"Partygate" aponta "grave falha" na gestão de Boris Johnson
31 de janeiro de 2022
Primeiro-ministro britânico é investigado internamente e pela polícia por ter promovido festas durante os bloqueios impostos pelo próprio governo para conter a disseminação do coronavírus.
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Um relatório interno do governo britânico apelidado de "Partygate" divulgado nesta segunda-feira (31/01) diz que as festas promovidas pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, e membros de seu gabinete durante bloqueios impostos pela pandemia de covid-19 representaram uma "grave falha".
Os eventos vieram à tona a partir de dezembro de 2021, desgastando a imagem de Johnson, que vem sendo pressionado a renunciar inclusive por membros do próprio Partido Conservador. Nesta segunda-feira, ele se desculpou no Parlamento.
A responsável pelo relatório, Sue Gray, concluiu que houve "falhas de liderança e julgamento" por parte do governo e "alguns dos eventos não deveriam ter ocorrido".
Após a divulgação do relatório, a polícia britânica confirmou que está investigando 12 festas realizadas em oito datas ao longo de 2020 e 2021, por potencialmente terem violado bloqueios impostos pelo próprio governo britânico para conter o novo coronavírus.
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Críticas no relatório
Como a investigação policial ainda está em andamento, o relatório interno não especifica que regulamentos foram violados. No entanto, Gray fez algumas observações duras e críticas no documento de 12 páginas.
"Houve falhas de liderança e discernimento por diferentes elementos do Número 10 [da Downing Street, em Londres, gabinete do primeiro-ministro] e do Gabinete [governo] em momentos diferentes. No contexto da pandemia, quando o governo pedia aos cidadãos que aceitassem restrições profundas nas suas vidas, alguns dos comportamentos [...] são difíceis de justificar."
"Alguns dos eventos não deveriam ter sido permitidos. Outros eventos não deveriam ter sido autorizados a ocorrer como ocorreram", censura o texto, ressaltando também "o consumo excessivo de álcool" naquele que é um local de trabalho.
Segundo o relatório, "pelo menos algumas das reuniões em causa representam uma falha grave em cumprir não apenas os altos padrões esperados daqueles que trabalham no núcleo do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica na época".
Pedido de desculpas
Falando ao Parlamento na tarde desta segunda-feira, Johnson pediu desculpas; "Lamento pelas coisas que simplesmente não acertamos e pela forma como este assunto foi tratado. Não adianta dizer isso ou aquilo, estava nas regras.
"Este é um momento em que devemos nos olhar no espelho e aprender. Eu percebo [o problema] e vou corrigi-lo", prometeu. Apesar de reivindicações veementes, Johnson se recusa a renunciar. É necessário que 54 deputados entreguem "cartas de desconfiança" para ativar uma moção de censura interna.
O fato de o relatório interno omitir menções a possíveis crimes foi visto por alguns como uma oportunidade para o premiê conservador de 57 anos "respirar”.
A vice-líder do Partido Trabalhista, de oposição, Angela Rayner, escreveu no Twitter, antes da publicação do documento, que o povo nas ruas sabe que Johnson quebrou as regras: "Ele fez as regras, ele quebrou as regras, ele é inapto para o cargo."
Investigação policial
A investigação policial sobre os 12 incidentes potencialmente criminais teve início após inúmeras alegações e queixas de que a polícia se recusara a analisar os casos anteriormente.
Entre os eventos sob investigação da polícia estão um nos alojamentos privados de Johnson, em 13 de novembro de 2020, quando o assessor Dominic Cummings se demitiu; uma festa de aniversário de Johnson em junho de 2020; e dois encontros na véspera do funeral do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª, quando o Reino Unido estava em luto oficial.
A polícia recebeu para análise mais de 300 imagens e 500 páginas de informações. Interrogatórios ainda estão em andamento.
"Se, após uma investigação, os agentes acreditarem que é apropriado, porque os regulamentos da covid foram violados sem uma justificação razoável, será emitida uma multa. Uma vez que a multa seja paga, o assunto é considerado encerrado", declarou a polícia.
O "Partygate" causou uma onda de indignação entre os britânicos, impedidos de se encontrarem com amigos e familiares durante meses em 2020 e 2021 para conter a propagação da covid-19. Dezenas de milhares de cidadãos foram multados pela polícia por desrespeitarem as regras.
Sondagens recentes mostram uma queda na popularidade de Johnson, eleito em 2019 com uma maioria absoluta histórica graças à promessa de concretizar o Brexit.
le/av (Lusa, Reuters, AP, DPA, AFP)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine