Seguindo resultados preliminares, órgão eleitoral do país africano aponta vitória do MPLA, legenda há mais de 40 anos no poder. João Lourenço sucederá presidente José Eduardo dos Santos. Oposição fala em fraude.
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O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido que governa o país africano há mais de quatro décadas, venceu as eleições gerais com mais de 64% dos votos, segundo anunciou nesta quinta-feira (24/08) a comissão eleitoral angolana, levando em conta resultados preliminares.
Com o resultado, o candidato do MPLA à presidência, João Lourenço, que atualmente é ministro da Defesa do país, sucederá o autoritário presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979. O líder de 74 anos anunciou em fevereiro que não concorreria a um novo mandato.
Principal adversária do partido governista, a União Nacional para a Total Independência de Angola (Unita), liderada por Isaias Samakuva, ficou em segundo lugar no pleito, com 24,4% dos votos. Em seguida aparece Abel Chivukuvuku, da Casa-CE, com 8,5%, de acordo com a comissão eleitoral. Os números, segundo o órgão, correspondem à contagem de quase 64% das urnas.
A oposição chegou a classificar o resultado como fraudulento. Durante a coletiva de imprensa da comissão eleitoral para apresentação dos números, representantes da Unita e da Casa-CE disseram que os dados divergem daqueles que seus partidos encontraram em contagens paralelas próprias.
Cerca de 9,3 milhões de angolanos estavam inscritos para ir às urnas nesta quarta-feira. O pleito ocorreu de forma indireta: a população votou nos partidos que vão compor a nova Assembleia Nacional, formada por 220 assentos.
A Constituição angolana, alterada em 2010, estipula que o líder da legenda que vence as legislativas se torna automaticamente o presidente da República. O partido vitorioso também conquista a maioria absoluta das cadeiras do Parlamento.
Crise em Angola
O novo presidente enfrentará a difícil tarefa de combater uma grave crise econômica. Entre 2013 e 2016, a inflação disparou de 7,7% para 41,9% ao ano. O crescimento econômico caiu de 5,1% para 1,1%. A dívida pública subiu de 32,9% para 65,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
A crise foi agravada pela queda dos preços do petróleo em 2013, levando os investimentos do governo a caírem 60%. Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África subsaariana e tem uma economia quase exclusivamente baseada na exportação da commodity – a produção média diária de 1,8 milhão de barris representa quase 70% dos investimentos estatais e 95% das exportações.
Governado pelo MPLA desde a independência de Portugal, em 1975, o país vive ainda quatro décadas de corrupção e nepotismo. No outro extremo, a maioria da população angolana vive com menos de 1 dólar por dia e não dispõe de serviços básicos, como água e esgoto. Cerca de 1 milhão de crianças está fora do sistema de ensino.
EK/afp/efe/lusa/rtr/dw
Líderes africanos que se perpetuam no poder
Para muitos líderes africanos, dois mandatos no poder não são suficientes. Por isso, muitos alteraram as constituições dos seus países. Parecem não se deixar intimidar pela queda de Blaise Compaoré no Burkina Faso.
Foto: AFP/Getty Images/Sia Kambou
Robert Mugabe - Zimbabué
Robert Mugabe, com 90 anos, é considerado o mais antigo chefe de Estado de África. Mugabe foi eleito primeiro-ministro em 1980 e sete anos mais tarde tornou-se Presidente. Inicialmente era visto como um combatente da liberdade, mas, entretanto, o seu regime conduziu o país a uma crise alimentar e financeira. No ano passado, Mugabe mudou a Constituição para poder governar até completar 97 anos.
Foto: Getty Images/Afp/Jekesai Njikizana
Teodoro Obiang - Guiné Equatorial
Nenhum chefe de Estado africano governa há mais tempo do que ele. O líder de 72 anos assumiu o poder no país rico em petróleo em 1979. Obiang mudou a Constituição da Guiné Equatorial pelo menos três vezes: em 1982, em 1991 e mais recentemente em 2011 através de um referendo. Embora não tenha alterado o limite de dois mandatos presidenciais de sete anos, removeu o limite de idade de 75 anos.
Foto: AP
José Eduardo dos Santos - Angola
O Presidente angolano governa há 35 anos. Assumiu o poder após a morte do primeiro Presidente do país, Agostinho Neto. A nova Constituição angolana, alterada em 2010, estipula que o líder do partido que vence as legislativas torna-se automaticamente Presidente da República. Por isso, José Eduardo dos Santos, de 72 anos, líder do MPLA, pode permanecer no poder por muitos mais anos.
Foto: picture-alliance/dpa
Paul Biya - Camarões
Paul Biya governa este país no centro-oeste de África desde 1982. A anterior Constituição do país teria impedido que concorresse à reeleição. Em 2008, o Presidente mudou as leis e removeu todas as restrições aos limites de mandato, apesar dos protestos maciços da população. A sua reeleição em 2011 não foi uma surpresa. A oposição e os críticos de Paul Biya acusam-no de fraude eleitoral.
Foto: Patrick Kovarik/AFP/Getty Images
Yoweri Museveni - Uganda
Yoweri Museveni chegou ao poder em 1986, pondo fim à ditadura de Iddi Amin no Uganda. Mas depois de governar o país do leste africano durante 28 anos e de várias alterações constitucionais, Museveni passou a ser visto como um ditador. Em 2005, pôs fim aos limites de mandato, embora ele próprio tenha um dia declarado que “nenhum chefe de Estado africano deve ficar no poder mais de dez anos.”
Foto: picture alliance/empics
Mswati III - Suazilândia
Mswati III chegou ao poder sem alterações constitucionais simplesmente porque a Suazilândia não tem uma Constituição. Mswati III é o último rei absoluto de África. Em 1986, quanto tinha 18 anos, assumiu o trono após a morte do pai, o rei Sobhuza II. Desde então tem governado o país por decreto e recusa qualquer forma de democracia. A Suazilândia continua a ser um dos países mais pobres do mundo.
Foto: Ishara S.KODIKARA/AFP/GettyImages
Idriss Deby - Chade
Nascido em 1952, Idriss Deby Itno começou a sua carreira como membro de um grupo rebelde. Em 1990, derrubou o governo do seu ex-companheiro Hissène Habré. Em 1991, foi nomeado Presidente do Chade. Alterou a Constituição em 2004 para poder permanecer no cargo. Os rebeldes tentaram em vão derrubar o seu Governo em 2006 e 2008. Idriss Deby Itno foi reeleito para o quarto mandato em 2011.
Foto: Thierry Charlier/AFP/Getty Images
Joseph Kabila - República Democrática do Congo
Em comparação com os seus colegas africanos, Joseph Kabila, de 43 anos, ainda é um jovem chefe de Estado e não ocupa o cargo há tanto tempo. Assumiu a presidência da República Democrática do Congo em 2001, após o assassinato do seu pai, o Presidente Laurent Kabila. Joseph Kabila foi eleito pela primeira vez em 2006. Entretanto, já propôs uma revisão da Constituição para poder continuar no poder.