Jornal revela que Alfred Bauer, ex-diretor do festival de Berlim, atuou em máquina de propaganda nazista chefiada por Joseph Goebbels. Premiação que levava seu nome é suspensa pelos organizadores.
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Os organizadores do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, decidiram nesta sexta-feira (31/01) suspender o prêmio que leva o nome de Alfred Bauer, um dos fundadores do evento, após revelações da imprensa de que ele teria sido uma das figuras centrais na máquina de propaganda do regime nazista.
Bauer dirigiu a Berlinale entre 1951 e 1976 e ajudou a fazer do festival uma das maiores atrações da antiga Berlim Ocidental, até se tornar um dos principais eventos cinematográficos da Europa. Após sua morte em 1986, o festival o homenageou com uma premiação com seu nome, dedicada a "filmes de longa-metragem que abram novas perspectivas no campo da arte cinematográfica".
Trata-se de uma das premiações do Urso de Prata, que incluem também as de melhor diretor, ator e atriz, entregues juntamente com o Urso de Ouro, destinado aos melhores filmes de longa e curta-metragem.
Na quarta-feira, o jornal alemão Die Zeit revelou estudos afirmando que Bauer tinha um posto de alto escalão numa repartição cinematográfica estabelecida pelo chefe de propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels, em 1942.
Ao pesquisar os arquivos nacionais, o jornal encontrou informações de que Bauer seria um "ávido membro da SA" – a ala paramilitar nazista Sturmabteilung. O fundador da Berlinale teria exercido um papel dominante na vigilância de atores, produtores e outros membros da indústria cinematográfica da época.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Bauer tentou apagar os rastros de seu passado nazista e chegou até a alegar que teria resistido ao regime. Mais tarde, seis anos após a queda do nazismo, ele foi nomeado diretor da Berlinale, ajudando a elevar o festival ao nível dos de Cannes ou Veneza.
Os organizadores do festival reagiram com rapidez e divulgaram um comunicado afirmando que a reportagem "lança nova luz" sobre o papel de Bauer na política cinematográfica nazista, e que não tinham conhecimento da posição importante do fundador da Berlinale naquele período. O festival comunicou a suspensão imediata da premiação.
"Saudamos o estudo e sua publicação no Die Zeit, e aproveitaremos essa oportunidade para iniciar uma pesquisa aprofundada sobre a história do festival, com o apoio de especialistas externos", declararam os organizadores em nota publicada na página da Berlinale no Facebook.
A ministra alemã da Cultura, Monika Grütters, elogiou a forma como os responsáveis lidaram com o caso: "Se essas conclusões, que são novas para nós, forem substanciais, é óbvio que o nome de Alfred Bauer não será mais usado em conexão com a Berlinale."
A partir de 2020, a Berlinale será dirigida pelo italiano Carlo Chatrian. O longa Todos os mortos, dos brasileiros Caetano Gotardo e Marco Dutra, concorre na mostra competitiva desta 70ª edição, que se realiza de 20 de fevereiro a 1º de março.
A Berlinale chega a sua 70ª edição com nova direção, novas locações e novas perspectivas. Ao mesmo tempo em que promete inovações, o maior festival de cinema da Alemanha apresentará também clássicos do cinema.
Foto: picture-alliance/Pop-Eye/C. Kratsch
Novos nomes à frente do festival
Após a renúncia de Dieter Kosslick no ano passado, a 70ª edição da Berlinale começa com uma nova dupla de responsáveis: o italiano Carlo Chatrian, diretor artístico, e Marietta Rissenbeek, diretora-executiva. Neste ano, a Berlinale acontece de 20 de fevereiro a 1º de março.
Foto: Reuters/A. Hilse
Novos locais no centro de Berlim
Devido ao fechamento de um grande cinema multiplex na praça Potsdamer Platz, na capital alemã, foi necessário procurar uma nova locação para o Festival de Cinema de Berlim. O Cubix, na Alexanderplatz, antes um local secundário do festival, agora é o principal endereço da Berlinale.
Foto: DW/A. Gollmer
Filme de abertura
O festival abre com o filme canadense-irlandês "My Salinger year". O trabalho do diretor Philippe Falardeau conta a história de uma jovem escritora que trabalha como assistente de uma agente literária de sucesso e que responde a correspondências de fãs de um autor cult. A atriz americana Sigourney Weaver, que interpreta a agente literária, é aguardada em Berlim para a abertura da Berlinale.
Foto: micro-scope
Presidente do júri
O ator britânico Jeremy Irons será o presidente do júri internacional neste ano. Ao fim do festival, ele e sua equipe decidirão quem receberá o cobiçado Urso de Ouro. Oscar de melhor ator em 1990 por "Reverso da fortuna", Irons deu voz ao personagem Scar na versão original de "Rei Leão".
Foto: picture-alliance/dpa/B. Smith
Os brasileiros
O longa "Todos os mortos", dos brasileiros Caetano Gotardo e Marco Dutra, coprodução franco-brasileira, concorrerá na mostra competitiva. Na seção Panorama, estão "Cidade pássaro", de Matias Mariani; "Nardjes A.", de Karim Aïnouz; "O reflexo do lago", de Fernando Segtowick; e "Vento seco", de Daniel Nolasco. Outros 11 filmes do Brasil participam de mostras paralelas do festival.
Foto: Dezenove Som e Imagens/Hélène Louvart
Nova seção competitiva
Além da competição principal pelos ursos, foi criada em 2020 a seção competitiva Encontros. Quinze filmes, incluindo "Gunda" (foto), devem mostrar "a vitalidade do cinema". "Cada filme apresenta um jeito diferente de interpretar a história do cinema: autobiográfico, íntimo, político, social, filosófico, épico, surreal", diz o festival em nota.
Foto: Egil Haskjold Larsen/Sant & Usant
Fora de competição
A nova direção do festival acabou com a categoria "hors concours", que antes integrava a seção competitiva. Os filmes fora de competição passarão a ser mostrados numa seção especial. O primeiro convidado de destaque da Gala Especial da Berlinale será "Pinóquio", de Matteo Garrone, com Roberto Benigni.
Foto: Greta De Lazzaris
Cinema alemão em foco
O cinema alemão continuará desempenhando um papel importante no festival. Entre os diversos filmes apresentados na série Perspectiva Cinema Alemão, está o longa-metragem "Schlaf" (Sono), estrelado por Sandra Hüller.
Foto: Marius von Felbert/Junafilm
Mulheres na direção
Enquanto cresce a quantidade de mulheres por trás das câmeras, como o maior festival de cinema da Alemanha se posiciona no debate sobre gênero? Essa e outras questões relacionadas ao tema são discutidas nas principais mostras internacionais de cinema. A Berlinale mostra, entre outros, "Charlatan", novo filme da cineasta polonesa Agnieszka Holland.
Foto: Marlene Film Production
Homenagem a Helen Mirren
A atriz britânica Helen Mirren receberá o Urso de Ouro honorário pelo conjunto de sua obra. Oriunda do teatro, em que também fez grande sucesso, ela é conhecida pelos seus êxitos em Hollywood. Entre os vários prêmios de sua longa carreira cinematográfica, está o Oscar de melhor atriz em 2007, por sua atuação em "A rainha".
Foto: picture-alliance/newscom/J. Ruymen
King Vidor na Retrospectiva
No centro da seção Retrospectiva está o diretor americano King Vidor (à esq., com Audrey Hepburn e Jeremy Brett durante a filmagem de "Guerra e paz" em 1955). O texano (1894-1982) começou na era do cinema mudo, e em 1928 criou uma obra épica com "A turba". Contudo, também se afirmou no filme sonoro com obras-primas como "Duelo ao sol" (1947) e "Homem sem rumo" (1955).
Foto: picture-alliance/dpa
Clássico de 1924 restaurado
Um ponto alto para os fãs de cinema acontecerá em 21 de fevereiro, quando será apresentado o clássico do cinema mudo alemão "Figuras de cera", de 1924. O famoso filme do diretor Paul Leni foi restaurado digitalmente e será exibido, com música recém-gravada, no Friedrichstadt Palast.