidade de Pretória, não está muito surpresa com isso. "Quando você olha para o crescimento deles a partir de uma perspectiva numérica, pode-se ver o quanto cresceram. Tem a ver com o aumento do nacionalismo branco globalmente ", disse ela, em entrevista à DW. Mbete acredita que isso mostra como raça ainda é um fator importante quando as pessoas vão às urnas.
"O DA perdeu parte de sua base central para partidos como o FF+, mas também ganhou alguns dos eleitores desiludidos do CNA. No entanto, eles não se beneficiaram do declínio do CNA, que beneficiou apenas o EFF", acrescenta. De acordo com Mbete, o DA esperava festejar as perdas do CNA. "Eles não o fizeram. Eles cresceram, mas não tiraram todas as vantagens disso."
Parece que o DA não é mais o lar político de muitos eleitores brancos, enquanto o partido também fracassou em atrair muito mais eleitores negros. É aí que o EFF entra em jogo; partido defensor da reforma agrária sem compensação para os agricultores brancos e que oferece uma oposição mais radical à política do CNA, denunciando a corrupção profundamente enraizada do partido governista.
O EFF pôde, assim, obter ganhos em comparação com cinco anos atrás, mas deve ficar com pouco mais de 10% – pouco diante dos 14% previsto por alguns antes da votação.
Há outro fator crucial a considerar: o comparecimento às urnas foi de 65%, em vez dos 72% previstos. Este é um sinal da desilusão dos eleitores, segundo analistas. Olhando para a sociedade desigual da África do Sul, o analista político Makhosini Mgitywa acredita que os eleitores sul-africanos podem ter sido influenciados pelos esforços do CNA para se redimir.
"O CNA elegeu um líder que não apenas fala sobre, mas também atua contra a corrupção", afirma. "As pessoas veem essas coisas e pensam: 'o CNA vai conseguir mudar'."
Mgitywa acredita que o partido governista ainda tem muito trabalho pela frente. "Agora a chave está com Cyril Ramaphosa e o ministério que ele vai nomear."
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Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Nelson Mandela. Até os 95 anos e carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), ele foi símbolo da nova África do Sul e de tolerância e paz para o mundo.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
Foto: AP
O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
Foto: Getty Images
Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
Foto: AP
Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
Foto: AP
Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
Foto: AP
Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
Foto: AP
Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
Foto: AP
Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
Foto: AP
Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
Foto: AP
Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
Foto: AP
Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.