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PolíticaFinlândia

Partido Verde da Finlândia decide apoiar energia nuclear

25 de maio de 2022

Em mudança histórica, legenda conclui que reatores atômicos são importantes para reduzir a emissão de gases do efeito estufa e combater o aquecimento global.

Cabos de transmissão com usina atômica ao fundo
Energia nuclear responde por cerca de 35% da eletricidade consumida na FinlândiaFoto: Stefan Puchner/dpa/picture alliance

O Partido Verde da Finlândia decidiu incluir em seu programa partidário a defesa da energia nuclear como uma fonte de energia sustentável e importante para o combate ao aquecimento global.

A legenda quer reformas legislativas para agilizar o processo de aprovação de pequenos reatores modulares, menores do que uma usina nuclear tradicional e considerados mais seguros, e estender a licença de operação dos reatores em atividade.

Tea Törmänen, integrante da legenda, afirmou ao site Alliance for Science que se trata do primeiro Partido Verde do mundo a abandonar a bandeira antinuclear. Segundo ela, a decisão significava "um momento histórico na história do movimento verde".

A reorientação sobre o tema foi sacramentada no congresso nacional do partido, realizado no último final de semana na cidade de Joensuu, que reuniu 400 membros da legenda.

O Partido Verde da Finlândia integra a coalizão que governo o país e comanda os ministérios das Relações Exteriores, do Interior e do Meio Ambiente e Clima, além de ter 20 representantes no Parlamento.

Atualmente, cerca de 35% da energia da Finlândia é nuclear. A pesquisa de opinião mais recente sobre o tema, realizada em 2021, mostrou que 74% dos finlandeses apoiavam a energia nuclear.

Por que a legenda decidiu defender a energia nuclear

O Partido Verde finlandês agora considera que a energia nuclear é uma ferramenta importante para reduzir de forma rápida a emissão de gases que provocam o efeito estufa, que deve ser utilizada ao lado de fontes renováveis como energia eólica e solar.

A reorientação a distancia das origens do ambientalismo verde dos anos 1970, que tinha a bandeira antinuclear no centro de sua plataforma. 

A mudança de posicionamento interno do partido foi incentivada por meio de um grupo interno da legenda que busca promover decisões políticas baseadas no conhecimento científico e teve também o apoio da juventude da legenda.

Em 2017, alguns candidatos do Partido Verde divergiram da orientação oficial e publicaram um artigo no qual diziam que a humanidade não poderia mais se dar a luxo de se opor à energia nuclear.

Em novembro de 2020, a então ministra do Interior finlandesa, Maria Ohisalo, filiada ao Partido Verde, afirmou em uma entrevista que a legenda não iria mais excluir a energia nuclear como uma alternativa para reduzir o uso de combustíveis fósseis.

Em dezembro de 2021, o ramo finlandês do grupo de jovens Fridays For Future divulgou um comunicado afirmando que a oposição à energia nuclear dificulta a já complexa tarefa de enfrentar o aquecimento global, e que a energia nuclear era uma aliada para alcançar a meta do Acordo de Paris de restringir o aquecimento a 1,5 ºC acima do período pré-industrial.

A decisão do partido também foi tomada diante de dificuldades crescentes com a Rússia, com quem o país tem uma fronteira de 1.340 quilômetros. Neste mês, Moscou cortou o fornecimento de eletricidade e de gás natural para a Finlândia, sob o argumento de problemas no pagamento.

A Finlândia, juntamente com a vizinha Suécia, abandonou neste mês semana seu histórico de não-alinhamento militar e solicitou adesão à Otan depois que o apoio público e político à aliança militar disparou com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

União Europeia deu status verde para nuclear

O debate sobre o uso de energia nuclear também tem ocupado a formulação de políticas da União Europeia. Em fevereiro, a Comissão Europeia aprovou um projeto que classifica a energia nuclear como fonte de energia sustentável, abrindo espaço para investimentos verdes nesse setor.

A iniciativa teve apoio de um bloco de países favoráveis à energia nuclear comandado pela França, do qual fazem parte também Finlândia, Polônia, Hungria, República Tcheca, Bulgária e Eslováquia. Esse grupo derrotou o bloco antinuclear, que é liderado pela Alemanha e composto também por Áustria, Dinamarca e Luxemburgo.

Após a decisão da Comissão Europeia, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou o "renascimento da energia nuclear" no país e a construção de seis novas usinas nucleares até 2050. A França produz 70% de sua energia em usinas nucleares e é o segundo maior gerador de energia nuclear do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. 

Por outro lado, a Alemanha, principal economia da UE, busca cumprir seu plano de desativar todas as suas usinas nucleares até o final deste ano. A decisão foi tomada em 2011, no governo Angela Merkel, semanas após a catástrofe na usina atômica japonesa de Fukushima, e levou ao desligamento reatores nucleares antes do fim de sua vida útil, o que obrigou o governo a dar pesadas compensações financeiras às operadoras.

Berlim está pressionada pelas metas de redução do uso do carvão no curto prazo assim como pela busca de fontes alternativas ao gás natural russo. O governo alemão, porém, mantém o plano de se livrar da energia nuclear até o final do ano, um tema de alta sensibilidade política no país.

Em março, a Bélgica anunciou que iria adiar até 2035 o abandono da energia nuclear no país, que inicialmente estava prevista para ocorrer 2025. O anúncio foi feito em meio à incerteza causada pelo aumento de preço da energia provocado pela invasão russa da Ucrânia.

bl (ots)