Partidos e movimentos realizam atos contra Bolsonaro
2 de outubro de 2021
Organizadores de manifestações de oposição ao governo, em sua maioria de centro-esquerda e esquerda, tentam atrair neste sábado também líderes e apoiadores de legendas à direita.
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Partidos e movimentos de oposição ao governo Jair Bolsonaro realizam neste sábado (02/10) em diversas cidades do país protestos pelo impeachment do presidente e em defesa da democracia e de políticas públicas que reduzam a fome e a pobreza no país, agravadas pela pandemia.
É o sexto ato organizado por setores de oposição contra Bolsonaro desde maio, quando esses movimentos e partidos decidiram voltar às ruas após um ano evitando manifestações por causa da pandemia de covid-19.
Será também o primeiro ato liderado por esses setores que tentará reunir um apoio significativo de legendas e movmentos de centro-direita e direita, em uma tentativa de construção de uma frente ampla para resistir a investidas de Bolsonaro contra instituições democráticas e a legitimidade das urnas eletrônicas.
No dia 12 de setembro, grupos de direita como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua convocaram atos e tentaram atrair setores da esquerda, mas não encheram as ruas. Naquela oportunidade, não houve envolvimento direto de partidos na organização dos protestos, e esquerdistas evitaram engrossar atos que tinham originalmente o mote "Nem Bolsonaro, nem Lula" – que foi retirado pelo MBL na véspera, mas apareceu nas ruas mesmo assim.
Os atos deste sábado deverão sinalizar se a tentativa de colocar esquerda e direita no mesmo palanque contra Bolsonaro, agora com o apoio dos partidos, se mostrará viável ou apenas um projeto distante.
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Organização ampliada
Participam da organização dos atos deste sábado diversos movimentos sociais e entidades que integram a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Brasileira de Mulheres (UBM), as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e o fórum Direitos Já, composto por representantes de 19 legendas e diversas entidades da sociedade civil.
Na seara partidária, participam ativamente da organização dos atos deste sábado nove partidos, predominantemente de esquerda e centro-esquerda: PT, PSOL, PC do B, PSB, Cidadania, PV, Rede, PDT e Solidariedade. Contudo, são esperados também líderes de partido de centro-direita e direita que não apoiam o impeachment mas fazem oposição a Bolsonaro, como do PSDB, MDB e PSD. O MBL e o Vem Pra Rua não participarão.
Em São Paulo, por exemplo, os organizadores contam com a presença na Avenida Paulista de representantes de PSD, PSDB, PSL, Podemos e Novo.
Os organizadores preveem a organização de atos em 305 cidades de 18 países neste sábado, sendo o principal na Avenida Paulista, que começa às 13h. Entre os políticos que devem discursar na capital paulista, estão Ciro Gomes (PDT), Alessandro Vieira (Cidadania), Randolfe Rodrigues (Rede), Tabata Amaral (PSB), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e Orlando Silva (PC do B).
bl (ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.